As construções em torno do sucesso do capitalismo e as políticas meritocráticas têm se afastado de uma realidade que seja benéfica aos trabalhadores. Em um momento de sucesso da abonança e lucratividade dos investimentos, do recorde de dividendos pagos e conquista de resultados nunca antes vistos na história da Cemig, há uma colisão traumática com a realidade calamitosa em que vivem os trabalhadores da Cemig e de outras empresas do grupo. Essa percepção se consolida nas descabidas e vergonhosas intenções da empresa para com trabalhadores da ativa e os que se aposentaram, consubstanciadas nas tentativas de descumprir acordos relativos a dívidas consolidadas da Cemig para com o plano de previdência, e um desejado calote nas obrigações com o plano de saúde. E na mesma linha das consequências negativas das quais são vítimas os trabalhadores, estão a precarização dos salários através da edição de um PCCR danoso e imposições de limites de montante à PLR, sem falar nas metas apontadas como impossíveis.
Mas não deveria ser o contrário? Um sucesso das premissas capitalistas, embasadas em ideias de diminuir custos, aumentar produtividade, valorizar os méritos de alguns(não todos), e pagar muitos dividendos para seus acionistas, não deveria refletir em ganhos para os trabalhadores?
Na realidade o capitalismo não é assim. Na exposição vitoriosa da gestão da Cemig feita ao mercado recentemente, ela apresenta um lucro líquido de um bilhão e cento e oitenta e dois milhões no terceiro trimestre de 2022, contra quatrocentos e vinte e um milhões do mesmo período em 2021. E este é só um dos números, porque tem muitos outros ainda mais animadores no relatório, tudo de bom para o capitalismo.
E para os trabalhadores? O que virá com tão bons resultados? Bem, se você é um bom capitalista e é trabalhador, deve entender que seu sacrifício faz parte do sucesso do mercado. Então para te recompensar por este sucesso da Cemig e, possivelmente, o aumento exorbitante de dividendos que serão distribuídos aos acionistas, a gestão da Cemig prepara para você, baseada nos bons princípios capitalistas, a limitação da PLR a um teto humilhante, sob o qual não adianta aumentar o lucro porque sua PLR não passará de um limite bem abaixo daquilo que você merece. Para os dividendos, quanto maiores os lucros, maiores estes serão. E quanto ao plano de saúde, não querem pagar pelos compromissos que assumiram.
A situação é muito ruim. A mesma empresa que causa adoecimento nos trabalhadores que perdura mesmo no pós-emprego, agora se recusa a assumir os custos dos reflexos de sua gestão capitalista ao longo dos tempos. Eles preparam pra você um plano bem aquém do que você tem hoje. Vão usar a estratégia de iludir quem está na ativa com a ideia de não pagar nada pelo plano enquanto estiver em atividade, mas por outro lado não terá o plano quando se aposentar. E quando se olha para o plano de previdência, para os aposentados atuais, querem dar calote nas dívidas da Cemig com a Forluz, contraídas no passado através de negociações e cessões da parte dos trabalhadores e empresa. Agora jogam os atos jurídicos perfeitos no lixo.
E para quem ainda acha que o capitalismo é um sucesso, é só analisar os reajustes dos nossos salários nesse período. No dia 31 de outubro a inflação a nós reconhecida é aquela fictícia que não reflete em nada a realidade brasileira. As medidas eleitoreiras causaram um encolhimento do índice que todos nós vamos absorver nos reajustes que recebemos. Para a empresa isto é tudo de bom, em breve estarão dizendo ao mercado que tudo isto lhe gerou mais resultados positivos, que por consequência serão futuros dividendos.
Enquanto não rompemos nossa trégua com o capitalismo, salários continuam caindo, PLR’s só para os privilegiados da alta direção, plano de previdência sob risco e o plano de saúde ameaçado. Será que realmente somos a favor desse sistema ou estamos sabendo o que defendemos?