José Avelino, ou “Seu” Avelino, como é chamado na família e entre os amigos, eletricista de linhas e redes aposentado da Cemig desde 1984, tem muita história para contar dos tempos em que as lutas dos eletricitários e de toda a classe trabalhadora se davam em plena ditadura militar. O que ele revela deixa a certeza de que, mesmo com toda a repressão, a categoria eletricitária nunca fugiu à luta.
Ele entrou na Cemig em 1970 e não demorou muito para se tornar uma liderança entre os companheiros da Cidade Industrial, onde trabalhou até a aposentadoria. “Seu” Avelino lembra que sempre foi muito comunicativo, sempre gostou de ouvir e nunca deixou de se posicionar diante de uma injustiça. Assim, tornou--se logo um “conselheiro” dos colegas no local de trabalho, até evoluir para encaminhar as de mandas dos eletricitários da Cidade Industrial para a chefia.
“Não sei como explicar minha aproximação com os trabalhadores, mas antes de ir para a Cemig eu já participava de debates sobre política e apoiava o Getúlio Vargas. Mexia também com movimentos sociais e de igreja e todo mundo sabia que eu era contra a ditadura, sentia ojeriza do sistema militar”, justifica.
Carismático, rapidamente “Seu” Avelino foi eleito representante da CIPA e seu nome foi proposto para compor a direção do Sindieletro. Assim, nos anos 70, ele foi eleito na chapa da ex-presidente do Sindicato, Maria Felícia Macedo. E na década de 80 participou da diretoria que teve Vivaldo Souza como presidente.
“História do Chevette”
No Sindicato, “Seu” Avelino conduziu lutas diante de dificuldades financeiras da entidade e a repressão dos militares. O aposentado conta que o Sindieletro do seu tempo tinha poucos recursos, porque o trabalhador que se filiasse já era marcado na empresa e pelo regime da ditadura. Para se ter uma ideia, acrescenta, o Sindieletro não tinha nenhum carro para os dirigentes sindicais realizarem o trabalho de base, e havia apenas um telefone, muito disputado.
Mas deu-se um jeito com a “história do Chevette” do “Seu” Avelino. Ele colocava o Chevette para rodar por conta do Sindieletro, para distribuição de boletins, panfletagem, realização de assembléias, reuniões, entre outras ações sindicais. Segundo “Seu” Avelino, o carro tornou--se “pau para toda obra”, rodava de dia, de noite e de madrugada. “Sentia uma grande satisfação de disponibilizar o veículo para a luta dos trabalhadores”, destaca.
Nessa época, lembra, as condições de trabalho eram precaríssimas. Por exemplo: a Cemig exigia que os eletricistas ficassem à disposição, 24 horas, de segunda a se-unda, mas sem pagar o sobreaviso. As horas extras eram limitadas a 52 horas por mês, porém, se o trabalhador ultrapassasse esse limite, não recebia o excedente.
Houve situações, revela, que eletricista foi convocado ao trabalho quando estava em um bar, bebendo. E foi trabalhar, para subir em poste. “Depois é que o sobreaviso foi conquistado, com regras para garantir a segurança do trabalhador. Em seguida conquistamos também o pagamento de horas extras, sem limites para pa gamento”, lembra.
Na ditadura
De acordo com o “Seu” Avelino, também havia a realidade das perseguições e repressões da dita dura contra as lideranças sindicais. “A gente trabalhava muito integrado a outros sindicatos. E assim, vimos líderes sindicais precisando fugir, esconder-se, incluindo dirigentes do Sindieletro. Algumas lideranças foram presas e outras desa pareceram”.
“Seu” Avelino tam bém foi vítima. Ele re vela: “Recebi muitos telefonemas anônimos com ameaças, tipo, va mos te pegar, você vai ver, vai para os porões. Eu tomava todo cuidado para não chegar em casa muito tarde, pois várias vezes me deparei com desconhecidos no portão, impedindo minha passagem, com postura e olhares de ameaças”.
Para “Seu Avelino, mesmo com toda repressão, a luta valeu a pena. “Se a gente não lutasse, o que seria dos eletricitários? Valeram muito cada coragem e cada medo, cada enfren- tamento à repressão e às injustiças”, concluiu.
Por Mariângela Castro