Resistência nos tempos que lutar era questão de vida e morte



Resistência nos tempos que lutar era questão de vida e morte

A história do Sindieletro está consolidada pelas lutas, resistências e vitórias dos eletricitários. Nada do que a categoria conquistou foi fácil ao longo dos mais de 60 anos da existência do Sindicato. Mas houve um tempo que a coragem era uma questão de vida e morte. Foi na época da ditadura militar, quando assumir publicamente a participação em atos e passeatas significava alto risco de prisão, tortura e até morte. Mesmo assim, os trabalhadores fizeram a opção por não fugir à luta.

Ney Alencar (à esquerda, na foto), ex-presidente do Sindieletro (mandato de 1987 a 1990) foi um dos eletricitários que se expôs aos riscos. Nos anos 70 chegou nas lutas sindicais e sociais e passou a ser perseguido pela direção da Cemig, pela polícia e pelo número dois. Duas vezes processado pela empresa, duas vezes demitido, duas vezes reintegrado, duas vezes indiciado em inquérito policial e duas vezes preso no Dops (Departamento de Ordem Política e Social).

Em 1978, com 20 anos e empregado na Cemig, onde entrou por meio de concurso público, ele já reivindicava os direitos dos trabalhadores e ia para as ruas cobrar anistia para os presos e exilados políticos. A memória de Ney Alencar é excelente, ele lembra com detalhes o processo de perseguição da ditadura contra os eletricitários e suas lideranças, tanto pelos fatos que presenciou quanto pelos relatos que ouviu dos dirigentes sindicais nos anos 60.

Ney ouviu do próprio ex-presidente do Sindieletro, Delmyr Villela, que logo após o golpe militar de 1964 o Sindicato sofreu intervenção, toda a diretoria foi destituída. Delmyr Villela foi obrigado a viver na clandestinidade. “Tempos muitos difíceis, mas em 1966 os trabalhadores conseguiram reaver a gestão do Sindieletro, através de eleição para a diretoria”, acrescenta.

Segundo Ney, em 1978 a diretoria do Sindieletro se organizou para enfrentar a repressão aos trabalhadores. A entidade deu total apoio à greve dos metalúrgicos do ABC Paulista. O Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, presidido por Lula, havia sofrido intervenção em plena greve da categoria. As lideranças sindicais e os trabalhadores de Minas organizaram um movimento de solidariedade, arrecadando fundos para a greve. Mas para levar o dinheiro de Minas para São Paulo havia grande risco do então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de João Monlevade, João Paulo Pires de Vasconcelos, ser preso no aeroporto, visto que ele era fichado no Dops e perseguido pelo regime militar. A solução foi a ex-presidente do Sindieletro, Maria Felícia de Macedo, ir junto e no aeroporto se separar de João Paulo, levando o dinheiro. Deu certo, João Paulo foi detido e revistado pela polícia, Maria Felícia seguiu adiante, com a contribuição.

Também em 1978 os eletricitários decidiram pela greve, exigindo que a Cemig cumprisse acordo de reajuste salarial. Mas, conta Ney, quando o movimento estava prestes a acontecer a diretoria da Cemig recuou e atendeu as reivindicações da categoria. A partir de 1987 não teve jeito. Houve a primeira greve e depois disso ninguém mais segurou a categoria. Em 1988, greve de 10 dias, em 1989, greve de 21 dias.

Hoje como antes

Ney está aposentado desde 2010, mas acompanha tudo que acontece na Cemig e nas mobilizações dos eletricitários. Ele vê a postura da diretoria da empresa de contratar coronéis reformados da PM para atuar em mobilizações dos trabalhadores como uma tática dos tempos da ditadura. “A função dos coronéis é vigiar, fazer relatórios e reprimir os trabalhadores”, observou. Para ele, foram e são extremamente autoritárias as ações da empresa para isolar os trabalhadores demitidos da Cemig Serviços com tapumes, impedir a entrada de sindicalistas em suas instalações e não se abrir para o diálogo.

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