Trabalhadores cruzam os braços na JBS contra ritmo “desumano” de abate



Trabalhadores cruzam os braços na JBS contra ritmo “desumano” de abate

Cerca de 500 trabalhadores do setor de abate de frangos paralisaram o trabalho por 40 minutos na última quarta-feira (6), na unidade da JBS-Seara em Sidrolândia (MS), em protesto contra o aumento no ritmo de produção.

Maior empresa de proteína animal do mundo, a JBS registrou no 2º trimestre de 2021 lucro líquido de R$ 4,4 bilhões, 29,7% a mais que no mesmo período do ano passado. Foi o maior lucro trimestral da história da companhia.

Todo o frango abatido e desossado no frigorífico de Sidrolândia é destinado para exportação. Os principais compradores são União Europeia, China e Japão. 

No Brasil, o consumo de carne bovina, suína e de frango vem caindo desde 2014. Um dos motivos é a alta dos preços, enquanto a renda média dos trabalhadores brasileiros cai. Só este ano, a carne de frango deve aumentar cerca de 11,8%, conforme dados da consultoria LCA divulgados pelo Estadão.

Antes da pandemia, aquela unidade abatia 180 mil frangos por dia. Este ano, a produção diária aumentou 16,6% e chegou a 210 mil. São três turnos de trabalho, com jornada de segunda a sábado.

Em setembro, o Brasil de Fato noticiou com exclusividade que a JBS ofereceu um churrasco aos funcionários do abate, para tentar atrai-los a trabalhar no domingo. Devido à repercussão da matéria e a uma ação da Procuradoria Regional do Trabalho da 24ª Região, o evento foi antecipado, e os domingos continuam sendo dia de descanso.

A paralisação

“Os trabalhadores vinham reclamando há dias. Não aguentavam mais. Como a gerente e a supervisão não tomaram providência, os trabalhadores largaram o trabalho, saíram da sala de corte e vieram ao saguão”, relata Sérgio Bolzan, vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Carnes e Aves de Sidrolândia (Sindaves).

Em reação ao protesto, o gerente de produção e o gerente de recursos humanos da unidade chamaram cinco trabalhadores e dois diretores sindicais para negociar a volta ao trabalho.

A empresa teria se comprometido a resolver questões relativas à qualidade dos materiais no abate – facas e “perereca”, material usado para afiá-las.

“Reduzir o ritmo de trabalho era a principal reivindicação, mas isso a empresa não discutiu. Querem desviar o foco”, analisa Bolzan.

Falta mão de obra

Durante a pandemia, 500 trabalhadores indígenas foram afastados, por integrarem grupo de risco. Mesmo com a diminuição de mão de obra, o ritmo de produção não caiu, e chegou a 190 mil, segundo dados do Sindaves.

Hoje, cerca de 1,7 trabalhadores atuam no setor de abate, com 180 afastados pela Previdência Social. O número de funcionários ativos é praticamente o mesmo de quando a unidade abatia 180 mil frangos por dia.

No total da unidade, são 200 trabalhadores afastados pelo INSS – aproximadamente um a cada dez. O sindicato aponta que a maioria dos casos está relacionada a movimentos repetitivos.

“Mais lesões por esforço repetitivo, que são reflexo do aumento do ritmo de trabalho, vão começar agora. Geralmente, aparecem 6 a 8 meses depois”, relata o vice-presidente do Sindaves.

“Muitos trabalhadores da unidade estão saindo, pedindo as contas, porque não aguentam mais.”

Encaminhamentos

Depois da paralisação, a empresa sinalizou que pretende se reunir com os trabalhadores para ouvir suas reivindicações e propor alternativas.

“O setor frigorífico no Brasil nunca lucrou tanto como na pandemia. A JBS praticamente dobrou a receita. Nós não somos contra o aumento da produção, desde que a empresa dê condições, contrate mais trabalhadores, amplie as linhas de produção, e garanta um ritmo acessível. Da forma como é feito hoje, é desumano com os trabalhadores, porque ela ainda pressiona os trabalhadores a não pedir atestado.”

Nos dias 30 de setembro e 6 de setembro, o Sindaves protestou na porta da empresa. No próximo dia 11, os representantes dos trabalhadores farão um seminário com participação do Ministério Público. A ideia é denunciar o aumento do ritmo de produção e, conforme a resposta da JBS, tentar frear as atividades por meio de ação civil pública.

O Brasil de Fato apresentou as críticas e questionamentos à JBS. A empresa respondeu apenas "que a unidade de Sidrolândia está em tratativa com alguns colaboradores que realizaram uma mobilização na manhã de ontem (6) e informa que a planta opera normalmente."

Fonte: Brasil de Fato

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