No final de 2022, o metrô de Belo Horizonte foi privatizado em meio a protestos dos metroviários, movimentos sociais, populares e sindicais e usuários do serviço. Arrematado por R$25,7 milhões pelo grupo Comporte, foi mais um desmonte do serviço público, marca registrada do governo de Jair Bolsonaro (2018 – 2022). Com a privatização, diversas mudanças virão para os trabalhadores do metrô e para a população mineira. Para explicar mais sobre a nova realidade do metrô, as lutas traçadas para este ano e a semelhança que as lutas pelas estatais guardam, o Chave Geral conversou com Alda Lúcia Fernandes dos Santos, presidente do Sindicato dos Empregados em Transportes Metroviários e Conexos de Minas Gerais (Sindimetro/MG).
Chave Geral:Qual é a visão da diretoria do Sindimetro/MG sobre a motivação do governo Bolsonaro para a venda do metrô? Por que o metrô de BH foi desestatizado?
Alda: A privatização começou no governo Bolsonaro e o leilão foi realizado no governo de transição. O governo eleito poderia ter impedido a privatização, se de fato quisesse, por causa do dinheiro público que seria dado à empresa privada e a parcela do governo estadual, vinda da multa da Vale pelo crime ambiental de Brumadinho. Na visão do Sindimetro/MG, o metrô de Belo Horizonte foi privatizado por conta do pouco interesse do governo federal em discutir mobilidade urbana e o transporte público como direito.
CG: Qual foi a consequência da venda do metrô para os trabalhadores do setor e para os usuários do transporte?
A: Para os trabalhadores e trabalhadoras concursados, somente perdas de direitos e sucateamento do serviço. Um total desrespeito ao Sindicato e à categoria metroferroviária de Minas. O metrô de BH está cada vez mais desrespeitando o contrato de trabalho, e o mais absurdo: o governo federal privatizou os trabalhadores e trabalhadoras junto com a empresa. A princípio, os usuários vão acreditar numa melhora. Mas temos exemplos de como o transporte foi sucateado em caso de privatização, e com tarifas altas. A supervia do Rio de Janeiro, por exemplo, foi devolvida depois de todo o sucateamento feito pela empresa privada. E com uma tarifa de 7 reais!
CG: Quais foram as mudanças já percebidas após a venda do metrô? Quais são os percalços enfrentados pelos trabalhadores, principalmente após os 34 dias de paralisação?
A: A retirada de direitos e os cortes de salários. Descumprimento do ACT e a imposição de jornadas de trabalho exaustivas, em total desrespeito à saúde do trabalhador, resultando no adoecimento da categoria e na perda do emprego público. Fizemos um concurso e estamos sendo tratados dessa forma por culpa do governo federal, que não teve, até o presente momento, interesse nenhum em resolver a situação dos empregados e empregadas.
CG: A privatização do metrô de BH ocorre em meio a diversos outros desmontes em Minas Gerais feitos pela gestão Zema, principalmente na Cemig. Como você enxerga a relação das lutas pelos bens públicos?
A: É o mesmo caminho do desmonte do governo federal nas empresas públicas. É a venda do patrimônio público, o lucro acima do social. Temos que estar unidos contra esse desmonte e fazer com que o público permaneça para que a população tenha acesso a todos os serviços. Se é público, é para que se tenha o mesmo direito e acesso.
CG: Qual é a perspectiva de lutas a partir de agora? Em quais pautas o Sindimetro está focado e de que forma a população e outras entidades sindicais e movimentos podem contribuir?
A: Estamos na luta pelo retorno dos empregados para a CBTU AC ou para alguma empresa pública. A CBTU disse que recebe todos os empregados da CBTU-BH, ou seja, podemos ter nossos empregos em cargos públicos. Também iremos acompanhar o processo de ampliação das obras, fiscalizando.
A empresa descontou os 34 dias de greve de forma bruta, sem sequer aceitar negociar qualquer forma de parcelamento. E de uma verba salarial que já foi paga pelo governo federal, ou seja, o dinheiro não era do metrô de BH e eles simplesmente descontaram. Por isso, nesse momento estamos fazendo uma vaquinha para ajudar os trabalhadores e trabalhadoras a terem o mínimo de condições para a sua sobrevivência, uma vez que o corte dos salários e benefícios foram brutais, chegando a zerar os salários dos trabalhadores e trabalhadoras.
Contribua
Para contribuir com a vaquinha em solidariedade aos metroviários, é só enviar qualquer quantia para o seguinte pix: cutmg@cutmg.org.br. Você pode conferir a lista dos contemplados pelo site do sindicato: http://sindimetromg.org.br