Brasília – O governo sofreu mais um abalo hoje (30) com o anúncio feito há pouco, pelo ex-ministro da Justiça, o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), de que não assumirá o Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle. Serraglio, oficialmente, disse que tem muito a fazer na retomada ao Congresso Nacional. Nos bastidores, ele não esconde que ficou chateado pelo convite feito a Torquato Jardim para substituí-lo sem que fosse consultado. A notícia deixou em polvorosa parlamentares da oposição e da base aliada no Congresso: com a volta de Serraglio ao mandato na Câmara, seu suplente, Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), deixa o cargo e perde o foro privilegiado, passando a ser julgado pelo juiz Sérgio Moro.
Rocha Loures, ex-assessor de Temer no Palácio do Planalto, foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil referente a propina negociada para ser paga todo mês, ao longo de 20 anos, pela JBS. E citado durante áudios de conversa entre o presidente da República e o empresário Joesley Batista, dono da JBS, como o interlocutor com quem ele (Batista) poderia tratar assuntos referentes ao presidente.
Aguarda-se que possa ser decretada sua prisão provisória e já se cogita uma delação premiada.
A estratégia adotada pelo Palácio do Planalto nos últimos dias, que ruiu esta manhã como um castelo de cartas, teria como pano de fundo minimizar as críticas à má condução do ministro da Justiça em relação à manifestação da última quarta-feira (quando só quem se posicionou foi o ministro da Defesa, Raul Jungmann). E, ao mesmo tempo, tentar uma aproximação do governo com o atual líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), com a indicação de Torquato Jardim para o cargo.
Calheiros, que tem feito críticas diversas a Temer e à condução do Executivo como um todo, já demonstrou satisfação com a troca e chegou a elogiar Torquato Jardim. Mas os ministros da equipe de articulação política não contavam com o revés da recusa de Serraglio em assumir a Transparência. Um dos objetivos do governo é conseguir, com o apoio de Jardim, que já foi ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o adiamento do julgamento das contas da chapa eleitoral Dilma-Temer de 2014.
O julgamento está previsto para acontecer na próxima semana e o Planalto trabalha para que haja pedido de vista por parte de algum dos ministros da Corte – como forma de se ganhar tempo. Mas com um clima de animosidade dentro da base que dá sustentação Temer no Congresso, a situação fica mais difícil e o quadro pode interferir na avaliação dos ministros, analisam deputados.
Além da mudança de planos, a volta de Serraglio para a Câmara piora o racha em torno de Temer no Congresso. E aumenta a pressão sobre Rocha Loures, que de acordo com peemedebistas próximos do Palácio do Planalto tem vivido situação de muito estresse nas últimas semanas. Estaria tendo tido crises de choro e se considerando encurralado, já que até o advogado inicialmente desistiu de pegar sua causa.
“Além do estado depressivo normal de quem foi flagrado em tais circunstâncias, a situação piorou depois de Loures ter escutado as declarações de Temer de que não tinha maior aproximação com ele, porque era considerado pessoa da mais estreita confiança do presidente. O temor da equipe do Planalto, que sabe dessas queixas, é que Loures não resista e faça a opção pela delação premiada, contando tudo o que sabe”, confidenciou um parlamentar à RBA.
No último final de semana, o atual advogado de Rocha Loures, Cezar Roberto Bitencourt, afirmou em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo que embora se considere “filosoficamente contrário” ao instrumento da delação premiada, como defensor, precisará buscar o que considerar melhor para o seu cliente – dando uma espécie de recado a Temer.
Desde a semana passada se falava, no Congresso que Loures tinha feito chegar à força-tarefa da Lava Jato um pedido de informações sobre o que poderia negociar, no caso de fazer uma delação premiada, e possíveis benefícios que poderia vir a ter. E vinha, em paralelo, mantendo conversas reservadas com interlocutores do Palácio do Planalto sobre que tipo de proteção poderia conseguir por parte do Executivo.
Osmar Serraglio colocou mais lenha na fogueira da crise política. E no enredo Joesley Batista-Temer-Loures.
Fonte: Rede Brasil Atual