“Cada dia está mais difícil cumprir nosso juramento, principalmente a parte que diz que a ‘saúde dos pacientes será a minha primeira preocupação’. Nossa missão é salvar vidas, mas, sem infraestrutura adequada, essa tarefa se torna inviável. Uma luta sem fim e praticamente perdida”.
O desabafo é de um clínico geral da rede municipal de Belo Horizonte, uma das 1.557 cidades que receberão investimentos do programa Mais Médicos, do governo federal. A iniciativa pretende ampliar o número de profissionais nas unidades de saúde e prevê até a contratação de estrangeiros.
Mas, na linha de frente do SUS, médicos de todas as especialidades afirmam que o atendimento é comprometido muito mais pela falta de estrutura do que pela escassez de mão de obra. Não há material básico, como oxigênio, e às vezes nem espaço para atender os doentes com dignidade.
As reclamações não param de chegar ao Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (Sinmed-MG). Há cerca de três meses, a entidade criou um canal de denúncias para os associados. Desde então, recebe, por dia, uma média de dez relatos sobre condições precárias de trabalho.
Um clínico geral do Centro de Saúde Miramar (Barreiro) afirma, por exemplo, que a unidade tem poucas salas e que a escala de trabalho tem que ser feita em função da disponibilidade delas. “Dispomos de três consultórios ginecológicos, que são duramente disputados entre generalistas, ginecologistas, enfermeiros e acadêmicos de medicina e de enfermagem”, diz. A falta de materiais para a realização de exames ginecológicos seria recorrente.
O Centro de Saúde Jardim Comerciários, em Venda Nova, também é alvo de constantes reclamações. De acordo com um médico, faltam materiais médico-hospitalares na sala de observação e, em diversas situações, medidas simples como obtenção de acesso venoso e oferta de oxigênio suplementar deixaram de ser realizadas pela carência desses insumos.
“Todas as situações estão devidamente documentadas no livro de ocorrências da unidade e nenhuma providência até a data atual (da denúncia) foi tomada”, diz o relato.
O Hoje em Dia esteve no posto na última sexta-feira. Além dos problemas descritos, um aparelho de ar condicionado capta o ar da sala de curativos e o lança em um consultório. Os profissionais dizem que a ventilação não é adequada.
Sem privacidade
Uma profissional do Centro de Atendimento de Infectologia, anexo ao Posto de Atendimento Médico (PAM) Sagrada Família, denuncia que o imóvel prejudica o acolhimento dos pacientes, em geral portadores de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). “Em algumas salas, as janelas não têm sequer cortinas e os pacientes ficam expostos durante os exames físicos”.
A situação no Centro de Saúde São Miguel Arcanjo, no bairro Serra (Centro-Sul), é tão degradante que, em vez de denúncias, os médicos preferiram enviar fotos mostrando a precariedade do imóvel, que tem infiltrações nas paredes de um consultório ginecológico, a poucos centímetros da maca das pacientes.