A presidenta do Conselho Municipal de Saúde de Belo Horizonte (CMSBH), Carla Anunciatta, foi alvo, nos últimos dias, de diversos ataques e até mesmo ameaças de morte nas redes sociais. Isso porque o Conselho, juntamente com outras 100 entidades, tem defendido perante o poder público municipal medidas mais contundentes para conter a crise sanitária na capital. Em solidariedade a Carla, dezenas de entidades, militantes e profissionais da área de saúde estão se manifestando. Na entrevista abaixo, ela comenta o processo de construção das propostas apresentadas à Prefeitura e faz uma análise da crise sanitária no município. Na próxima quarta-feira, 15, o CMSBH realiza plenária ampliada, convocada em conjunto com a Frente em Defesa do SUS, em solidariedade à presidenta.
Brasil de Fato MG - Belo Horizonte aparecia, nos últimos três meses, como a cidade grande com melhor desempenho no combate à crise sanitária, menor número de contaminações, menor número de mortes. No entanto, houve uma reversão desse quadro. Como o Conselho tem alertado, a rede hospitalar se aproximou de seu limite, do esgotamento. O que aconteceu para que chegássemos a essa situação?
Carla Anunciatta - Belo Horizonte se preparou de uma forma muito responsável desde o início da pandemia. Propôs o isolamento, distribuiu máscaras, cestas básicas, e vem tomando todas as atitudes, principalmente o isolamento, baseada em evidências científicas. Belo Horizonte formou, logo no início, um comitê de enfrentamento da crise, composto por infectologistas, epidemiologistas. Todas as ações do combate ao vírus foram pensadas de forma concreta e baseada em dados epidemiológicos. Com isso, conseguiu conter a curva de crescimento do vírus.
Porém, nós sabíamos que poderia acontecer essa situação que estamos vivendo hoje. Por que? É um vírus letal, desconhecido, nós sabemos que ele tem uma capacidade de transmissão altíssima, uma letalidade muito alta e uma rapidez de disseminação. Ele passa de uma pessoa para outra se as pessoas estiverem se aglomerando, circulando. Então, quando abrimos o comércio, na tentativa de abrir de uma maneira gradual, o vírus voltou a circular e de uma maneira potente. Com isso, nós chegamos a essa situação de quase esgotamento dos leitos de CTI para Covid e enfermaria.
O Conselho apresentou algumas reivindicações à Prefeitura de Belo Horizonte para tentar enfrentar essa situação, com 10 pontos. Como tem sido o diálogo com o prefeito Kalil e o secretário Jackson?
Fizemos uma plenária, conversamos com usuários, trabalhadores, gestores do SUS, gestores de hospitais para discutir qual posição o Conselho tomaria. Na semana passada, notamos que havia um esgotamento do sistema de saúde em BH. As ambulâncias do Samu sobrecarregadas, transportando muita gente, UPAs cheias, hospitais importantes, como a Santa Casa e o Hospital das Clínicas, sem leito de enfermaria e CTI para covid. Com isso, enviamos um ofício às autoridades, solicitando o lockdown (fechamento obrigatório).
Entendemos que tanto a Prefeitura quanto a Secretaria têm se posicionado de forma responsável no combate ao vírus. Nós temos diálogo, oficiamos, convidamos para nossas reuniões e tentamos juntos combater essa situação dramática que se abateu sobre a cidade.
Diante de todo esse quadro de mortes, de contaminação pelo coronavírus, de sofrimento que nós estamos assistindo, resolvemos fazer um movimento amplo, chamando todas as entidades preocupadas com a vida e as pessoas na nossa cidade. Resolvemos fazer um documento com reivindicações do ponto de vista da saúde, da economia, da proteção às pessoas, de proteger os trabalhadores, os usuários do sistema, os trabalhadores da saúde e dos serviços essenciais, transporte coletivo, supermercados.
Fizemos um documento reafirmando nosso apoio às ações do poder público e solicitando ações para proteger as pessoas, ajudar do ponto de vista econômico e também do ponto de vista da saúde. Entregamos ao Prefeito. Nele, solicitamos também que o fechamento obrigatório (lockdown) seja determinado se necessário, para que o sistema de saúde se organize novamente e possa atender a todas e todos, para que possamos voltar ao início desse combate à pandemia, quando nós mantivemos um nível razoável.
Por esse apoio ao poder público, eu tenho recebido até ameaças de morte nas redes sociais, especialmente no Facebook, de pessoas que não entendem a situação grave que nós estamos passando.
Por Wallace Oliveira - Brasil de Fato/Minas Gerais