Cidadão Zé Geraldo: 40 e poucos anos de história e estradas é o título da biografia lançada em março, em live com a presença do artista mineiro, que em 2019 lançou o seu 17º álbum solo, Hey, Zé!. Aos 77 anos, completados em dezembro, José Geraldo Juste, o Zé Geraldo, contou que ainda nos anos 1980 pensou em parar a carreira musical, em que mergulhou deixando para trás uma “bem sucedida” vida de executivo. “No início dos anos 80, quando começou o jabá, eu fui ficando de lado, eu era o último da fila, sempre”, lembra.
Um divisor de águas, recorda o cantor, foi uma sequência de apresentações em meados daquela década no Sesc Pompeia, em São Paulo, onde ele “não tinha público”, segundo os produtores lhe diziam. “A fila dava voltas. Eu perguntei pro segurança o que era aquilo e ele disse que estavam lá pra me ouvir. Eu desabei”, conta Zé Geraldo. “Minha carreira tinha tudo pra não dar certo. Quando descobri como eu era querido, mudou minha vida, acalmou meu espírito. (…) Três dias de casa lotada. Eu parei é de fumar, fiquei oito anos sem beber, recuperei minha vida, minha família, meus amigos, minha história como músico.”
“Se não me tocar, não gravo”
Com 250 páginas e 11 capítulos, o livro foi escrito pelo professor Valdir Cechinel Filho, reitor da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), no litoral norte de Santa Catarina. Tem prefácio de Renato Teixeira e depoimentos de vários músicos, como Chico Lobo, Kleiton Ramil e Zeca Baleiro. Traz ainda 20 musicas de Zé Geraldo cifradas pelo cantor e compositor capixaba Max Gasperazzo. E várias histórias, como a do garçom de churrascaria que o confundiu com Zeca Pagodinho e sua “carreira” de futebolista – em uma seleção de masters. O trabalho pode ser encontrado na editora Univali e na Amazon.
Cechinel conta que era um beatlemaniaco cabeludo quando, aos 17 anos, em 1979, viu Zé Geraldo no programa do Chacrinha cantando Cidadão (Lúcio Barbosa), uma de suas músicas mais conhecidas, de seu primeiro álbum, lançado naquele ano. “Aquela canção me tocou profundamente. Dali em diante eu virei fã”, lembra. Com o tempo, virou também amigo – e parceiro musical em, por enquanto, três canções. O autor destaca a sinceridade a obra do cantor, o que é confirmado pelo próprio Zé Geraldo mais adiante: “Se a música não tocar, não gravo, cara”. Na live, ele cantou O Dom da Vida e Senhorita, outro hit.
Ainda existe um certo desprezo da mídia por seu trabalho, avalia Zé Geraldo. “As televisões só lembram de mim quando alguém dá o cano”, diz. “A partir do momento que a mídia deu as costas pra mim foi quando eu descobri como eu era querido. Larguei minha carreira de executivo, com duas filhas pequenas, para viver o sonho da música. Estou passando pelo pomar, colhendo as frutas que eu plantei, cuidei. (…) Virei as costas para eles também. Atravessei esse longo deserto.” Com seus rocks rurais e baladas que embalam crítica social e filosofia de vida.
Por Vitor Nuzzi, da RBA