Sindieletro participou do debate na Espanha



Sindieletro participou do debate na Espanha

Representantes de movimentos sociais e entidades sindicais de 15 países discutiram em Bilbao, na Espanha, o modelo econômico global, baseado em privatizações e predomínio de multinacionais. O seminário "Alimentos, água e energia não são mercadorias” terminou na última quinta-feira (31) e reuniu relatos de experiências que estão sendo realizadas nos mais diferentes países.

O coordenador geral do Sindieletro, Jairo Nogueira Filho, denunciou, durante o debate, um problema comum a todos os países. "A lógica das empresas é igual ao que vemos no Brasil, grandes represas, população atingida sendo desrespeitada, produção barata de energia e distribuição cara pro consumidor. Além disso, devido às barragens, vários locais vivem o drama da falta de água, da Palestina a Europa e em toda America Latina”, destacou.

Uma das denúncias mais fortes feitas durante o seminário está relacionada à multinacional espanhola Iberdrola, que atua no setor de energia elétrica. Sob o nome de Neoenergia, a empresa também atua no Brasil e integra o consórcio vencedor da usina de Belo Monte (PA) e na barragem de Foz do Iguaçu (PR). "Eles levam sua política de gestão para os países onde atuam, não respeitam governos, cultura local e direitos dos trabalhadores", disse Jairo Nogueira Filho.

Na noite de quarta-feira (30), trabalhadores e representantes de cerca de movimentos sociais saíram às ruas de Bilbao para um protesto contra a companhia e fizeram uma passeata até a sede da empresa. “A Iberdrola tem dívidas históricas com o Brasil, o México, a Guatemala, a Colômbia e também com os companheiros aqui do País Vasco. A Iberdrola faz propaganda de que produz uma energia limpa, mas na verdade, produz energia suja de sangue em nossos países”, disse o representante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Leonardo Bauer.

Ainda segundo Jairo Nogueira, esse modelo das transacionais que dá prioridade ao lucro tem criado situações comuns em todos os países e que afetam diretamente o trabalhador. "Nesse sentido, os problemas são redução salarial, demissões, rotatividade, terceirização, retirada da população ribeirinha com indenizações bem abaixo do valor de mercado, barragens em vários locais de um mesmo rio causando inúmeros danos ambientais e até mesmo a construção de barragens para irrigação, atendendo ao agronegocio", disse.
Água
Além da questão da energia elétrica, a privatização da água também foi tema de discussão no seminário. Representantes da Recommon, do Fórum da Água e do Movimento pela Água, todos da Itália, criticaram a política de privatização de água no país europeu e relataram que, após muita mobilização, conseguiram revogar uma lei, aprovada no governo de Slvio Berlusconi, que pretendia obrigar os municípios a privatizar 40% dos serviços de água potável.

“Hoje vivemos na era do capitalismo financeiro, onde trocar dinheiro, riscos e outros produtos associados é muito mais benéfico para a acumulação de capital que trocar os bens e serviços comerciais. Estão fazendo uma extração de recursos públicos para o benefício privado”, disse Caterina Amiucci, do Fórum Italiano da Água.

Alimentos

Já o debate sobre a produção de alimento se voltou para a questão da má distribuição de terras e grande especulação imobiliária, que impede que a população tenha acesso à propriedade para garantir seu sustento. Relatos de experiências brasileiras europeias apontaram que os problemas são os mesmos nos diferentes países.

Segundo o representante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Erivan dos Santos, afirmou que atualmente a agricultura familiar é responsável por 70% da produção de alimentos no Brasil. No entanto, apenas as grandes propriedades do agronegócio, voltadas para a exportação de commodities, recebem incentivos do governo. “As transnacionais no Brasil só funcionam porque também há investimento do Estado nessas empresas. O governo fez uma opção pelo agronegócio”, afirmou.

Na Espanha, sindicalistas denunciaram a dificuldade de acesso à terra. "A terra está muito repartida, há muita especulação. Os jovens estão comprando terrenos nas montanhas, onde é muito difícil a produção agroecológica", disse Unai Aranguren, da Via Campesina Europa.
“Terra não pode servir para enriquecer aqueles que já enriqueceram ao longo do tempo em nossa Andaluzia. Nossas lutas, mesmo que ilegais, são justas e legitimas, porque se não lutamos não temos futuro”, completou a Mari Carmen, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores do Campo de Andaluzia.

Propostas
Várias propostas foram discutidas durante o seminário, entre elas uma coalizão mundial. Jairo Nogueira Filho explica que primeiro é preciso ter claro quem são os verdadeiros adversários, estudá-los e preparar estratégias de luta. “É preciso ainda envolver duas regiões que não estiveram aqui, África e Ásia, em especial a China. Esta claro que o cenário mundial está mudando muito rápido e de forma padronizada, então a reação dos trabalhadores também deve ser pensada a nível mundial", ressaltou.
Além disso, ele garantiu que o movimento sindical de Minas busca uma aproximação com sindicatos europeus, onde a questão do desemprego está muito forte e o sindicalismo vem perdendo força. "Aqui em Bilbao, todos os dias acontecem assembleias de trabalhadores desempregados e o clima é tenso. A proposta da nossa presença aqui é tentar esta aproximação com os trabalhadores e sindicatos do setor".

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