Resposta do Sindieletro ao artigo de Luiz Tito, no O Tempo: “Cemig: mudar ou privatizar”



Resposta do Sindieletro ao artigo de Luiz Tito, no O Tempo: “Cemig: mudar ou privatizar”

Em artigo no jornal O Tempo, de 13/10/2020, Luiz Tito denuncia o descaso da Cemig com seus consumidores no Norte de Minas. O Sindieletro/MG vem esclarecer alguns pontos.

Sob o argumento de que a Cemig detém “um status de quase monopolista como concessionária de eletricidade em Minas”, lembramos que o modelo elétrico adotado no país é o de concessão de exploração da distribuição de energia por áreas concedidas pelo Estado. No caso de Minas Gerais, salvo pequenas regiões, a concessionária do serviço é a Cemig. Isso torna a distribuição de energia um “monopólio natural”, visto que é impraticável pensarmos em duas (ou mais) concessionárias atuando na mesma região, o que equivale dizer: duas (ou mais) empresas sairiam distribuindo postes e fiação nas diversas áreas para prestação do serviço.

Em relação à qualidade da prestação de serviços, como o restabelecimento de energia, substituição de equipamentos danificados ou outra demanda de responsabilidade da concessionária, o Sindieletro vem denunciando, há muito tempo, a terceirização indiscriminada que traz consequências para os consumidores. Essa terceirização vem aumentando ano a ano na empresa e, também, ano a ano verificamos a piora na qualidade dos serviços.

Aqui não cabe nenhuma crítica aos trabalhadores das empresas terceirizadas e, sim, ao modelo de gestão das empreiteiras (e da Cemig), que visa o lucro a todo custo. Isso coloca os trabalhadores terceirizados em condições muito inferiores aos trabalhadores próprios da Cemig, em relação à estrutura disponibilizada, como equipamentos, ferramentas e treinamentos e, também, em relação ao rendimento auferido com o trabalho.

Essa realidade é facilmente comprovada quando nos deparamos com os números de acidentes de trabalho, graves e fatais, observando que o setor elétrico é de extrema periculosidade para os trabalhadores. Geralmente, acidentes por choque elétrico, quando não matam, mutilam.

A Fundação Coge (uma entidade que reúne empresas do setor elétrico) apontou que, no Brasil, de cada grupo de 100 mil trabalhadores, há cerca de seis acidentes fatais. No setor elétrico, são 61 mortes para cada grupo de 100 mil trabalhadores. Ainda de acordo com Fundação Coge, de cada 10 acidentes fatais no setor elétrico, oito ocorrem com trabalhadores terceirizados. Na Cemig não é diferente. Lembramos: recentemente, três trabalhadores terceirizados  perderam suas vidas a serviço da Cemig no município de Jaboticatubas.

Há vários anos, os gestores colocados na direção da Cemig vêm trabalhando com a perspectiva de terceirização agressiva e desenfreada, promovendo, ao mesmo tempo, a redução do quadro próprio, numa espécie de “privatização branca”. É uma estratégia para que a Cemig “desabe” no conceito da população mineira, que passaria a ver a privatização da empresa como uma saída para o problema da má qualidade na prestação dos serviços.

O atual ocupante do governo de Estado, Romeu Zema, escancarou essa estratégia, sendo ele mesmo o mais notório garoto-propaganda da privatização. Na presidência da Cemig, temos um executivo de mercado, Reynaldo Passanezi Filho, que segue à risca essa estratégia.

Os cidadãos mineiros precisam ficar atentos: a  terceirização é um prelúdio do que acontecerá se a empresa for privatizada. Em todos os locais onde a distribuição de energia foi privatizada, como em Goiás, houve uma piora acentuada na qualidade da prestação de serviços e um aumento preocupante nas tarifas de energia. As empresas privadas só querem garantir seus lucros, independente da qualidade na prestação dos serviços.

Outro exemplo do que ocorre com a privatização pode ser observado no que ocorreu com a empresa de distribuição de energia elétrica do Rio de Janeiro, a Light. Privatizada há algumas décadas, foi explorada pelo “mercado” até se tornar insustentável e ser “retomada” pelo Estado que, novamente, a coloca à venda; mas, sem interessados privados, recorre à Cemig, empresa de economia mista, para recuperá-la. Ou seja, na dificuldade, é o Estado (com as estatais) que é chamado a salvar empresas “depenadas” pelo setor privado.

A privatização de uma empresa como a Cemig só interessa ao “mercado”, ávido por colocar as mãos em um negócio altamente lucrativo e a preços módicos. Após explorar o máximo dos serviços, enxugando abusivamente os custos e os investimentos, o negócio perde o interesse do mercado, que o devolve ao Estado, a preço exorbitante, para que reerga empresa, e o ciclo se repete. É uma estratégia antiga e usada pelo Capital até os dias de hoje.

Os trabalhadores vão resistindo, e cobram uma Cemig pública com qualidade dos serviços. Graças à luta dos trabalhadores da estatal e de alguns políticos com visão de que o Estado de Minas Gerais deve ser soberano, foi incluída na nossa Constituição a cláusula que prevê: a privatização da Cemig depende de aprovação de dois terços da Assembleia Legislativa e de um referendo popular. Daí, podemos entender os motivos do governador Romeu Zema promover uma “campanha” tão agressiva para desqualificar a Cemig junto à população.

Confira abaixo o artigo de Luiz Tito, lembrando, nós queremos mudanças, para a melhor: uma Cemig pública de serviços e emprego de qualidade

 

Cemig: mudar ou privatizar

Produtores rurais, pequenos comerciantes e industriais têm sido afetados no seu trabalho e nos seus resultados em decorrência da demora na reparação de defeitos na distribuição de energia

13/10/20 - 03h00

Nesse último fim de semana usei os recursos das redes sociais para denunciar o descaso da Cemig para com seus consumidores do Norte de Minas, especialmente no atendimento de eventuais interrupções na prestação de serviços.

Produtores rurais, pequenos comerciantes e industriais têm sido afetados no seu trabalho e nos seus resultados em decorrência da demora na reparação de defeitos na distribuição de energia. Dona de um status de quase monopolista como concessionária de eletricidade em Minas, a estatal vende seus serviços debaixo do slogan que ela mesma conquistou de ser “a melhor energia do Brasil”, o que há um tempo realmente foi.

O que motivou a reclamação e o uso das redes sociais para tornar público tal postura de desatenção foi uma interrupção nas primeiras horas da manhã de sábado e a volta do fornecimento no domingo, às 15h30. Foram 32 horas desligados, sem funcionar coisa alguma, além da iluminação essencial. Fazendo coro à reclamação, vários consumidores, produtores rurais em especial, se adiantaram em criticar a baixa qualidade dos serviços de manutenção de redes e suas consequências, a cada dia mais danosa e desestimulante às atividades. A quem reclamar? Ao 116; faça o seu teste à eficiência desse serviço, quando necessitar, especialmente estando no interior de Minas. Ficando “sem luz” é um bom caminho para o infarto.

Na onda das reclamações que foram sendo anotadas, um caso especial ocorreu na cidade de Itamarandiba, próxima de Diamantina, no Jequitinhonha. Um transformador que serve ao fornecimento de água pela Copasa à cidade foi danificado na quarta-feira por raios que caíram sobre aquela região. Acionada, a nova empresa contratada para começar seus serviços ontem, segunda-feira, como responsável pela manutenção e reparo desse tipo de equipamento, foi solicitada a que se adiantasse e assim auxiliasse na solução da falta d’água a ser fornecida, em plena pandemia, a uma população de 25 mil pessoas.

Deslocando-se para aquela cidade, com todas as dificuldades de prestar um serviço para o qual nem sequer ainda estava contratada, mas com o ímpeto de servir ao interesse público, tal empresa não conseguiu ligar o transformador na sexta-feira, primeiro porque o empreiteiro contratado para atender pela Cemig tal demanda chegara ao local da instalação às 18h30. Transferido o trabalho para sábado, outro empecilho, dessa vez porque o tal equipamento não dispunha de laudo técnico. Conseguir o transformador às pressas para socorrer a emergência de uma cidade inteira sem água, devidamente testado e sob a responsabilidade técnica de quem, presente, entendia do assunto, inclusive gente da própria Copasa, uma estatal e cliente da Cemig, não bastou. No sábado, depois de muita conversa, o transformador foi ligado, fazendo a água voltar para uso da cidade.

São fatos que podem parecer menores para uma empresa que, ao longo de quase 70 anos de existência, gerou uma imagem de respeito e querida a Minas e aos mineiros. Mas que está sendo desidratada na sua importância econômica e, sobretudo, social, porque tais fatos são inúmeros, num atraso e demora que fazem sua ineficiência prejudicar o interesse e o resultado, os próprios e o de seus consumidores.

 

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