Entre as principais causas de adoecimento dos educadores da rede estadual de ensino estão transtornos mentais e comportamentais, responsáveis por 30,82% dos afastamentos
Mais de 60 mil profissionais da Educação se afastaram das escolas estaduais de Minas Gerais por problemas de saúde em 2012. Os dados são da Secretaria de Estado de Educação (SEE) e revelam que 35% dos servidores do setor deixaram as atividades escolares por períodos que variam entre um e 60 dias durante o ano passado.
Ainda segundo a SEE, a principal causa para os afastamentos são transtornos mentais e comportamentais, responsáveis por tirar 30,82% dos profissionais das salas de aula. Em seguida estão doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo (20,51%), doenças do aparelho respiratório (8,74%) e doenças do aparelho circulatório (5,35%).
É o caso da professora Santuza Campos Pinto, de 54 anos, afastada há quase seis meses por problemas de saúde decorrentes do estresse provocado pelo trabalho. Professora há mais de 30 anos, ela apresentou dores fortes no abdômen no final do ano passado e foi diagnosticada em janeiro deste ano com Síndrome do Intestino Irritável, uma doença relacionada a questões emocionais.
"O médico disse que foi uma soma de vários fatores, mas a principal causa seria o meu desânimo e desencanto com a escola. Às vezes, eu chegava a sentir taquicardia antes de ir trabalhar", conta a professora. Desde então, ela iniciou um acompanhamento médico constante e um tratamento com psicólogo e psiquiatra, além de antidepressivos, mas ainda não conseguiu voltar a dar aulas.
Em abril ela voltou às salas de aula, mas seu quadro piorou muito e ela voltou a ser afastada. "Eu me vi em um desencanto total com a profissão em função da falta de condições de trabalho e remuneração baixa, mas estou batalhando muito para sair dessa situação porque ser professora foi uma escolha e um sonho", afirma.
Professora de Educação Física, Santuza relata que na escola onde trabalha faltam materiais didáticos e não há quadra coberta. "Em dia de chuva, por exemplo, levo os alunos para uma parte do pátio que é coberta e tenho que improvisar. Me sinto como uma tomadora de conta e não como uma professora. E essa desvalorização do profissional é muito triste".
Na avaliação da coordenadora-geral do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG), Beatriz Cerqueira, os números apresentados pela Secretaria de Educação são altos e revelam que a postura do Governo do Estado em relação à categoria tem afetado os profissionais nas escolas.
"Nos últimos anos, essa relação tem se tornado cada vez mais conflituosa e repercute no cotidiano das escolas. Por exemplo, o governo se aproveita das férias escolares para estabelecer resoluções que impactam no funcionamento das escolas. Em 7 de janeiro deste ano mesmo foi publicada uma medida alterando o quadro escolar e em dezembro do ano passado uma resolução sobre o currículo do Ensino Médio", afirma Beatriz Cerqueira.
Ainda conforme a coordenadora do Sind-UTE, há casos de advertências e punições a professores que questionam decisões Secretaria de Educação. "Temos informações de uma professora que foi acusada de desacato à autoridade por apontar problemas na dinâmica pedagógica instituída. Outro professor foi advertido porque levou uma turma de alunos para acompanhar uma manifestação e outra porque trocou mensagens com alunos, através de seu e-mail particular, sobre as mobilizações da categoria".
Ela destaca ainda que muitos professores optam por trabalhar adoecidos para não prejudicar os alunos ou se prejudicar no plano de carreira do Estado. "As licenças prejudicam o profissional porque, de acordo com o número de dias afastados, ele deixa de ter sua avaliação de desempenho realizada pelo Governo e não progride na carreira".