Um abraço coletivo ao complexo de prédios de Furnas se estendeu por 681 metros de calçada, em Botafogo, na zona sul do Rio de Janeiro, na semana passada. O ato, que reuniu contratados, terceirizados, comerciantes e comerciários do bairro, além de representantes de entidades sindicais, foi em protesto pela saída da sede da estatal do seu endereço histórico, onde funciona há 48 anos, e contra as privatizações no setor elétrico.
Para a secretária de comunicação da CUT Rio, Duda Quiroga, o anúncio da diretoria de Furnas de que pretende deslocar os trabalhadores para dois prédios, um no centro da cidade, na região da Central do Brasil, e outro em Jacarepaguá, tem o propósito de dificultar a mobilização em defesa dos seus direitos e da própria empresa, e trará impactos diretos na economia da região, já estagnada com o alto desemprego.
“A direção de Furnas pretende separar os trabalhadores para não permitir sua organização, e não leva em conta o impacto no desenvolvimento local. Esta manifestação, hoje, está dentro da nossa luta maior pelas empresas públicas.”
Já para Luís Mário, diretor do sindicato dos petroleiros e da Federação Única de Petroleiros (FUP), a decisão da empresa é mais um que o cerco às liberdades democráticas e que exige maior unidade da categoria.
“Não existe uma única classe trabalhadora”, alertou: “eletricitários, metalúrgicos, petroleiros, bancários, trabalhadores da limpeza urbana, todos os trabalhadores têm que se unir. O momento é de ditadura e o povo tem que estar unido contra ela. Não podemos ficar separados. Não é luta de um só, mas de um coletivo operário, que temos que construir juntos, tijolo a tijolo, debaixo de chuva , de sol e das opressões que o Estado nos oferece.”
O deputado federal Glauber Braga (PSOL/RJ), presente à manifestação, que ocorreu debaixo de chuva e fortes ventos, disse que o anúncio da diretoria de Furnas de mudar a sede da empresa é “um desmonte do Estado brasileiro e das suas garantias sociais. Quem ainda não entendeu isso, e que há uma articulação do Judiciário para fazer com que o Brasil seja entregue de bandeja para empresas internacionais, está perdendo o bonde da história”.
A intenção de mudar a sede de Furnas foi comunicada pela direção da empresa, antes mesmo de passar pelo Conselho de Administração, observou Felipe Araújo, diretor do Senge-RJ e da Associação dos Empregados de Furnas (Asef). Na sua avaliação, para assustar os empregados, que são cerca de 2 mil na sede.
“Apesar do clima de medo instaurado por este governo, a gente sabia que os trabalhadores de Furnas iam descer para abraçar a empresa, porque eles têm consciência do seu dever de ofício. Furnas é muito maior do que eles imaginam.”
Privatização vai encarecer energia
Para Miguel Sampaio, diretor do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge-RJ), presente ao ato, a privatização no setor elétrico trará tarifas mais caras e barreiras à retomada econômica.
“Furnas foi criada, na década de 1950, exatamente porque o setor privado que atuava neste mercado não correspondia às expectativas . Agora, que está tudo pronto, e que a iniciativa privada se apoderou do Estado, querem pegá-la de volta. Se precisarmos de novos investimentos, eles vão pedir ao governo, porque o empresário privado não bota dinheiro nisso, nem reduz preço de tarifa. As pessoas vão pagar tarifa mais caras e o país perderá o poder de baratear a tarifa como política de apoio ao desenvolvimento, nas indústrias e em outros setores. Isso a iniciativa privada não faz.”
Frente Parlamentar em Defesa de Furnas
O deputado Glauber Braga ressaltou, durante o abraço em torno do prédio da estatal, o papel da Frente Parlamentar em Defesa de Furnas, que será lançada, em Brasília, no próximo dia 9 (terça-feira).
“Essa Frente tem um objetivo importantíssimo, que é articular a luta dos trabalhadores com parlamentares progressistas e aqueles que podem ser influenciáveis, para que a possamos acumular forças de uma maneira mais ampla. É uma articulação da sociedade civil, sindicatos, trabalhadores e parlamentares comprometidos com o desenvolvimento soberano brasileiro.”
Na manifestação realizada em Botafogo, estiveram presentes, ainda, representantes dos mandatos da deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e do deputado estadual Waldeck Carneiro (PT-RJ). O deputado Alessandro Molon (Rede-RJ), retido em Brasília na Comissão que aprovou o projeto de Reforma da Previdência, justificou a ausência e mandou mensagem declarando apoio à mobilização dos trabalhadores em defesa de Furnas.
O ato contou com a participação de representantes da CUT, CTB e de sindicatos, como o Sindicato dos Petroleiros, a Federação Única de Petroleiros (FUP) e a Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet), o Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge-RJ), o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Energia (Sintergia-RJ), o Sindicato dos Administradores no Estado do Rio de Janeiro (Sinaerj). Foi convocado pela Associação dos Empregados de Furnas (Asef), a Associação dos Contratados, Ex-contratados e Prestadores de Serviços em Furnas Centrais Elétricas (Acep), Associação dos Aposentados de Furnas (Após Furnas), a Intersindical Furnas e a União Intersindical Furnas.
Fonte: CUT