Socorro! O ambiente de trabalho dos agentes comerciais é de caos e loucura



Socorro! O ambiente de trabalho dos agentes comerciais é de caos e loucura

O governador Romeu Zema tem feito o discurso de defesa da privatização da Cemig com a afirmação de que a empresa tem realizado um atendimento ruim aos médios e grandes consumidores. Segundo Zema, prefeituras, empresários e produtores rurais estão esperando tempo demais por serviços da Cemig. Dizendo isso, ele logo defende a privatização da estatal.

É uma conversa que desvia o foco dos problemas reais e tenta fazer a população mineira mudar de opinião sobre a venda da empresa, com a ideia de que a iniciativa privada faz melhor.

Discurso fácil, politiqueiro e descontextualizado da realidade. Zema não diz que ele próprio determina para os gestores da Cemig o desmonte da estatal. Além da venda de ativos e fechamento de localidades, a orientação do governador para a gestão da Cemig é de reduzir drasticamente o pessoal próprio, altamente qualificado, sem repor os trabalhadores que saíram, em diversos, sucessivos e agressivos programas de desligamento, na gestão dele e em gestões passadas.

Os impactos para os agentes comerciais

Os eletricitários que hoje atendem os consumidores privados, públicos e rurais de média tensão (prefeituras, órgãos estaduais e federais, empresas como supermercados, lojas, granjas e fazendas, entre outras) são os agentes comerciais.  Antes, o atendimento da média tensão era feito pelos agentes de relacionamento, ficando os agentes comerciais por conta dos consumidores residenciais (os de baixa tensão). Mas com o desfalque tão dramático no quadro de pessoal, foi feito um arranjo para todos os agentes se tornarem agentes comerciais e realizarem o atendimento dos consumidores de baixa e alta tensão.

As consequências vieram: o caos foi instalado para os agentes comerciais, em todo o Estado. “Muitos estão endoidando, adoecendo, sobrevivendo à base de tranquilizantes. Estamos sofrendo assédios para dar conta de demandas além da capacidade. Socorro!”, denunciou um agente comercial.

A reportagem conversou com vários agentes comerciais, em todo o Estado. A coerência dos depoimentos foi tocante: todos, sem exceção, pedem socorro, e disseram que estão adoecendo, física e emocionalmente.

Os contratos com os consumidores de média tensão são complexos e é preciso muito jogo de cintura na relação com esses clientes. Segundo alguns eletricitários da área, prefeitos, vereadores e outros agentes públicos com cargos de confiança, além de grandes empresários com influência econômica, costumam ligar diretamente para o governador, para os secretários de Estado e diretores da Cemig, solicitando interferência para “resolver o problema com a estatal”.

 “Antes estava ruim mesmo, agora está uma loucura, péssimo, e com pressão política. Jogaram para cima dos agentes comerciais a solução para uma situação criada pelos gestores. Se querem mesmo resolver, que contratem mais pessoal, e precisamos de milhares de trabalhadores na Cemig. O Zema falar que está ruim é fácil, quero ver é resolver com mais concurso”, desabafou outro agente comercial.

Segundo os trabalhadores ouvidos, o caos se tornou insuportável a partir de 2019 e conseguiu ir além com a pandemia. Simplesmente decidiram que os agentes comerciais atenderiam a média tensão, deram um treinamento por conferência via Skype, já com eles em home office, e pronto!  Quem atendia, 20, 30, 40 clientes, passou a atender 100, 200.

Panela de pressão

“Posso dizer que a panela de pressão explodiu. A reclamação dos consumidores é geral, e o nosso adoecimento também é geral. O cliente não sabe da nossa situação, e não quer nem saber se há poucos agentes para atender. O que ele quer é que a demanda seja atendida logo, não sabe que é a gestão da Cemig que precisa resolver”, afirmou outro trabalhador.

Em teletrabalho, os agentes comerciais não têm o suporte necessário e adequado para o uso do programa operacional digital. Se der problema (o que dá), não há um técnico de TI disponível para resolver rápido. E são realizadas reuniões virtuais frequentes que cobram produtividade, mas não abordam a solução concreta e imediata dos problemas técnicos.

Ameaças

“Há gerentes que cobram produtividade com assédios. Ameaçam usar medidas administrativas, como advertências e diligências. Todo mundo está trabalhando que nem máquina, com estresse além do limite. Tem gente sonhando com o serviço, na verdade, tendo pesadelo. Existem tarefas absurdas que estão passando para a gente. E todo mundo com medo de perder o emprego. Assim, muitos não procuram ajuda médica porque acreditam que podem perder o emprego”, alertou um outro agente comercial. Ele lembrou que, com a pandemia, os exames periódicos não estão sendo feitos, o que agrava a situação, visto que o trabalhador nem pode ser avaliado pela empresa em sua saúde física e mental.

Um outro agente confirmou a situação dramática: “É isso mesmo, estamos pirando. O governador Romeu Zema tem criticado a Cemig, apontando baixa qualidade dos serviços. Ele capitaliza politicamente, mas não enfrenta o problema de frente, fica manipulando a opinião pública. O verdadeiro problema é que nós estamos apagando incêndio, porque não tem pessoal suficiente, e nem treinamento adequado para os que começaram recentemente a atender os clientes de média tensão”.

Alguns agentes destacaram que essa situação “é uma estratégia” de Romeu Zema para privatizar, e com consequências nefastas para os trabalhadores. “Olha, acho que pode haver um ou outro que não vai adoecer, vai é suicidar. Há muito medo de punição. A carga de trabalho é desproporcional ao que aguentamos. O sistema digital operacional falha sempre, e o setor de TI da Cemig também está sem pessoal. A empresa não quer contratar, o Zema não quer concurso público”, disse um companheiro.

 “Unificaram o atendimento, né? É loucura. São vários perfis diferentes. E, desta forma, o atendimento precisa ser muito qualificado, não só com conhecimento técnico, mas também com diplomacia, porque há políticos interferindo”, revelou um agente. Ele criticou que, “o pobre coitado do trabalhador atende a indústria, o produtor rural, o poder público. E não aguenta. É como cobrar um escanteio e correr para a área cabecear para o gol. Assim é impossível”.

Vários trabalhadores disseram que é preciso não só contratar mais agentes comerciais, é fundamental contratar na área operacional, pois, se não tiver o trabalhador em campo, o serviço não sai.  “O efeito é dominó, abre-se uma Nota de Serviço e o pessoal da rua precisa fazer a atividade”, observou. Afirmou, também, que o trabalhador não é o culpado, incluindo os companheiros terceirizados, que são mais explorados e sofrem com a alta rotatividade das empreiteiras.

Um eletricitário que atuou como agente de relacionamento lembrou que, antes, havia equipes só para atender o poder público, outras só para a iniciativa privada, mas agora “fundiu tudo e foi instalado o caos e o desespero”. Segundo ele, os agentes comerciais estão “aprendendo na marra, sem treinamento específico.”

Outra questão, apontou, é que, com a pandemia, grande parte do atendimento se tornou virtual. E, em muitos casos, as pessoas não conseguem resolver na agência virtual, mas ligam para o prefeito, para o vereador. E os políticos vão cobrar do governador e da direção da Cemig.

“O telefone toca sem parar, e os políticos ligam também, sempre. Pressão por todo lado, muito complicado”, contou. O trabalhador acrescentou que muitos colegas estão tomando medicamentos para depressão e ansiedade. “Eu sou um que tomo remédio para pressão alta. Essas condições de trabalho – somos advertidos e ameaçados de levar balão, toda hora- afetam nossa saúde, podemos desabar a qualquer momento”, lamentou.

Alertamos e cobramos solução

O Sindieletro vem alertando há anos que essa política de redução de pessoal próprio, com sucessivos e agressivos programas de desligamento, sem a contratação de novos trabalhadores através de concurso público, iria acabar mal.

Alertamos que os setores operacionais estavam só diminuindo o quadro de trabalhadores e, as empreiteiras, com os trabalhadores terceirizados, não dariam conta de todo o trabalho. E sempre cobramos a solução.

Hoje assistimos as consequências dessa política. E como o interesse do governador Romeu Zema e dos gestores colocados por ele na Cemig é o de privatizar a companhia, eles seguem com essa estratégia absurda que causa o adoecimento dos trabalhadores. Com o adoecimento, a produtividade cai ainda mais, a pressão sobre os eletricitários aumenta e vários “pedem para sair” antes que algo mais grave lhes aconteça. E a “bola de neve” só aumenta.

Até quando a gestão da Cemig, nas pessoas de seu presidente, Reynaldo Passanezi Filho, e seu diretor de Finanças e Relações com investidores, Leonardo George de Magalhães, continuará a fazer o jogo do “mercado” e do governador Romeu Zema, desconsiderando o que é melhor para os consumidores da empresa e para a sociedade mineira, e adoecendo seus trabalhadores? Será preciso acontecer algo mais drástico para mudarem essa estratégia nefasta? Com a palavra a gestão da empresa e do governador...

 

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