Com muitos aplausos, o ex-dirigente sindical dos eletricitários em Minas, nos anos da ditadura militar, Clodesmidt Riani, recebeu alta na quinta-feira, 30, do Hospital Unimed, em Juiz de Fora (MG). Ele foi internado no dia 21 de julho com covid-19 e, com quase 100 anos (faz aniversário em 15 de outubro), venceu a doença. Realmente, merece aplausos! É um vencedor, e não só agora, com a doença, mas por toda a sua trajetória histórica de liderança sindical e política.
Apesar da idade avançada, Riani está lúcido e também comemorou muito a recuperação. Ele já se encontra em casa, em Juiz de Fora, recebendo os cuidados de um de seus 10 filhos.
Riani é conhecido em todo o país como uma importante liderança política e também sindical do setor elétrico em Minas, que foi perseguida pela ditadura. Ele se aposentou da Cemig em 1983 e foi diretor do Sindicato dos Eletricitários de Juiz de Fora e da FNU (Federação Nacional dos Urbanitarios). Também foi membro da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias (CNTI) e presidente do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT). Seu currículo ainda inclui: ex-deputado estadual nos anos 50, mas foi cassado pelos militares como sindicalista e como político. Riani foi preso e torturado pelo regime da ditadura (NA FOTO, ELE SENDO CONDUZIDO À PRISÃO). Depois de ter seus direitos políticos restabelecidos, foi reeleito deputado estadual, nos anos 80.
Ajudou a fundar a CGT em 1962, mas em 1964 a entidade foi cassada e Riani passou a encabeçar um dos primeiros nomes na lista dos cassados políticos.
Em Juiz de Fora, Riani integrou a Comissão da Verdade, criada no governo federal do PT para levantar os abusos da ditadura. Apurou os abusos do regime cometidos na cidade, e ele era uma das vítimas. Riani foi torturado e preso no período de 1964 a 1971. Ele teve chances de se exilar no estrangeiro, pois era dirigente do Conselho de Administração do Bureau Internacional do Trabalho, mas fez a opção de ficar no Brasil.
Quando tinha 93 anos, ele concedeu entrevista ao Chave Geral (jornal dos Eletricitários em Minas) e revelou que, preso, sofreu agressões físicas e psicológicas de militares. Soldados foram convocados para chutar o seu tornozelo e dar socos nos rins. Passou por várias prisões e em todas foi vítima de maus tratos e torturas. Acabou enquadrado na Lei de Segurança Nacional como subversivo.
“Vivi o inferno nos porões da ditadura, mas voltei à vida na Companhia Mineira de Eletricidade, depois encampada pela Cemig, na década de 80. Com a anistia em 1979, retornei também à minha vocação política e sindicalista”, destacou, Riani, na entrevista.
Apesar dos traumas, das perseguições e torturas, ele retomou a luta pelos eletricitários e demais trabalhadores brasileiros. Elegeu-se, nos anos 1980, duas vezes deputado estadual, pelo PMDB. Em 1994, em ato simbólico na Assembleia Legislativa de Minas, ele teve restituídos os três mandatos de deputado.