Trabalhadores da Amazon aprovam primeiro sindicato da história da empresa



Trabalhadores da Amazon aprovam primeiro sindicato da história da empresa

Trabalhadores de um armazém da Amazon em Staten Island, estado de Nova York, aprovaram no início deste mês a formação do Sindicato dos Trabalhadores da Amazon (ALU, de Amazon Labor Union). O primeiro sindicato da história de 27 anos da empresa nos Estados Unidos teve o apoio de 55% dos votos válidos. Exatos 2.654 dos funcionários da unidade votaram “sim” e outros 2.131, contra a proposta, uma iniciativa de ex e atuais funcionários da gigante mundial de comércio eletrônico.

Desse modo, o resultado representa uma vitória importante para o mundo do trabalho. Isso porque a legislação norte-americana não facilita a adesão de trabalhadores a sindicatos. Além disso, costuma fazer vista grossa à prática antissindical das grandes empresas. Com 1,3 milhão de funcionários, a Amazon é a segunda maior empregadora privada dos Estados Unidos – a Walmart tem 2,3 milhões.

Cerca de um ano atrás, a ideia da criação de um sindicato em um outro galpão da Amazon, este no estado do Alabama, perdeu de lavada: 738 votos “sim” contra 1.798 “não”. Campanhas de empresas norte-americanas contra sindicalizações começam no recrutamento dos funcionários, passam pelo “terror” cotidiano e chegam a ameaças que vão da demissão ao fechamento da empresa. Nesse sentido, não é à toa que menos de 7% dos trabalhadores do setor privado na dita “maior democracia do mundo” são sindicalizados.

“A ALU é o primeiro sindicato da Amazon na história dos Estados Unidos. Poder ao povo”, comemorou a nova entidade nas redes. O senador Bernie Sanders, do Partido Democrata, afirmou que a vitória da organização sindical na Amazon de Staten Island é um sinal de que os trabalhadores americanos estão cansados de trabalhar mais horas por salários mais baixos. “Eles querem uma economia que funcione para todos, não apenas para Jeff Bezos”, disse Sanders, em referência ao magnata dono da Amazon.

Para os movimentos trabalhistas nos Estados Unidos, a vitória considerada histórica vem num momento favorável a mobilizações. De acordo com recente pesquisa do instituto Gallup, os sindicatos contam com aprovação de 68% da população – percentual mais elevado desde 1965, informa o site Europapress.

O movimento pela criação do ALU foi liderado por Christian Smalls, trabalhador demitido em 2020 por ajudar a organizar uma greve contra a ausência de política de segurança da empresa contra a covid-19.

“Ele não é inteligente nem articulado”, escreveu em parecer interno da Amazon um dos principais advogados da empresa para descrever Chris Smalls. O funcionário da unidade da Amazon de Staten Island acabou demitido no mesmo dia em que liderou a paralisação contra as condições de trabalho. O memorando do advogado vazou alguns dias depois, mas as palavras marcaram. Aliás, se tornaram o combustível que levaria Smalls a liderar um dos movimentos sindicais de base mais dramáticos e bem-sucedidos da história recente.

“Quando li esse memorando, isso me motivou a iniciar uma organização”, disse Smalls, comemorando a vitória histórica da criação do Sindicato dos Trabalhadores da Amazon, no galpão de Staten Island. “A Amazon não se torna Amazon sem as pessoas. Nós é que fizemos da Amazon o que ela é”, diz Chris Small em reportagem do site NPR.

Nos últimos anos, a Amazon vem dedicando esforços para frustrar tentativas de organização dos funcionários. A derrota da sindicalização no Alabama, em Bessemer, foi a segunda naquela unidade, pois na primeira houve contestação de várias cédulas. Como a suspeita de fraude ainda persiste, a disputa está longe de acabar.

Por que os sindicatos perderam a batalha contra a Amazon no Alabama

Famosos hollywoodianos, jornalistas, políticos: todos desejavam a criação de uma seção sindical no imenso armazém da Amazon em Bessemer, no Alabama. Todo mundo, menos os trabalhadores do local, que votaram em massa contra a sindicalização. A pressão exercida pela transnacional durante a campanha bastaria para explicar esse resultado?

Nos Estados Unidos, sindicalizar os funcionários de uma empresa é uma via crucis. Primeiro a organização sindical deve ser chamada por um funcionário da planta. No caso do Alabama, um estoquista telefonou para o RWDSU, sindicato de trabalhadores no comércio varejista. Em seguida, a organização sindical deve provar à agência federal encarregada das leis trabalhistas, a National Labor Relations Board (NLRB), que 30% dos trabalhadores do local desejam que a seção sindical seja criada.

Vencida essa etapa, vem uma amarga campanha, ao fim da qual se organiza um referendo. Então, a luta é travada fábrica por fábrica, supermercado por supermercado, fast-food por fast-food. Mas se o “sim” tivesse vencido em Bessemer, isso não mudaria em nada a situação dos demais armazéns da Amazon.

Para os funcionários, entrar nesse processo implica uma batalha longa e árdua, que, se perdida, pode trazer represálias contra aqueles que buscaram a ajuda do sindicato – muitas vezes a demissão. Nessas condições, não é de espantar que apenas 6,3% dos funcionários do setor privado sejam sindicalizados nos Estados Unidos.

Por Paulo Donizetti de Souza | RBA

item-0
item-1
item-2
item-3