As novas regras da reforma da Previdência proposta pelo governo Jair Bolsonaro deram um susto nos trabalhadores que passavam pela Praça Ramos de Azevedo, no centro de São Paulo, na quinta-feira (4). Utilizando a plataforma "Aposentômetro", calculadora elaborada pelo Dieese, muitas pessoas viram seu tempo de contribuição aumentar bastante para alcançar a aposentadoria.
Ao saber do que ainda terá de fazer para chegar à aposentadoria, caso a proposta do governo seja aprovada, o aeroportuário Benedito, de 64 anos, sentiu indignação. "Eu já tenho 30 anos de contribuição e, com a nova regra, vou me aposentar só daqui cinco anos e só com 80% do meu piso. Isso não é interessante pra mim. Para me aposentar integralmente, seriam mais 9 anos. A reforma é injusta", afirmou.
A ação foi feita durante o lançamento do abaixo-assinado em defesa da Previdência e das aposentadorias, ameaçadas pela Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 6, feita pelas centrais sindicais e as frentes Brasil Popular e a Povo Sem Medo.
O servidor público Henrique, de 34 anos, também não ficou satisfeito com a proposta de Bolsonaro e do ministro da Economia, Paulo Guedes. "Eu teria de trabalhar mais quatro anos para receber o que eu receberia com as atuais regras. Essas mudanças são negativas. Essa reforma é uma maneira de trazer dinheiro ao sistema financeiro", criticou.
Michelle Dias, do Dieese e responsável pelo atendimento do Aposentômetro, afirmou que a diferença do tempo de contribuição imposto para os trabalhadores, na comparação entre as regras atuais e as propostas por Bolsonaro, mostra a importância das mobilizações em defesa de uma reforma previdenciária que não tenha como objetivo retirar direitos da população . "As pessoas estão decepcionadas com o resultado da calculadora de aposentadoria. Elas ficam chocadas."
Clarice, que é professora da rede pública, também parou na tenda para calcular seu futuro. Para ela, a reforma da Previdência não é boa e prejudica ainda mais a população mais pobre. "(Com a nova regra) São cinco anos a mais de contribuição e diminui em 40% meu piso. Ou seja, não é integral, só piora."
Abaixo-assinado
Em poucas horas de coleta, centenas de trabalhadores e trabalhadoras pararam para assinar o abaixo-assinado e aproveitar a presença de sindicalistas e de técnicos para esclarecer suas dúvidas sobre a proposta de "reforma".
O texto enumera as principais críticas dos trabalhadores à "reforma". "Esta Proposta de Emenda à Constituição dificulta o acesso à aposentadoria, aumenta o tempo de contribuição e de trabalho, diminui o valor dos benefícios e ameaça a existência da seguridade social (aposentadoria, benefícios da assistência social como o BPC e as políticas de saúde). Mas não combate a sonegação das empresas devedoras da previdência, mantém privilégios e incentiva a previdência privada (os planos de capitalização)."
O coordenador de Relações Sindicais do Dieese, José Silvestre, conta que o objetivo é coletar milhões de assinaturas para enviar o texto ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). "É preciso que os movimentos sociais e sindicais façam essa campanha de esclarecimento, pois agora começa a cair a ficha do tamanho dos danos dessa reforma para os trabalhadores. É fundamental que a gente divulgue que a reforma é de grande prejuízo", afirmou Silvestre.
Em audiência realizada na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, ontem (3), o ministro Paulo Guedes foi convidado para falar sobre a reforma da Previdência. O presidente da CTB, Adilson Araújo, criticou a participação do economista.
"Ele não falou nada relevante porque não tinha o que falar. O Guedes é um agente do mercado financeiro, da especulação e do rentismo. Ele pretende acabar com a Previdência, privatizar e entregar aos bancos", avaliou.
Fonte: Rede Brasil Atual