Resgate da humanidade: escola do MST organiza a luta por meio da cultura



Resgate da humanidade: escola do MST organiza a luta por meio da cultura

O ódio, a falta de empatia e de solidariedade com o próximo têm sido valores cada vez mais enraizados na sociedade. Para resgatar a humanidade e fortalecer a luta popular, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) criou a Escola de Arte João das Neves.

A iniciativa nasceu em 2017 em um trabalho coletivo entre o movimento, a cantora Titane e o dramaturgo João das Neves, que dá nome à escola. Na época, o país acabava de passar pelo golpe presidencial que, entre outras coisas, desmontou o Ministério da Cultura e atacou os investimentos no setor. Os organizadores entenderam que era necessário ampliar e aprofundar as formas de luta pela democracia e por direitos.

“Naquele momento, os atos de rua estavam muito esvaziados e, por meio do Festival de Arte e Cultura da Reforma Agrária, entendemos a potencialidade de outras formas de diálogo com a sociedade”, explica Guê Oliveira, do coletivo nacional de cultura do MST e uma das organizadoras da iniciativa.

Luana Oliveira, organizadora da escola, ressalta que fomentar a arte em momentos obscuros, como o atual momento político do país, é fundamental para resgatar a esperança do povo brasileiro. “A arte é expressão da nossa humanidade, é caminho fecundo da sensibilidade, da criatividade, da alegria”, comenta.

Diálogo entre campo e cidade

Em cada etapa da escola, são produzidas obras que deixam um legado para a sociedade e que provocam reflexões, como a importância da arte para a construção dos sujeitos e a relação entre o campo e a cidade. Em 2020, por exemplo, foi criado o bloco de carnaval do MST, chamado Pisa Ligeiro, que, com enxadas e outras ferramentas do trabalho rural, dialoga com uma das festas mais típicas do Brasil.

Entre os artistas que contribuem com a Escola de Arte João das Neves, estão Zé Pinto, Sérgio Pererê, Pereira da Viola e Lirinha. Para a cantora Titane, o diferencial da iniciativa é a forte ligação com a cultura popular.

“A escola nasce muito marcada por esta ideia de arte, que é o lugar onde a gente existe plenamente, com alegria, com muita força e à revelia das dificuldades que a gente tem. A obra de arte que a gente acredita e cria é a que enxerga com muito refinamento e precisão todos os conflitos que vivemos, e é capaz de lidar com eles de uma maneira lúcida, corajosa e acreditando que podem ser superados”, pontua.

Por terra, arte e pão

Neste ano, foi realizada a terceira edição da Escola de Arte João das Neves. Ao longo de seis dias de atividades, foram realizadas oficinas de muralismo, coro cênico e percussão. Além das oficinas, a atividade contou com aulas de yoga, roda de pandeiro, violão e rabeca, produção de abayomis e construção do balaio da memória.

Como encerramento das atividades, o MST produziu, a convite do Circuito de Arte Urbana (Cura), uma empena pintada no centro de Belo Horizonte. A obra intitulada “Por terra, arte e pão” tem 36 metros de altura e está localizada próximo ao Mercado Central da capital.

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Guê Oliveira, explica que a pintura é um convite ao resgate da nossa ancestralidade. “A todo momento, o campo está presente na cidade a partir dos alimentos, a partir da memória de um povo que sofre com o êxodo rural, que vem para cidade e que constrói a cidade”, destaca.

Etapas regionais

Além da edição nacional, o MST dá início a etapas regionais da Escola de Arte João das Neves. Já está prevista, por exemplo, a realização da formação no Norte de Minas Gerais. As aulas também serão disponibilizadas na modalidade online, no canal do movimento no YouTube (Conheça, clique aqui).

Fonte: Brasil de Fato MG, por Amélia Gomes

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