Eletricitários saem de madrugada para a usina e só retornam para casa altas horas da noite.
Para os eletricitários de Irapé, região Norte de Minas, o dia de trabalho começa às 5 horas, quando eles saem de casa para ir para a usina, que fica a mais de 100 quilômetros de Araçuaí, onde a maioria deles reside. Para muitos deles, a jornada só termina as 23 horas.
A Cemig fornece transporte para a equipe apenas até o distrito de Lelivéldia, que fica a apenas 9 km de Irapé. Para cumprir o restante do trajeto, os eletricitários têm que pegar ônibus de viagem.
Reproduzindo mais uma daquelas situações de privilégio que a Cemig mantém, poucos membros da equipe têm o direito de usar o carro da empresa, que faz o trajeto de Irapé a Araçuaí e que passa vazio pela turma à espera do ônibus.
A direção do Sindieletro destaca que o empreendimento Irapé é extremamente rentável e, do ponto de vista financeiro, nada justifica esse sacrifício de deslocamento imposto pela Cemig. Em apenas dez anos de funcionamento, a usina - que possui a barragem mais alta do Brasil e a segunda maior da América Latina - já está na terceira geração de trabalhadores.
“Essa rotatividade elevada ocorre justamente porque a Cemig não garante condição sustentável de vida, trabalho e estudo para esses eletricitários e, ao invés de diálogo com seus trabalhadores, prefere o caminho autoritário, com ameaças de transferência”, já denunciada pelo ex- diretor do Sindieletro, Lucio Parrela.
Outra ameaça que paira sobre os trabalhadores, que já vem sendo anunciada pelos gestores da usina, é a terceirização da Operação e Manutenção (O&M). Ao invés de investir na adequação e na capacitação do quadro de trabalhadores de Irapé, que poderia vir a ser um modelo para o restante da GT, a Cemig prefere adotar uma política de terceirização que não deu certo. Para comprovar esse fracasso da terceirização e quarteirização, basta olhar o estado precário e de abandono em que se encontram as usinas da Cemig.
Há alguns meses a Cemig apresentou ao Sindieletro uma proposta relacionada ao transporte e à jornada dos trabalhadores de Irapé. O documento não atendia os anseios dos eletricitários da usina. Mas, empenhados em fechar o acordo, eles se reuniram com chefias e fizeram uma contraposta que retirava algumas incoerências do texto, sem alterar a essência da proposta da empresa. Há mais de dois meses o documento foi entregue ao RH, mas, até hoje a Cemig não respondeu, mantendo a rotina exaustiva em Irapé.
O Sindieletro cobra resposta urgente da Cemig para a pauta dos trabalhadores da usina. Destacamos que esses eletricitários só estão reivindicando um mínimo de condições básicas e necessárias para exercerem o seu trabalho e um pouco de respeito à pessoa humana, naquilo que há de mais sagrado: a sua dignidade!
Poema em homenagem aos trabalhadores daquela usina
Escravidão e Tempos Modernos
O Zunido do Açoite
O grito que ecoa na noite
Sangue e carne se misturam
Um corpo tomba dilacerado
Rito de intensa crueldade
Fruto da bestialidade
De quem ainda não sabe o que é o amor
È o caminhar da humanidade
Em passos lentos e trôpegos
Flashes de iluminação
Mas o atraso e o retrocesso
Estão presos na multidão
É o ser assumindo o papel
De Algoz do seu semelhante
O papel coadjuvante
Da mão invisível do capital
Capitão do Mato, Capataz ou Feitor
Que importa o nome
Que se dá a mão do opressor
Em avanços e retrocessos
Mudam se os nomes
Gerente, Superintendente, Supervisor
A mutilação agora se dá na Alma
Num processo inovador
Terceirização, Assédio, Mutilação
O grito escondido na escuridão
Que continuemos a luta
Em prol da iluminação
Das mentes e corações
Que o nosso lema ecoe na eternidade
VIDA, TRABALHO, DIGNIDADE!
Everaldo Rodrigues de Oliveira, eletricitário, coordenador do Sindieletro na Regional Norte