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A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) que investiga possíveis irregularidades na gestão e uso político da Cemig interroga, nesta quinta-feira (23/9/21), na condição de testemunha, o ex-diretor de Suprimentos e Serviços Compartilhados da Cemig, João Polati Filho. A reunião, que ocorre a partir das 14 horas, no Auditório José Alencar, será comandada pelo presidente da CPI da Cemig, deputado Cássio Soares (PSD).
O depoente seria o mais alto executivo da Cemig a se opor ao aparelhamento político que parece ter aberto as portas da empresa para uma série de contratações sem licitação e outras decisões temerárias. Tudo isso seria parte de uma estratégia de “desmanche”, em investigação pela CPI da Cemig, com o objetivo final de viabilizar politicamente a privatização da companhia, espécie de “obsessão” no governo de Romeu Zema.
Pelo apurado até o momento pelos deputados, mesmo com seus bons resultados financeiros, na atual administração do diretor-presidente Reynaldo Passanezi Filho, que começou em janeiro de 2020, a Cemig se abriu cada vez mais ao aparelhamento político, o que permitiu uma série de operações suspeitas na tentativa de minar a credibilidade juntamente ao seu principal acionista, a população de Minas Gerais, apesar da resistência dos servidores de carreira da companhia.
A privatização de empresas públicas é um dos requisitos para o Estado, ainda em meio a dificuldades financeiras, aderir ao Regime de Recuperação Fiscal (RFF).
Nesse contexto, o ex-diretor que será interrogado pela CPI da Cemig é considerado uma “caixa preta” de informações na montagem do intrincado quebra-cabeças da elaboração do relatório final da comissão, que deverá ser concluído e votado já no início de outubro.
A convocação de João Polati para prestar depoimento atende a requerimento assinado pelo vice-presidente e pelo relator da CPI da Cemig, respectivamente deputados Professor Cleiton (PSB) e Sávio Souza Cruz (MDB), e ainda pela deputada Beatriz Cerqueira (PT).
Bate-boca - Uma escolha pessoal do ex-diretor-presidente da Cemig, Cledorvino Belini, que dirigiu a empresa somente por 11 meses, entre fevereiro de 2019 e janeiro de 2020, João Polati teria se desligado da Cemig após uma discussão ríspida, no estacionamento do edifício-sede da empresa, com o atual mandatário da companhia Reynaldo Passanezi, conforme o apurado pelos deputados da CPI.
O ex-diretor de Suprimentos e Serviços Compartilhados era considerado o braço direito de Belini, com quem trabalhou na Fiat Automóveis por vários anos, sempre em setores estratégicos.
Publicamente, o próprio Belini se mostrou favorável à privatização da Cemig, mas, segundo o investigado pela CPI, pode ter havido divergências com a cúpula do Governo Zema sobre o tempo e o caminho para se chegar a esse fim.
Por sua vasta experiência na iniciativa privada, na Fiat e em outras empresas multinacionais, João Polati foi preservado por Reynaldo Passanezi até que, aparentemente por motivos semelhantes à saída de Belini, também foi descartado em meados do ano passado, assim como seriam na sequência diversos servidores de carreira que também ocupavam cargos estratégicos na companhia.
Dirigente do Novo teria atuado na contratação de presidente da empresa
Foi na mesma área de Suprimentos que era chefiada por João Polati que teria surgido, após sua saída, uma denúncia, no fim do ano passado, de desvio de materiais e corrupção que serviu de pretexto para o afastamento dos servidores de carreira.
Apesar de também ser investigado pelo Ministério Público, a avaliação da maioria dos deputados da CPI da Cemig, após mais de uma dezena de interrogatórios e milhares de páginas de documentos analisados, é de que esta seria uma “cortina de fumaça” para facilitar a estratégia de aparelhamento político.
De acordo com o já apurado pela CPI da Cemig, o caso mais flagrante disso envolve justamente a seleção e contratação do atual diretor-presidente Reynaldo Passanezi, que teve a participação direta do empresário Evandro Veiga Negrão de Lima Júnior. Ele não tem cargo na Cemig, nem no Executivo estadual, mas é secretário de Assuntos Institucionais e Legais do diretório do Partido Novo em Minas Gerais.
A Exec, empresa de headhunter responsável pelo processo de seleção, teria sido contratada, sem licitação, por R$ 170 mil. Em seu depoimento à CPI da Cemig no mês passado, o gerente de Provimento e Desenvolvimento de Pessoal da Cemig, Rômulo Provetti, admitiu que recebeu a proposta de contratação do diretor-presidente de Evandro, a quem não conhece, proposta que teria sido descartada por ele.
Convalidação - Contudo, a convalidação do contrato da Exec seguiu e foi aprovado em fevereiro de 2020, mais de 30 dias depois de o diretor-presidente Reynaldo Passanezi ter sido nomeado para o cargo. Ou seja, ele “contratou” a empresa que o selecionou.
Apesar de prevista na legislação, a regularização de contratações depois dos serviços contratados já terem sido executados, a chamada convalidação, deveria ser utilizada somente em situações emergenciais.
Fonte: Portal ALMG