A base operacional da Cemig no bairro São Gabriel, em Belo Horizonte, foi fechada em prol da eficiência, para permitir investimentos na melhoria dos serviços. A justificativa foi apresentada pelo diretor-presidente da empresa, Cledorvino Belini, que atendeu à convocação da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) e participou, nesta terça-feira (24/9/19), de audiência da Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social.
A justificativa, no entanto, foi contestada por representantes dos trabalhadores, que apontaram o distanciamento entre eletricistas e consumidores, com prejuízos para mais de 1 milhão de pessoas, sobretudo do vetor Norte da Capital, além de outros municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Eles pediram a reversão do fechamento da base e a abertura de diálogo.
A transferência dos trabalhadores da base São Gabriel para a base do Anel Rodoviário, na divisa entre BH e Contagem, também foi criticada, inclusive em função do trânsito intenso no Anel, que pode dificultar o deslocamento das equipes de atendimento. Para os sindicalistas, a lógica é depreciar a Cemig e piorar seu atendimento para justificar sua privatização, intenção já anunciada pelo governador Romeu Zema.
Economia – Belini afirmou que o fechamento da base São Gabriel, ocorrida neste mês, vai gerar economia de R$ 1,2 milhão/ano, gastos hoje com manutenção, limpeza e segurança, entre outros. Além disso, segundo ele, a venda do prédio geraria entre R$ 12 milhões e R$ 13 milhões para investimentos na melhoria do serviço, reduzindo cortes de energia, por exemplo.
De acordo com o presidente, desde 2003 a Cemig não cumpre os marcos regulatórios, deixando de investir cerca de R$ 500 milhões/ano. “Temos R$ 12 bilhões em dívidas, tomados há dois anos, com custo elevado. Perdemos 50% da capacidade de geração, com a perda de outorgas em 2017. Precisamos de R$ 5 bilhões para outras que estão vencendo. Se não cuidarmos, a empresa pode quebrar”, apontou.
O superintendente de Serviços Comerciais e Emergenciais da Cemig, Mauro Campos, explicou o fluxo de atendimento aos consumidores e ressaltou o papel da tecnologia nessa logística, como o uso de georreferenciamento para interligar rapidamente os pontos de demanda e as equipes espalhadas pela RMBH. Segundo ele, a base do Anel Rodoviário tem condições plenas de receber os trabalhadores do São Gabriel e está, justamente, no ponto de maior demanda na RMBH.
Já Ronaldo Gomes de Abreu, da Diretoria de Distribuição e Comercialização da Cemig, frisou os investimentos em curso na companhia, que somam R$ 6,2 bilhões até 2022. As obras, segundo ele, trarão incrementos de 17% nas linhas de distribuição e de 20% no número de subestações e na capacidade instalada, entre outros avanços.
Sindicalistas apontam perdas inclusive para a Cemig
O distanciamento entre os eletricistas e os consumidores trará prejuízos para a sociedade, mas também para a própria Cemig. O alerta vem dos representantes dos trabalhadores, que citam risco de não atendimento do DEC, um indicador de continuidade estabelecido pela agência reguladora (Aneel) que fixa o tempo que o consumidor pode ficar sem energia ao longo do ano.
“Qualquer projeto de eficiência tem que considerar a agilidade do serviço”, pontuou o coordenador-geral do Sindieletro-MG, Jefferson Teixeira da Silva.
Segundo ele, 50 pequenas bases já foram fechadas no Estado, no início deste ano, sem nenhuma negociação. Entre os vários exemplos, ele citou o fim da unidade em Jaboticatubas, que atendia toda a região da Serra do Cipó. O atendimento, que tinha vindo para o São Gabriel, agora ficará no Anel Rodoviário.
“A Cemig está abandonando o vetor Norte”, decretou também o secretário-geral da Central Única dos Trabalhadores, Jairo Nogueira Filho. Ele destacou que a base São Gabriel arrecada mais de R$ 2 bilhões por ano, sendo, portanto, lucrativa.
Elisa Novy, do Sindieletro, citou ainda o fechamento da base Itambé, que cuida da fiação subterrânea do hipercentro de Belo Horizonte. As equipes, segundo ela, foram deslocadas para a Cidade Industrial. Ainda na fase de debates, houve também questionamentos sobre as condições de trabalho na Cemig e sobre a possibilidade de privatização.
Deputados pedem diálogo
A deputada Beatriz Cerqueira (PT) e os deputados Celinho Sintrocel (PCdoB) e Betão (PT), autores do requerimento para a audiência, cobraram diálogo da Cemig com os trabalhadores e também com os 11 municípios que serão afetados pelo fechamento da base São Gabriel. Nesta quarta-feira (25), inclusive, essas cidades serão ouvidas em audiência da Comissão de Administração Pública, às 16 horas.
Beatriz Cerqueira citou audiência realizada antes do fechamento, na qual não houve representação da Cemig. “Visitei a base e não havia data prevista para fechamento. Dias depois, ela foi fechada”, criticou. Segundo ela, os próprios trabalhadores de São Gabriel foram avisados numa quinta-feira que a mudança se daria na segunda-feira seguinte. “O Anel Rodoviário ficou fechado por 12 horas ontem”, reiterou, antevendo dificuldades no atendimento da Cemig.
Betão lembrou o fechamento de outras unidades no Estado e o prejuízo também para os trabalhadores. “No Sul de Minas, o atendimento de Bom Jardim de Minas foi para Caxambu, a quase cem quilômetros”, citou. Ele também manifestou temor de que esteja ocorrendo um “desmantelamento de uma empresa lucrativa com vistas à privatização”.
Já Celinho Sintrocel reforçou o pedido ao presidente da Cemig para que abra um canal de diálogo com os trabalhadores, com o objetivo de corrigir decisões eventualmente equivocadas. “Me preocupa também o Vale do Aço. Minha casa já ficou 12 horas sem energia. A Cemig se propõe a corrigir isso com investimentos. Se não resultar em sucesso, teremos muitas audiências aqui para tratar disso”, pontuou.
O deputado Alencar da Silveira Jr. (PDT) também esteve na audiência e citou o exemplo de Goiás, onde, segundo ele, 89% da população já se posiciona contra a empresa que assumiu a estatal de energia, apenas dois meses depois da privatização. “Vamos receber aqui a comissão da Assembleia Legislativa de Goiás para ver o que aconteceu por lá. Já houve um aumento na conta de 17%”, adiantou, defendendo a manutenção do “patrimônio de Minas Gerais”.
ALMG