Greve de 2013: 10 anos depois, a pauta de saúde e segurança volta a ser debatida com prioridade
O tema saúde e segurança sempre foi um dilema na relação trabalhista na sociedade capitalista. A lógica de acumulação de capital, na Cemig, através de maximização de lucros aos acionistas, aponta no sentido contrário à garantia de um ambiente de trabalho saudável e com segurança. Quem não conhece a política de eficiência operacional? Implementada por gestões anteriores e mantida como base da política do trabalho na empresa, visa reduzir a força de trabalho mantendo o desenvolvimento das atividades, cobrando mais produtividade. Na gestão Zema, foi intensificada pelo autoritarismo e viés ideológico.
Um bom exemplo na história de luta da categoria eletricitária Cemig, no que diz respeito ao antagonismo entre os interesses de aumento do lucro e condições dignas de trabalho, foi na negociação do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) Cemig de 2013. Neste ano, fizemos um amplo debate sobre saúde e segurança e a necessidade de dar tratamento às denúncias da categoria relacionadas à piora das condições de vida no trabalho.
No momento em que lutávamos pela renovação do ACT 2013, tendo como uma das reivindicações prioritária o Pacto de Saúde e Segurança, morreu o eletricista da Cemig Carlos Alberto Ribeiro (Carlão), no dia 21 de outubro. Carlão, com mais de vinte anos de experiência em atividade de linha viva (manutenção em redes energizadas), foi vítima de choque elétrico quando realizava manutenção nas redes da Cemig. O trágico acidente impactou a categoria e fortaleceu a necessidade de debater o tema Saúde e Segurança.
O Pacto de Saúde e Segurança foi uma das conquistas na negociação do ACT de 2013. A reivindicação tinha como objetivo aprofundar o debate sobre os processos de trabalho e dar os devidos encaminhamentos a fim de melhorar as condições do trabalho e de vida no trabalho.
O fechamento do ACT só foi possível depois daquela difícil, mas importante e necessária greve que exigiu ousadia da direção do Sindieletro e da categoria ao realizar os "piquetes" nas portarias da empresa. O dia 4 de dezembro virou um marco na luta da categoria, quando fechamos o edifício Sede da empresa e avançamos no fechamento do ACT. Esse dia ficou conhecido como “O dia em que a Sede parou”.
Por conta da morte do companheiro Carlão, iniciamos os trabalhos no Pacto de Saúde e Segurança, debatendo as atividades das equipes de Linha Viva. Foram 9 reuniões ao longo do ano de 2014 com participação dos sindicatos, eletricistas e técnicos representando equipes da Linha Viva de todo o estado, SESMT, RH e convidados. Foi perturbador ouvir os relatos dos eletricistas e conhecer a história do trabalho realizada pelas equipes, o nível de adoecimento e os riscos de acidentes ocasionados pelas sucessivas reestruturações que visavam garantir a manutenção com a rede energizada com menos trabalhadores. Naquele momento, conquistamos a não implementação da dupla de Linha Viva e outras demandas que surgiram no debate com os trabalhadores. O resultado do Pacto de Saúde e Segurança escancarou as contradições do modelo de gestão e o comprometimento da eficiência operacional nas condições de trabalho das equipes de Linha Viva; a gestão da empresa estancou qualquer possibilidade de continuidade de discussão de outros processos de trabalho via Pacto de Saúde e Segurança.
Assim como em 2013, em outros anos, nossa luta pela renovação do ACT apontava prioridade em reivindicações que o Sindieletro e a categoria entendiam ser primordiais para melhorar as condições de trabalho: concurso público e primarização também têm grande relevância na história de luta da categoria.
Nesse momento histórico, há um avanço do ultraliberalismo em vários países; no Brasil está sendo reproduzido em alguns governos estaduais, seguindo o Bolsonarismo. Em Minas Gerais, Zema aderiu à pauta da extrema direita e discursa para esse público, o último, utilizou frase do fascista Benito Mussolini para remeter sua opinião contra a inelegibilidade de Bolsonaro. Na Cemig, Zema e sua turma, ideologicamente contrários aos serviços públicos e empresas estatais, desempenham uma relação revanchista contra os trabalhadores, principalmente com os concursados, que denunciam os atos de corrupção desta gestão e que não entregam os direitos conquistados, como por exemplo o nosso plano de saúde.
A relação trabalhista, principalmente no funcionalismo público e em empresas estatais nos governos ultraliberais, como o atual governo Zema, tende a piorar as condições de trabalho, o assédio torna-se prática de gestão como forma de controle dos trabalhadores e dos processos de trabalho. O resultado dessa relação para os trabalhadores da Cemig tem sido o aumento dos adoecimentos e acidentes de trabalho.
Este ano voltaremos à luta pela renovação do ACT e precisamos construir nossa pauta de reivindicações. Como está a condição de trabalho no seu setor ou na sua equipe? O que a atual gestão alterou no seu processo de trabalho? E a relação hierárquica, como está? Essas são algumas das reflexões que precisam ser feitas e refletidas na nossa pauta de reivindicações e na luta por um ambiente de trabalho digno!
Cemig: esse ‘trem” é nosso!