‘Tudo por um triz’: autores discutem a urgência de manter a democracia



‘Tudo por um triz’: autores discutem a urgência de manter a democracia

Feito, como o diz o organizador, no calor da hora, o livro Tudo por um triz – Civilização ou barbárie (Kotter) reúne 41 reflexões sobre a realidade brasileira e as opções em jogo nos próximos anos, como o título sugere.  O desafio cresce porque a democracia “se revelou mais frágil do que pensávamos”, afirma o professor João Cezar de Castro Rocha, responsável pela organização dos textos, distribuídos em dois volumes. Traz um “olhar crítico” sobre o processo eleitoral e discute o que virá depois.

Um dos autores é o jornalista Jamil Chade, que logo no início afirma que nos últimos quatro anos o Brasil cumpriu “um papel fundamental na consolidação da agenda da extrema direita no mundo”. Assim, uma rede internacional de contatos, aliada ao bolsonarismo, buscou “desmontar um consenso internacional sobre os direitos humanos e recriar novas definições sobre alguns dos pilares do multilateralismo no pós-guerra”. O país foi decisivo nessa ruptura.

Destruição no mundo

Chade detalha a atuação do governo brasileiro e sua “diplomacia” na política internacional. “Muito mais que um preciosismo no vocabulário, a mudança era um espelho de uma nova inserção do Brasil no mundo. (…) Em nome dessa agenda, porém, o que se viu foi a destruição do Brasil no mundo. Mais importante que isso: em troca de um papel de protagonista na agenda da extrema direita, o governo abriu mão dos interesses nacionais, traiu a Constituição e os brasileiros.” O jornalista conclui de forma desolada: “Quando me deparei com Jair Bolsonaro na ala VIP dos chefes-de-estado do G-20, na cúpula em Roma no final de 2021, o que eu vi não foi apenas um homem isolado e rejeitado pelos demais líderes. O que estava diante dos meus olhos era um país que perdeu seu lugar no mundo”.

Outro texto é do professor, filósofo e ex-ministro Renato Janine Ribeiro. Ele alerta que não há democracia que se sustente apenas no voto. “Se não houver um empenho real dos cidadãos em defenderem seus direitos e desejos, a terceirização da democracia não funcionará”, afirma. “Muitas pessoas, que estiveram caladas enquanto avançavam os direitos humanos entre 1980 e 2010, hoje se sentem autorizadas e mesmo legitimadas a expressar ódio e rancor – e não apenas mediante palavras, também por ações.”


Retrocesso e retomada

Ao mesmo tempo, Janine deixa um sentido de esperança. “Podemos nos inspirar no fato de que, nos últimos oito séculos, a sociedade caminhou sempre no rumo de mais direitos, mais respeito à lei, mais democracia”, observa. “Houve grandes retrocessos, mas cada um deles foi sucedido por uma retomada do caminho. Esta não é, obviamente, uma garantia para o futuro, mas pode ser pelo menos uma inspiração para lutarmos por ele.”

Para o professor Castro Rocha, o país está diante de seu maior desafio na história republicana: a reconstrução. A questão, emenda, é saber se estamos à altura dele.

Por Vitor Nuzzi, da RBA

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