Thiago de Mello: autor de Estatutos do Homem é homenageado



Thiago de Mello: autor de Estatutos do Homem é homenageado

Prestes a completar 90 anos, o poeta amazonense Thiago de Mello, foi homenageado na Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo. A obra mais conhecida de Thiago, Os Estatutos do Homem – foi escrita logo depois do golpe de 1964, quando ele era adido cultural no Chile, onde se tornou amigo de Pablo Neruda.

O chamado poeta da floresta, que completa 90 anos nopróximo dia 30, também recebeu flores de estudantes que participaram de ocupações em escolas paulistas, no final do ano passado, contra o projeto de "reorganização" do governo estadual. Diante de duas centenas de pessoas que lotaram o auditório da biblioteca, sempre de branco, agradeceu pela noite. "Eu reparto meu canto de amor. Eu me despeço para permanecer com vocês." E recitou mais um pouco: "Mais que viver, o que importa/ é trabalhar a mudança/ (antes que a vida apodreça)/ do que é preciso mudar". Ele ainda subiria ao terraço, para ser recebido com serenata, ao som de Cordas de Aço, de Cartola.

Luzes

O professor Pasquale Cipro Neto emocionou-se ao subir ao palco e lembrar da importância da obra de Thiago de Mello na resistência à ditadura. Referiu-se aos "perseguidos pela dita" e emendou: "Vamos bater na madeira", tocando três vezes no piano, sob aplausos. "Nós procurávamos luzes", disse a Thiago, citando uma de suas obras mais conhecidas, Faz Escuro Mas Eu Canto. "Sempre acreditei que a salvação está na arte, e tu ajudaste a nos salvar", completou Pasquale, para então declamar Madrugada Camponesa.

"Sua obra, por si só, honra o povo brasileiro", disse o vereador Jamil Murad (PCdoB), autor de projeto de lei, prestes a ser votado, que dará a Thiago o título de Cidadão Paulistano. "É um poeta entrelaçado com o sentimento do povo por uma vida melhor." Também estavam lá a vice-prefeita de São Paulo, Nádia Campeão, e os secretários municipais Nabil Bonduki (Cultura) e Eduardo Suplicy (Cidadania e Direitos Humanos). Além da prefeitura e da biblioteca, o evento foi organizado pela UBE e pela Fundação Maurício Grabois.

Artigo IV

Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.

Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo único:
O homem confiará no homem
como um menino confia em outro menino.

(...)

Artigo Final
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.

O cantor e compositor Jean Garfunken também declamou um poema de Thiago, Terra Traída, da obra mais recente do autor, Acerto de Contas, lançado em 2015: "Advertência: / quando queimam a mata, / enlouquecidos de pavor, / os pássaros se esquecem dos seus cantos".

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