No dia 23 de maio a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) promoveu, em Belo Horizonte, vento comemorativo pelo Dia da Indústria. No local, o governador Romeu Zema tratou de atacar, mais uma vez, a Cemig. “Nos últimos anos, eu gosto de mencionar, a nossa empresa de energia elétrica, a Cemig, serviu mais como um entrave ao desenvolvimento, do que agente propulsor”, disse.
Crítico contumaz da maior empresa pública de Minas, Zema não costuma ser tão contundente contra a iniciativa privada. Recordemos.
Em 12 de fevereiro, durante encontro com 35 dos 53 deputados federais mineiros, após os parlamentares cobrarem rigorosa punição à Vale pelo crime em Brumadinho, Zema defendeu a empresa e classificou o episódio como um “incidente”. E não parou por aí. O governador ainda criticou o Ministério Público (MP) por cobrar auxílio financeiro imediato às vítimas do rompimento da barragem. “A Promotoria
Pública tem, de certa maneira, forçado a Vale a ficar pagando uma bolsa auxílio, o que parece não fazer “sentido”, afirmou.
A discrepância entre os posicionamentos é sintomática. Ao desqualificar publicamente a empresa que administra, além de atacar os próprios interesses do Estado, Zema mostra profundo desconhecimento sobre a Cemig e o povo que deveria representar. Isso, para um governador, é sem duvida “novo”.
E preocupante. Nesse contexto, tentaremos esclarecer alguns pontos para o “administrador”. No quesito financeiro, a Cemig contribui forte e ativamente para os cofres públicos por meio dos dividendos anuais distribuídos. Só em 2018, o lucro líquido consolidado da empresa atingiu R$ 1,7 bilhão.
Atualmente, a estatal mineira repassa 50% desse valor para os acionistas. Em outros períodos, essevalor foi ainda maior. E, caso Zema não acredite, grande parte dos problemas que a Cemig enfrenta hoje nasceram ali: na gestão. De 2011 a 2014, por exemplo, sob a batuta da dobradinha Aécio/Anastasia, a Cemig lucrou R$ 12,04 bilhões e distribuiu, em dividendos, R$ 12,06 bilhões.
Isso mesmo: zero para o caixa da empresa e mais do que lucro apurado para o bolso dos acionistas.
Naquele mesmo período, a Diretoria de Novos Negócios da estatal estava nas mãos da Andrade Gutierres (AG) e a Cemig optou por fazer aquisições e investimentos com dinheiro emprestado no mercado, como no caso da Light e da Usina de Santo Antônio, entre outros.
Era a “gestão privada” da AG na Cemig ditando os rumos e definindo as políticas da Companhia, enquanto o Estado, mesmo sendo acionista majoritário, abdicava do seu poder decisório. O advogado Luiz Tito, em coluna publicada no jornal O Tempo do dia 28, fez um resgate do que significa a Cemig para Minas Gerais.
No texto “Não se vende uma história”, ele destacou que, ao contrário do que afirma Zema, a Cemig é uma importante matriz do nosso desenvolvimento. Tito destacou que, com o apoio da Cemig, “se viabilizaram grandes investimentos industriais, como a Fiat, Usiminas, Belgo, Mannesman”. Também destacou que a Cemig é fundamental na eletrificação rural, interiorização da energia, no desenvolvimento de novas tecnologias e grande formadora de quadros técnicos, entre outros pontos.
O Sindieletro, no entanto, vai além. A nossa empresa, aquela concebida por Juscelino Kubitschek em 1952, também é responsável por levar dignidade e cidadania a milhares de pessoas através do Luz para
Todos e da Tarifa Social, entre outros programas para o povo mineiro.
Sabemos que existem problemas na empresa e por isso lutamos, há décadas, pelas melhorias necessárias para o crescimento da Cemig como empresa pública fortalecida, geradora de empregos e serviços de qualidade. E temos conhecimento, também, de que o ataque do governador não é desmedido.
É para criar as bases para a privatização da Cemig dentro do Regime de Recuperação Fiscal que virou obsessão – ou imposição federal - a um governo estadual submisso e achacado perante a União. O que Zema não entende é que a classe trabalhadora, o povo mineiro e a sociedade civil organizada não aceitarão, calados, as propostas entreguistas do seu governo. Minas não está à venda, governador!
Pare de fazer campanha contra seu próprio Estado e dialogue com o povo, com os trabalhadores e trabalhadoras, com o parlamento. Não se viu, até hoje, o governo falar uma linha sequer sobre o encontro de contas entre Minas e o Governo Federal na lei Kandir, medida que pode resolver os problemas fiscais do Estado.
Minas merece um governo Estadual forte e independente. Não uma sucursal submissa às propostas de Bolsonaro.
(Foto: Sebastião Júnior - Fiemg)