O Sindieletro realizou nos dias 19 e 20 de maio o Seminário Nacional de Políticas Energéticas, com a participação de representantes de cinco países da América Latina, estudiosos do setor elétrico, sindicalistas, e militantes de movimentos sociais. Eles debateram a realidade do setor energético no Brasil e no mundo.
O professor do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC) e doutor em política pela USP, Igor Fuser, defendeu que a política energética de todo e qualquer país precisa atender a necessidade social. “É preciso encarar o debate como questão de valor, e nosso principal valor é a necessidade social, com as políticas de energia contemplando prioritariamente a agricultura familiar, o biodiesel, a biomassa e o etanol, por exemplo, e outras ações que beneficiem a sociedade”, destacou. Ele também citou que o Pré-sal deve ser usado para melhorar a vida dos brasileiros.
Na Argentina, uma das críticas de Gabriel Fernando Martinez, diretor da Federação dos Trabalhadores em Energia e Central dos Trabalhadores da Argentina, é que o país não tem autonomia na gestão da energia e nos recursos naturais, como a água e o minério. “No meu país o governo reestatizou a empresa de petróleo, mas permaneceu com a gestão privada, que visa só o lucro e atende prioritariamente a indústria. A população é prejudicada com os altos preços”. De acordo com Gabriel Martinez, os trabalhadores argentinos lutam para que toda a sociedade participe das decisões dos setores estratégicos, como os de energia e agricultura. “A Argentina exporta alimentos, mas as crianças argentinas morrem de fome. Isso não é certo, isso precisa mudar. Toda gestão de nossos recursos deve ser feita para atender a demanda do povo”, defendeu.
Energia com preservação ambiental
O diretor do Núcleo Estratégico do Ministério das Minas e Energia, Gilberto Hollauer, apresentou o planejamento do governo em relação à expansão, contratações, leilões e sustentabilidade do sistema até o ano 2022.
Com aproveitamento de 31% do potencial hidrelétrico, o Brasil é o sétimo país em geração de hidroeletricidade. Mas, diante das cobranças da sociedade, o representante do governo reconhece que o desafio do país é usar esse potencial reduzindo o impacto ambiental. Hollauer afirmou que, para a construção da matriz energética do futuro, o governo investe em programas de eficiência e busca alternativas, inclusive em relação às hidrelétricas.
Ele explicou que o governo se prepara para usar a usina de plataforma, modelo com nova metodologia para planejar, projetar, construir e operar um aproveitamento hidrelétrico em áreas de baixa ou nenhuma degradação ambiental. O representante do Ministério de Minas e Energia afirma que, enquanto nas usinas tradicionais a função essencial é a do desenvolvimento, as usinas de plataforma se propõem a promover a preservação ambiental na área em que é instalada. “O Canadá já adotou este modelo há anos. Lá, índios têm participação nas usinas. A meta desse modelo é que, para cada quilômetro quadrado de intervenção, tenha 101 quilômetros quadrados de área preservada”, exemplificou.
Etanol
Apesar da cana de açúcar ser a segunda fonte de energia e da previsão de que esse produto representará 17.7% na matriz de oferta interna de energia até 2022, o governo foi questionado pelo pouco incentivo à produção do Etanol. O professor da Universidade Federal da Bahia, Giorgio Romano, especialista em mudanças climáticas, analisou alternativas para a matriz energética brasileira. Para ele, o país avançou muito no combate às queimadas e desmatamentos na Amazônia, mas é preciso investir mais em energias renováveis como os combustíveis a base da cana de açúcar.
Para Romano, a política energética do governo federal ainda é pró-gasolina, com importação desse combustível, subsídio e incentivos ficais à energia fóssil.
O professor alerta que as políticas nacionais voltadas para o etanol têm que mudar para que o combustível deixe de ser a fonte do problema, como o gerado pelo trabalho escravo nos canaviais, e se torne parte da solução energética para o Brasil.