Representantes de pequenos municípios localizados no vetor Norte da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) criticaram o fechamento da base operacional da Cemig no bairro de São Gabriel, em Belo Horizonte, que ocorreu no início de setembro. O temor de que essa medida seja uma preparação para privatização da estatal mineira permeou reunião realizada nesta quarta-feira (25/9/19) pela Comissão de Administração Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
Em reunião anterior, realizada na terça-feira (24), o diretor-presidente da Cemig, Cledorvino Belini, afirmou que o fechamento da base de São Gabriel visa melhorar a eficiência da empresa e gerar economia, a fim de permitir novos investimentos.
Na reunião desta quarta, o prefeito de Jaboticatubas (RMBH), Eneimar Marques, afirmou que o argumento não convence. “É corte de gastos? Pode ser, mas tem que ser colocado na balança porque é uma prestadora de serviço, que está perdendo qualidade”, afirmou. O município, segundo ele, já havia perdido uma base local em 2018 e agora está sendo prejudicado mais uma vez pelo fechamento de São Gabriel, deixando a população ainda mais distante da base que será responsável por atendê-la.
Eneimar Marques também frisou que, por ser um município pequeno e mais distante, Jaboticatubas fica em desvantagem na disputa com municípios maiores no caso de ocorrerem várias demandas simultâneas. “Seremos os últimos a serem atendidos e os primeiros a serem cobrados, já que estamos mais próximos da população”, afirmou o prefeito.
Representantes de outros municípios disseram que já é frequente a demora em reparos do sistema de distribuição de energia. A vereadora Flávia Cruz, do município de Taquaraçu de Minas (RMBH), afirmou que a zona rural é a que mais sofre. “Algumas localidades já ficam dois, três dias sem energia”.
Também vereadora, a representante do município de Santa Luzia (RMBH) lembrou que sua população é formada, em sua maior parte, por famílias empobrecidas, que serão prejudicadas.
O coordenador de Obras e Projetos da prefeitura de Lagoa Santa (RMBH), Rogério Viana, afirmou que os cortes de energia são também frequentes no município, mas chamou atenção para outro problema: a falta de manutenção preventiva nos equipamentos. “Há cabos que não estão protegidos, transformadores que estão no limite”, alertou.
Autora do requerimento para realização da reunião, a deputada Beatriz Cerqueira (PT) criticou sobretudo a forma como a Cemig fechou a base de São Gabriel, sem ouvir os representantes dos municípios que eram atendidos por aquela unidade, ou debater com a Assembleia Legislativa. “Estivemos na base de São Gabriel e ninguém informou que o fechamento ocorreria poucos dias depois”, criticou a deputada.
Fechamento de bases poderia levar à privatização
Beatriz Cerqueira também se mostrou preocupada com a possibilidade de venda da Cemig, advertindo que o fechamento das bases operacionais contribui para desvalorizar a empresa, no caso de uma privatização. “O governo Zema deprecia a Cemig. E até para vender, deveria valorizá-la”, ponderou a deputada.
Para o coordenador-geral do Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores na Indústria Energética de Minas Gerais (Sindieletro), Jefferson Leandro da Silva, o fechamento de São Gabriel e de outras bases operacionais só interessa aos acionistas e aos que pretendem comprar a empresa, uma vez que prejudica o serviço prestado à população. Ele ressaltou que as equipes de trabalhadores terceirizados não são capazes de realizar todas as manutenções necessárias.
O secretário-geral da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Jairo Nogueira Filho, reafirmou que o fim da base de São Gabriel terá um impacto negativo no atendimento à população, por dificuldades de deslocamento.
“Tínhamos que aproximar os funcionários da Cemig da população, e não o contrário”, disse. Ele também ressaltou o prejuízo que uma mudança tão repentina traz para os trabalhadores: “a base de São Gabriel existe há mais de 30 anos. Muitos que trabalham lá moram na região”.
Cemig admite que mudança pode gerar impactos
A Cemig foi representada na reunião pelo superintendente de Serviços Comerciais e Emergenciais da Distribuição, Mauro Marinho Campos. Ele reafirmou que o fechamento da base de São Gabriel permitirá um ganho de gestão, mas admitiu que isso pode trazer algum impacto negativo de curto prazo. “Em nenhum lugar do mundo o sistema de distribuição de energia é livre de falhas”, disse o superintendente.
Mauro Marinho assegurou, no entanto, que o fechamento daquela base operacional não implicou na redução de sequer um trabalhador das equipes dedicadas ao atendimento do vetor Norte da RMBH.
Ele acrescentou que a Cemig continua com equipes dispersas para atendimento a todos os municípios, inclusive Jaboticatubas, e propôs a realização de reuniões com cada um dos prefeitos da região para discutir melhorias no atendimento.
O prefeito de Jaboticatubas e a deputada Beatriz Cerqueira, no entanto, disseram ainda não entender como funcionará a logística dessas “equipes dispersas” e como elas podem garantir um atendimento ágil à população.
Entre as providências anunciadas pela deputada Beatriz Cerqueira, ao final da reunião, está a realização de visitas a municípios do vetor Norte da RMBH, a fim de ampliar a interlocução com os prefeitos e a compreensão do impacto das iniciativas da Cemig.
ALMG