Um segundo de distração, a falta de um equipamento ou o simples ato de respirar pode significar a diferença entre a saúde e a doença. Ou entre a vida e a morte. Esses fatores, combinados com falta de legislação rígida ou de fiscalização, matam, por ano, 2,3 milhões de pessoas no planeta. A causa em comum desses óbitos não é uma guerra ou um vírus incurável. O trabalho é o responsável por essa epidemia silenciosa, presente no mundo inteiro, mas mais intensa em países em desenvolvimento, como o Brasil.
O país registra, por ano, 737 mil casos de doenças ou acidentes laborais, o que significa 2.020 vítimas por dia com consequências que vão desde o afastamento temporário até a morte, passando por invalidez e enfermidades sem cura. Os dados são da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do Anuário Estatístico da Previdência Social. Oito em cada dez vítimas prestam serviço de maneira terceirizada, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Os números são altos, mas muito maior do que eles, é o sofrimento das vítimas, que, além de terem a vida comprometida, ainda passam anos buscando fazer valerem seus direitos. São essas histórias que serão contadas na série “Epidemia silenciosa”. As reportagens serão publicadas nesta semana, que tem datas marcantes: na terça-feira é comemorado o Dia Mundial da Saúde e Segurança do Trabalho e, na sexta-feira, é comemorado o Dia do Trabalho.
Combater essa epidemia é uma corrida contra o relógio. De acordo com a OIT, a cada 15 segundos, em algum lugar do planeta, um trabalhador morre e 153 sofrem acidentes ou são diagnosticados com uma enfermidade ligada a seu ofício. Os óbitos provocados pelo trabalho superam os da Aids, que, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), faz 1,8 milhão de vítimas fatais por ano no planeta. No Brasil, os novos casos de acidentes ou doentes do trabalho são 22% superiores aos cerca de 576 mil diagnósticos anuais de todos os tipos de câncer contabilizados pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca).
“A ocorrência de acidentes e doenças do trabalho no Brasil não é uma simples questão de falta de legislação ou fiscalização, mas um conjunto de fatores, aí incluída a própria fragilidade da relação de trabalho, que propicia e perpetua práticas que colocam os trabalhadores em risco”, diz o diretor-adjunto e oficial encarregado do escritório da OIT no Brasil, Stanley Arthur Gacek.