Trabalhadores da Ford recusam indenização



Trabalhadores da Ford recusam indenização

Com esperança de reverter o fechamento da Ford no Brasil e manter os quase 120 mil empregos, diretos e indiretos, os trabalhadores e as trabalhadoras da montadora não aceitam indenização em troca do desemprego. Eles seguem na batalha por empregos e direitos e continuam com uma agenda de mobilizações e luta para os próximos dias com objetivo de pressionar governos e a empresa e dialogar com a sociedade sobre a situação.

Em Taubaté, os metalúrgicos e as metalúrgicas rejeitaram, nesta quarta-feira (3), uma proposta da Ford que estabelecia uma indenização de 1,1 salário por ano trabalhado para os funcionários horistas e 0,7 para os mensalistas. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté (Sindmetau), esses valores ficariam abaixo dos salários que os funcionários com estabilidade de emprego receberiam até o fim deste ano, devido a contrapartida dos acordos aprovados pelos trabalhadores durante a pandemia de redução de salários e jornadas.

“Esta proposta é como se a indenização fosse apenas a antecipação dos valores dos meses de fevereiro a dezembro e o que os trabalhadores buscam neste momento não é uma indenização, mas sim a reversão da decisão da montadora. É o emprego de pais e mães de famílias que está em risco. Vamos lutar até o último minuto para reverter essa situação”, explicou o representante sindical na Ford Taubaté, Sidivaldo Borges.

Em Camaçari, os trabalhadores e as trabalhadoras da montadora foram informados pelo Sindicato dos Metalúrgicos da região de que na mesa de negociação a empresa propôs pagar 2 salários por ano para cada trabalhador demitido, mas não teve proposta formal nenhuma. Uma reunião com a direção da empresa e o Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari acontece nesta quinta-feira (4). A última assembleia da categoria aconteceu na última terça-feira (2).

“Como não teve proposta formal esta indenização da Ford nem foi informado estes valores aos trabalhadores. A categoria está muito ansiosa para o desfecho desta situação”, explicou o Engenheiro na Ford em Camaçari e dirigente do Sindicato dos Engenheiros na Bahia (Singe-BA), Allan Yukio Hayama.

A diretora executiva da CUT Nacional, Marize Souza Carvalho, que acompanha de perto o caso dos trabalhadores e das trabalhadoras em Camaçari, disse que eles não podem aceitar mais este ataque aos direitos e que é preciso continuar na luta.

“Devemos travar uma luta sem trégua pelo direito ao trabalho de todos os trabalhadores e trabalhadoras que são direta e indiretamente atingidos. Exigirmos o cumprimento dos Acordos e Convenções Coletivas, o pagamento integral dos salários, manutenção de saúde, cesta básica, previdência, aposentadorias, orçamentos sociais e nenhuma demissão”, disse a dirigente.

Marize, que está participando de uma reunião da diretoria executiva da CUT, nesta quinta-feira (4), disse que apresentou um encaminhamento para a Central protagonizar a luta em defesa dos empregos e direitos.

“É preciso que a CUT encabeçe uma saída política para a situação Ford, visto que afeta cadeia produtiva ampla de trabalhadores diretos e indiretos. A Central precisa apresentar e pressionar para votar um Projeto de Decreto Legislativo com proposta de estatização, encampação, nacionalização e apelar aos governadores da Bahia, Rui Costa (PT), do Ceará, Camilo Santana (PT) e de São Paulo, João Doria (PSDB) para que encampem as fábricas ao patrimônio dos Estados, enquanto se viabiliza a nacionalização”, explicou ela.

Terceirizados na luta

Não são só os metalúrgicos e metalúrgicas que podem perder seus empregos, quase 119 mil trabalhadores e trabalhadoras serão impactados com a decisão da multinacional de sair do país. São rodoviários, químicos, engenheiros e outras categorias que também estão se organizando junto a CUT em defesa dos empregos.

Os engenheiros na Ford em Camaçari, que prestam serviços para a montadora e que já começaram a sofrer os impactos da saída da multinacional do país, já estão articulados para começar uma mesa de negociação com MSX engenharia. Segundo Alan, 30 trabalhadores já foram demitidos de dezembro até fevereiro e que outros já estão fazendo aviso prévio.

“A gente só foi começar a entender as demissões de dezembro quando a Ford anunciou em janeiro a sua decisão, mas a gente quer e precisa que a negociação que tiver com os trabalhadores direto da Ford também seja aplicada para as outras milhares de pessoas que de alguma forma cooperou com a empresa no país”, disse Ala.

“A gente quer de volta os nossos empregos, mas precisamos exigir que as mesmas negociações sejam repassadas para os trabalhadores das empresas terceirizadas”, explicou, complementando: “As empresas serão ressarcidas com uma multa e precisamos ficar atentos e lutar para que seja reservado uma parcela disso para os trabalhadores e as trabalhadoras, como forma de indenização, caso a situação da Ford se consolide”.

SINDMETAUSindmetau
Imagem da audiência pública na Alesp sobre a Ford 

Lutas e ações em defesa dos empregos

O engenheiro disse que no próximo dia 11 haverá um ato das mulheres metalúrgicas em frente à prefeitura de Camaçari e no dia 12 haverá assembleia da categoria. Ele também falou que como terá negociação com a Ford nesta quinta, pode ser que tenha alguma outra assembleia antes deste período.

Em Taubaté, por enquanto, só está marcada a assembleia semanal na segunda-feira (8), mas a direção do sindicato não descarta que possa ter alguma assembleia extraordinária.

Planos futuros

Uma audiência na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, realizada nesta quarta-feira (3), elencou uma série de novas ações para o caso Ford, entre elas acionar organismos internacionais, por conta da violação de normas trabalhistas, a apresentação de um projeto de lei de nacionalização da indústria, a retomada do programa Inovar-Auto e a criação de mecanismos de reparação aos trabalhadores, caso o fechamento da Ford no Brasil seja consumado.

*Edição: Marize Muniz

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