Vigília pela vida, 54 dias de greve e mais: nossa luta incansável por saúde e segurança na Cemig ao longo dos anos
Não é de hoje que a gestão da Cemig brada um discurso e pratica outro. Com as lutas históricas do Sindieletro em mente, vamos para mais uma batalha pela vida dos eletricitários
A defesa da vida e a luta por melhores condições de trabalho para os eletricitários é bandeira histórica do Sindieletro que, ao longo de décadas, vem realizando sucessivas mobilizações para garantir um ambiente de trabalho saudável e seguro.
Um grande exemplo de luta pela vida e pela dignidade no trabalho aconteceu em 2015, quando negociávamos o Acordo Coletivo de Trabalho. No dia três de novembro daquele ano, um dia antes da realização de mais uma mesa de negociação pela renovação do ACT, o Sindieletro recebeu a notícia do acidente fatal com um trabalhador terceirizado a serviço da Cemig.
José Pedro sofreu o acidente durante o deslocamento para o pátio da empreiteira Esec, em Janaúba, logo após o cancelamento de uma manutenção interrompida por conta de uma energização indevida do circuito, colocando em risco a vida de vários trabalhadores. No retorno, o caminhão da empreiteira que levava 11 trabalhadores capotou e pegou fogo. O eletricista José Pedro ficou preso às ferragens e morreu carbonizado.
A gestão da empresa discursava tolerância zero aos acidentes de trabalho; a realidade demonstrava o contrário. Após o acidente fatal de José Pedro, o Sindieletro e a categoria foram à luta pela primarização.
Ocupação histórica na sede da Cemig: vigília pela vida
A frustração pela contradição entre discurso e prática da empresa levou os representantes do Sindieletro a ocupar a sala do Comitê de Negociação, no edifício-sede da Cemig, no dia quatro de novembro, e permanecerem por 15 dias consecutivos.
O anúncio da ocupação foi feito em mesa, durante uma rodada de negociação do ACT, quando os representantes do Sindieletro afirmaram aos representantes da gestão da empresa que sairiam daquela sala somente após uma solução em relação aos acidentes de trabalho, e apontaram a primarização como alternativa. Essa luta ficou conhecida como vigília pela vida.
Em vigília, os diretores do Sindieletro Celso Primo, Fábio Ferreira, Jefferson Silva e Lúcio Parrela buscavam, junto à diretoria do Sindieletro e à categoria eletricitária Cemig, pressionar pela negociação da primarização como forma de reverter os efeitos da precarização do trabalho e do preocupante cenário dos trabalhadores terceirizados.
54 dias de greve
Nos dias finais da vigília, realizamos uma avaliação sobre a condição da nossa luta e as possibilidades de avanço na reivindicação. Refletimos, também, sobre o tamanho do nosso desafio ao enfrentar uma gestão e um governo de “esquerda” submetidos às imposições do mercado. Não havia outra alternativa senão o nosso mais potente instrumento de luta: a greve. Nesse entrelaçar, caminhamos juntos, Sindieletro e categoria eletricitária, para a construção da maior greve de toda história da categoria. Foram 54 dias de muita luta!
Encerramos aquela greve assinando o Acordo Coletivo de Trabalho com importantes conquistas: aumento real linear retroativo a novembro de 2015, 1% de reajuste para julho de 2016, linearidade em 50% do montante da PLR e manutenção do seguro de vida dos aposentados. Também conquistamos o acordo para a realização de concurso público, ofertando 400 vagas para eletricistas – acordo esse que a gestão da empresa cumpriu somente em 2018, frustrando a expectativa em relação ao debate sobre primarização.
O atual contexto da relação trabalhista e das condições de trabalho na Cemig piorou de forma significativa. Sucessivas greves de trabalhadores de empreiteiras que prestam serviço para a Cemig, com reivindicações econômicas e de saúde e segurança, escancaram o problema da precariedade das condições de trabalho dos companheiros terceirizados.
No quadro próprio não tem sido diferente: as denúncias de assédio não param de chegar ao Sindieletro. Trabalhadores relatam suspeita de suicídio de um funcionário da TI – há sucessivas reclamações em relação às condições de trabalho, e sintomas de depressão estavam presentes nas falas de quem conhecia o eletricitário e convivia no mesmo ambiente laboral.
Onde estão os acidentes no ambiente Cemig?
O acidente fatal do trabalhador Gabriel Luciano, de 27 anos, vem revelar o que o Sindieletro já denunciava sobre ocultação de acidentes e afastamentos ocorridos nos processos de trabalho no ambiente da empresa.
A pirâmide Bird, criada por Frank Bird, é um importante instrumento da segurança no trabalho para identificar e avaliar riscos e propor medidas de melhorias nos processos de trabalho, evitando novos acidentes através de medidas preventivas. Essa ferramenta indica que todo acidente possui lógica constante e proporcional, e que o fatal advém de 600 pequenos incidentes, 30 acidentes com lesão e 10 acidentes graves. Onde estão os acidentes no ambiente Cemig? Ocultados! Essa é a resposta.
Não aceitamos esse histórico de acidentes e adoecimentos resultantes do assédio como instrumento da gestão Zema na Cemig. O nosso Acordo Coletivo é nosso escudo, é nossa ferramenta para barrar as atrocidades às quais estamos expostos no ambiente de trabalho.
A nossa campanha de renovação do ACT 2023/2024 já começou, e a nossa primeira tarefa é fortalecer a greve aprovada pela categoria na última sexta feira (7). O dia da greve é 13 de maio, próxima quinta-feira. No mesmo dia, teremos uma audiência pública para debater PLR e condições de trabalho. Participe, é muito importante. Vamos à luta, companheiras e companheiros!
Por vida, trabalho e dignidade.
Cemig: esse “trem” é nosso!