Com dificuldade em obter apoio para privatizar a Cemig, que é altamente lucrativa, Zema investe em ataques cada vez mais agressivos à empresa. É uma tática de venda, pensada e praticada por um governador que vem de uma bem sucedida carreira de comerciante do varejo.
Zema começou sua campanha de desgaste da Cemig em agosto e nesta semana elevou o tom das críticas. Durante evento em Santa Rita do Sapucaí, ele acusou a companhia de não atender à indústria mineira e de dificultar a vida de produtores de energia fotovoltaica no norte do estado. O governador voltou a questionar se a empresa “está ajudando ou atrapalhando o desenvolvimento do nosso estado”.
As falas de Zema acompanham a proposta do seu partido Novo de privatizar estatais. Ele foi eleito com uma plataforma liberal e defende a desestatização com convicção ideológica. Mas, no caso da Cemig, também há motivações administrativas: a venda da energética é uma exigência do RRF, o plano de recuperação fiscal que o estado negocia com a União para sair do sufoco.
A Constituição mineira exige para venda da Cemig a aprovação popular por meio de plebiscito. Ou maioria de três quintos na Assembleia para derrubar tal exigência. Não é uma tarefa fácil. A estatal tem a admiração dos mineiros e uma participação de relevo no desenvolvimento do estado. Daí o esforço para desqualificá-la.
O governador vem escalando no seus ataques à empresa para quebrar a sua aura, torná-la uma empresa como outra qualquer, portanto privatizável. Mais: ao acusá-la de não prestar bons serviços, Zema está mostrando ao público que o Estado não serve para administrar negócios. A “fritura” da imagem da Cemig é parte indispensável e essencial do marketing de privatização da empresa. Há que se mostrar ao público que a empresa serviria melhor à sociedade se entregue à iniciativa privada. E nunca se deve esquecer: Zema é um empresário do varejo.
Se Zema achasse mesmo que a Cemig não está trabalhando bem ou é mal administrada, bastaria ele trocar o seu comando. Do presidente aos diretores, toda a cúpula da estatal é nomeada pelo governador. Zema se comporta como o dono do bar que reclama da cerveja pouco gelada como se não fosse o responsável pelo armazenamento da bebida. Mas é como dissemos, a privatização é para o governador e o Novo uma questão de princípio. Inegociável. Não é por ocaso que o secretário da desestatização do governo Bolsonaro é um novista mineiro, Salim Mattar, aliás um parceirão de Zema.
“É o primeiro governador que tenta manchar a imagem da empresa”, ressalta o coordenador-geral do Sindieletro (sindicato dos funcionários), Jefferson Silva. “Nos governos anteriores, independentemente do partido, a Cemig era tratada como a grande empresa de Minas e Romeu Zema, em seu discurso, tenta transformá-la em ineficiente. Mas, como pode ser ineficiente uma empresa que atende a todos os indicadores do marco regulatório do setor elétrico e não só paga as suas contas como gera lucro para o governo?”, argumenta Silva.
No mês passado a Cemig anunciou um lucro líquido de R$ 2,11 bilhões no 2º trimestre do ano e um lucro acumulado de R$ 4,2 bilhões nos últimos doze meses. A respeito da distribuição de energia fotovoltaica, o presidente da Cemig, Cledorvino Belini, divulgou em junho investimento de R$ 300 milhões em geração e distribuição de energia solar no Norte de Minas. O aporte se destinaria principalmente a linhas de transmissão para entregar a energia produzida por painéis na região.
O site Os Novos Inconfidentes procurou a Cemig para responder ou se posicionar sobre as críticas e acusações do governador à empresa, mas não obteve nenhum retorno até a edição desta matéria. O que é no mínimo curioso.
Fonte: Blog A Mosqueteira, com reportagem de Mariana Gonçalves