Servidores da Funai anunciam greve pela saída de Marcelo Xavier



Servidores da Funai anunciam greve pela saída de Marcelo Xavier

Servidores que atuam em pelo menos 18 subsedes da Fundação Nacional do Índio (Funai) farão greve nesta quinta-feira (23). Eles reivindicam a saída de Marcelo Xavier da presidência do órgão e também uma investigação aprofundada da morte do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips.

Bruno estava licenciado da Funai desde 2019. O indigenista, visto como conhecedor profundo de assuntos relativos a índios isolados, era alvo de pressões de ruralistas, que se intensificaram sob o novo e favorável (para eles) governo de Jair Bolsonaro (PL) e a gestão de Marcelo Xavier. Por causa de obstáculos impostos à realização de seu trabalho, pediu afastamento.

Nos últimos anos, diversas bases da Funai foram atacadas, inclusive a do Vale do Javari, onde Bruno e Dom foram assassinados. Por isso, em manifesto, os servidores pedem condições mínimas de trabalho e “segurança para a execução da nossa missão institucional de promove e proteger os direitos dos povos indígenas”.

O estopim que pode levar os servidores da Funai à greve são declarações do presidente do órgão e a falta de uma retratação pública durante as investigações sobre o desaparecimento de Bruno e Dom. Xavier chegou a dizer que os dois desapareceram por terem se colocado em risco ao entrar na Terra Indígena (TI) do Vale do Javari sem autorização do órgão. E que “é muito complicado quando duas pessoas apenas decidem entrar na terra indígena, sem nenhuma comunicação aos órgãos de segurança”.

Servidores da Funai aguardam reunião

Desde o início das buscas, os servidores pedem uma reunião com o presidente para falar do caso. Mas até agora seguem sem nenhuma resposta.

A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Unijava), entidade para a qual Bruno fazia consultoria, bem como os servidores alegam que o sertanista e o jornalista percorreram o entorno da Terra Indígena do Vale do Javari durante a viagem.

Marcelo Xavier foi consultor da CPI da Funai e do Incra em 2017. Articulado pela bancada ruralista, o relatório final pedia o indiciamento de lideranças e entidades indígenas. E até de procuradores da República conhecidos por uma atuação de defesa dos direitos desses povos.

Ele é próximo ao ruralista Luiz Antonio Nabhan Garcia, atual secretário especial de Assuntos Fundiários, que o nomeou assessor, cargo que não assumiu. Também assessorou a Secretaria de Governo para questão agrária no governo de Michel Temer. E ainda atuou como ouvidor da Funai, época em que chegou a pedir que a Polícia Federal investigasse ONGs e indígenas.

Delegado da PF na presidência da Funai

De acordo com um dossiê produzido pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) e pela organização Indigenistas Associados (INA), Xavier, um delegado da Polícia Federal, é responsável pela criação de uma política anti-indigenista na própria Funai. E também por omissão, junto ao governo federal, no caso dos mortos no Vale do Javari.

Servidores da Funai ouvidos pelo jornal Folha de S.Paulo sob condição de anonimato afirmam que a falta de servidores contribui para o aumento da violência, dificulta as atividades de fiscalização e eleva os riscos da atuação em campo.

Bruno atuou por mais de uma década no Vale do Javari, que concentra a maior porção de povos isolados no mundo. E coordenou atividades na região, antes de ser deslocado para Brasília, em 2018.

Foi exonerado do cargo por Xavier e logo depois de chefiar uma operação que destruiu 60 balsas do garimpo na região. O ministro da Justiça da época, que assinou a demissão do indigenista, era Sergio Moro.

Fonte: Rede Brasil Atual

 

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