POR NINJA
Rui Gemaque, de 23 anos, é ativista do Greenpeace em Belém (PA). Nasceu na capital paraense e cresceu entre a metrópole e Ananindeua, segundo município mais populoso do estado. O jovem, que vive na Amazônia e tem vínculo com a floresta, partiu para sobrevoo por áreas de desmatamento na região de Porto Velho (RO), a convite do Greenpeace.
Ele narrou a experiência à jornalista Camila Doretto. “Quando recebi o convite, achei a ideia incrível. Porque uma coisa é a gente falar de conservação de um lugar um pouco distante, sem testemunhar mesmo a tragédia de perto. Outra é ver a queimada acontecendo. Acredito que qualquer pessoa que visse o que a gente viu hoje, com certeza sairia impactado”, desabafou.
Ele garante que ficará na sua memória o cenário devastador que viu. “Quando eu vi aquilo de cima, eu imaginei a quantidade de bichos desesperados querendo fugir do fogo, da fumaça, os que perderam suas casas, seu alimento, os que morreram porque não conseguiram escapar, sabe? Eu fico imaginando o grande desespero que é a perda da vida por conta das chamas, as chamas chegando e devastando tudo, e saber que toda aquela área não vai se recuperar tão facilmente”.
O jovem destacou que o cenário o levou a refletir sobre o aceleramento da crise climática e de que forma ela atingirá as cidades, principalmente as populações vulneráveis, principalmente, porque não há planejamento urbano com propósito de mitigar os efeitos das mudanças climáticas.
“A população periférica acaba indo para as beiras da cidade, áreas para onde o poder público virou as costas para direitos fundamentais como o planejamento sanitário, por exemplo. As populações de mais baixa renda, quando têm suas casas invadidas pelas chuvas, são também acometidas por doenças que poderiam ser evitadas se houvesse um melhor controle arquitetônico ou sobre a saúde, pois estão muito mais suscetíveis a dengue, Zika ou malária”, destacou.
Ele citou também a sobreposição de injustiças.
“E eu não posso deixar de falar de sobreposição de injustiças também quando penso que apesar da região norte ser uma das maiores produtoras de energia do país é a que paga mais caro por ela. Existe então tanto essa questão grave de injustiça como também da falta de responsabilidade do poder público quanto ao manejo e distribuição justa da água”.
Lembrou também, que a construção de grandes empreendimentos, como as hidrelétricas, impõem mais áreas degradadas. “São necessárias que grande áreas de floresta sejam desmatadas, sejam inundadas, e boa parte da biodiversidade é dizimada. E o problema é que ainda existem muitos outros projetos que ameaçam a ecologia dos rios, das florestas, ameaçam também a população local, a população quilombola ou ribeirinha, que estão ali nas margens dos rios e que correm o risco de ter que se deslocar para que sua identidade seja sobreposta por projetos econômicos que não levam em consideração essas realidades”.
Essa experiência, relata, serviu para lhe fortalecer na luta pela vida no planeta. “A vontade que eu carrego comigo depois disso é de seguir nessa luta, falando cada vez mais sobre toda essa problemática. E farei isso ainda com mais vontade, principalmente para aquelas pessoas que não têm acesso a esse tipo de informação. E quero falar pra elas também que existe solução e que tudo isso tem relação com as nossas vidas, onde quer que a gente esteja”.
O projeto
A convite do Greenpeace, jovens da periferia fizeram um sobrevoo em setembro sobre uma das regiões da floresta com mais focos de queimadas para entender melhor a relação entre a destruição da Amazônia, a crise hídrica e o preço da conta de luz.
Além de Rui, viram com os próprios olhos como o desmatamento custa caro, Ana Clis e Audino Vião. Com a proximidade das eleições, os jovens entenderam a necessidade de propostas concretas para acabar com os crimes ambientais.
Assista ao vídeo completo e entenda como foi o sobrevoo. Clique aqui