Trabalhador doente não produz



Trabalhador doente não produz

A preocupação com a saúde no trabalho deixou de ter dimensão somente física. Passamos a nos preocupar com os impactos na saúde mental dos indivíduos. A cada dia que passa, mais e mais pessoas desenvolvem algum transtorno mental em decorrência do trabalho: eles são a terceira principal causa de afastamentos de trabalho.  

Estamos falando de uma realidade que não é novidade, pois há anos trabalhadores e trabalhadoras sofrem no trabalho, um local que deveria ser fonte de aprendizado e desenvolvimento pessoal. Por mais “simples” e “manual” que pareça uma determinada tarefa, ela tem sua complexidade, seu valor e seu potencial para promover saúde ou doença a quem a executa.  

As empresas, a depender dos seus portes e particularidades, possuem programas de saúde para os trabalhadores. Estes deveriam estar focados na promoção efetiva de saúde física e mental. Mas, muitas vezes, são apenas intervenções pontuais ou controles superficiais por meio de inventários médicos. Às vezes, controle de metas e resultados ou do comportamento dos indivíduos. Mas a fonte de adoecimento, a própria atividade, nunca é foco de análises e intervenções.   

Diante da realidade de precarização das condições de trabalho, normaliza-se ou banaliza-se as condições de saúde ali. As pessoas adoecem, mas nem sempre conseguem perceber o próprio adoecimento. Pensam ser normal estarem cotidianamente ansiosas, tristes, irritadas ou agitadas. Pensam ser normal não dormir à noite, estarem preocupadas com as atividades do dia seguinte ou, até mesmo, angustiadas com a incerteza do emprego no mês seguinte. Isso não é normal. Isso não e digno! 

O trabalho é fonte importante de identidade e sociabilidade e nos impacta profundamente, modulando nossas formas de relação no e com o mundo. Uma condição concreta de precariedade de trabalho, obviamente, impacta a saúde e a identidade. 

As práticas de saúde mental nas empresas coexistem com uma pressão por produtividade crescente, num ambiente extremamente competitivo. O que se esquece é que trabalhador doente não produz. A saúde dos trabalhadores deveria ser a base para o êxito financeiro e produtivo de uma organização.  

 

O que pode levar ao adoecimento mental?

O Ministério da Saúde, no Manual de Procedimentos para Serviço da Saúde, reconhece as condições de trabalho que podem levar a adoecimentos mentais:  

(a) a falta de trabalho ou a ameaça de perda de emprego; (b) o trabalho desprovido de significação, sem suporte social, não reconhecido; (c) situações de fracassos, acidente de trabalho ou mudança na posição hierárquica; (d) ambientes que impossibilitam a comunicação espontânea, manifestação de insatisfações e sugestões dos trabalhadores em relação à organização; (e) fatores relacionados ao tempo, o ritmo e o turno de trabalho; (f) jornadas longas de trabalho, ritmos intensos ou monótonos, submissão do trabalhador ao ritmo das máquinas; (g) pressão por produtividade; (h) níveis altos de concentração somados ao nível de pressão exercido pela organização do trabalho e (i) a vivência de acidentes de trabalho traumáticos. 

Muitas dessas situações estão relacionadas à forma como os processos de trabalho são determinados dentro das empresas: de forma autoritária e sem considerar as experiências dos trabalhadores que poderiam, além de evitar adoecimentos, otimizar a produtividade. As relações que se estabelecem de forma hierarquizada, com diálogo difícil ou inexistente, muitas vezes resultam em situações de trabalho complexas que trazem risco à saúde mental ou mesmo de acidentes.  

Instalada a doença, além da dificuldade de reconhecer o próprio adoecimento, muitas vezes a pessoa é estigmatizada pelos seus superiores hierárquicos ou colegas. A pessoa é taxada como preguiçosa, improdutiva ou fraca. Até mesmo os colegas discriminam, e, obviamente, o adoecimento impacta na gestão e na produtividade de equipes, que acabam sendo prejudicadas de uma maneira geral. A sobrecarga de trabalho acarreta em mais riscos para a saúde de todos. 

Vejamos os processos seletivos. A maioria deles contêm testes para selecionar perfis que consigam trabalha sob pressão. Há uma naturalização da situação adoecedora: a pressão no trabalho. E quem consegue atender aos critérios é “premiado” com uma bela vaga de emprego. Tempos depois, com a saúde mental fragilizada, a pessoa é demitida e o caso se torna um erro de contrato do RH.  

Por isso, é muito importante o fortalecimento dos coletivos de trabalho. Durante a pandemia é desafiador, mas precisamos permanecer atentos às condições adversas no ambiente laboral. Esteja atento também aos colegas e seja solidário com aqueles que manifestam algum tipo de adoecimento no ou pelo trabalho. Estar doente não é sinal de fraqueza, mas sinal de algo está errado e precisa mudar! 

Preste atenção também às condições às quais você é submetido e denuncie ao Sindicato as situações degradantes de trabalho. 

 

Essa série é composta por três publicações que trarão alguns pontos de reflexão sobre a saúde mental e o trabalho. Estamos abertos às sugestões de debate e reflexão de toda a categoria! Enviem-nos propostas pelos canais de comunicação do Sindieletro! 

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