A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), do Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação, pode colocar em votação na quinta-feira (10) a liberação da importação do trigo transgênico no país. Diversas entidades estão se mobilizando e há uma petição online organizada pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) contra a medida.
De acordo com o Idec, se a CTNBio aprovar o trigo transgênico no país um novo veneno extremamente tóxico poderá estar presente no pão nosso de cada dia. “O trigo transgênico é resistente ao glufosinato de amônio, mais tóxico que o glifosato, um agrotóxico classificado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como potencialmente cancerígeno. Se houver a liberação, o trigo pode ter resíduos desse veneno tóxico que serão incorporados às farinhas e seus derivados. Isso significa que poderá aumentar a presença dessa substância em alimentos básicos de consumo diário, como pães, massas, pizzas, bolos, salgados, biscoitos, entre outros.”
Para o dirigente do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra João Pedro Stédile, “em nenhum país do mundo foi liberado o trigo transgênico. Ele está proibido porque afetaria a alimentação diária de todo povo e, por precaução, já que não se sabe os efeitos em nosso organismo”.
Ele explica que o trigo transgênico foi liberado pela Argentina, um dos maiores exportadores de farinha de trigo para o Brasil, durante o governo de Mauricio Macri (2015-2019). Agora o plantio no país vizinho depende da aprovação no Brasil. “O agronegócio argentino quer transferir o risco para nós, brasileiros”, diz Stédile.
Segundo Stédile, na CNTBio “a ciência passa longe, o que prevalece sempre são interesses das corporações transnacionais”. “Até o sindicato dos moinhos importadores são contra, pois sabem que podem resultar em boicote à sua farinha transgênica. E imagine as padarias terem que colocar no saquinho de papel o T em amarelo avisando que é transgênico?”
Os movimentos que compõem a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida listaram 13 motivos para que o trigo geneticamente não seja liberado. Além da questão do herbicida utilizado ser mais tóxico que o glifosato, proibido em toda a União Europeia, eles alertam que toda a cadeia alimentar poderá ser afetada.
“Como já visto no caso da soja, que também se autofecunda, depois de liberada uma semente transgênica toda a cadeia alimentar se contamina. Se internamente o governo brasileiro nunca se importou em segregar a produção transgênica da não-transgênica, imagina depender de outro país para não ter todo o consumo de trigo contaminado?”
Entre as outras razões apontadas, estão a falta de soberania nacional, já que cerca de 88% do trigo que consumimos vem da Argentinas e a falta de debate com a sociedade civil, que não foi ouvida. “A CTNBio realizou uma audiência pública no dia 22 de outubro de 2020. A própria CTNBio indicou os expositores, nenhum deles ligados à defesa dos consumidores.”
Fonte: Brasil de Fato