A Renova Energia (RNEW4), empresa de geração limpa que tem entre os controladores a estatal mineira Cemig (CMIG3), entrou com pedido de recuperação judicial na quarta-feira no qual lista 3,1 bilhões de reais em dívidas, de acordo com comunicado da companhia.
A elétrica ainda pediu que os efeitos da recuperação sejam antecipados enquanto completa a documentação necessária para o processo, sob alegação de que tem sofrido pedidos de execução por credores que geram risco de que seu caixa e ativos sejam esvaziados.
“O Grupo Renova possui, atualmente, sérias deficiências de caixa, possuindo valores absolutamente ineficientes para fazer frente às suas despesas imediatas caso não haja suspensão dos pagamentos de dívidas sujeitas à recuperação judicial”, afirmou a empresa na petição.
A companhia alegou no documento que uma demanda similar já foi apresentada e acatada no caso de recuperação judicial do aeroporto de Viracopos.
As units da Renova, que chegaram a cair 25% mais cedo, operavam às 16h30 em baixa de cerca de 22%, perto da mínima da sessão de 11,01 reais.
O movimento da Renova acontece após o fracasso neste mês de uma tentativa da companhia de vender à AES Tietê o parque eólico Alto Sertão III, que está paralisado por falta de recursos após quase 90% das obras concluídas.
Se concluído com sucesso, o negócio pelo ativo na Bahia teria envolvido a transferência para os compradores de uma dívida de quase 1 bilhão de reais do empreendimento eólico com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Como as negociações não evoluíram, a Renova disse não ter capacidade para “suportar os custos e as condições de prorrogação” do empréstimo junto ao BNDES, que venceria em 15 de outubro.
A Renova apontou que, de suas dívidas envolvidas no processo de recuperação, 834 milhões de reais correspondem a débitos “intercompany”, enquanto 980 milhões são débitos com os atuais acionistas.
A companhia ainda listou dívidas extraconcursais de 614 milhões de reais, das quais 434 milhões junto a seus acionistas.
Ascensão e crise
Criada em 2001, a Renova chegou a ser vista como uma das mais promissoras empresas do setor de energia limpa do Brasil e atraiu em 2011 aportes da Cemig e da Light (LIGT3), que queriam utilizar a companhia como veículo para expansão em renováveis.
Mas a empresa passou a sofrer problemas para implementar seu ousado plano de negócios após o cancelamento de uma associação com a norte-americana SunEdison em 2015 e em meio a dificuldades financeiras à época em suas controladoras Cemig e Light. Com isso, entrou em um longo processo de reestruturação e vendas de ativos.
No pedido de recuperação, a Renova disse que buscou socorro por meio de captações junto aos acionistas, antecipando valores de contratos de venda de energia, mas destacou que “o nível de recursos exigido tem sido proibitivamente alto”, o que segundo ela impediu a continuidade dessa estratégia.
Agora, com o plano de recuperação, a Renova defendeu que “pretende restabelecer seu equilíbrio econômico-financeiro e honrar os compromissos assumidos com seus diversos stakeholders”.
A companhia também afirmou que pretende “em um futuro próximo, retomar uma trajetória de crescimento sustentável, dentro das reais possibilidades operacionais e financeiras da Renova e de seus acionistas”.
E o vento levou…
A Renova é controlada atualmente pela elétrica mineira Cemig e pelo fundo CG I, que reúne participações em empresas de seus fundadores, Ricardo Lopes Delneri e Renato do Amaral.
A empresa ainda tem como acionistas relevantes o braço de participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDESPar), com 5% do capital, e o FIP Caixa Ambiental, com 3,93%.
A Light, que fazia parte do bloco de controle, deixou em definitivo a empresa de geração renovável na terça-feira, ao concluir a venda de sua participação de 17% na companhia ao fundo CG 1 por valor simbólico de 1 real.
A decisão de deixar o negócio aconteceu na sequência de uma oferta de ações em julho, após a qual a Light deixou de ser controlada pela Cemig.
Além das dificuldades financeiras, a Renova Energia chegou a ser alvo de uma operação policial que ganhou o nome de “O Vento Levou…”.
A operação, que teve ações em abril e julho, investiga possíveis desvios de recursos injetados na Renova pela Cemig por meio de supostos contratos superfaturados.
Os ativos da Renova Energia incluem um amplo portfólio de projetos de geração eólica, incluindo o parque Alto Sertão III, na Bahia, que terá 438 megawatts quando concluído. A companhia também tem pequenas centrais hidrelétricas operacionais, que controla por meio da Brasil PCH e da Energética Serra da Prata.
Mas o pedido de recuperação judicial não inclui a Brasil PCH e a Serra da Prata, “pois são empresas operacionais e financeiramente equacionadas”, de acordo com o comunicado da Renova.
A empresa listou no pedido de recuperação judicial a holding Renova Energia, a Renova Comercializadora de Energia e diversas outras subsidiárias.
A negociação das ações da Renova na bolsa B3 foi suspensa até as 11 horas do pregão desta quarta-feira devido ao ajuizamento do pedido de recuperação.
Procurada, a Cemig não respondeu de imediato a um pedido de comentários sobre a situação da Renova. O BNDES também não comentou de imediato. Não foi possível contato com representantes do fundo CG 1.
Fonte: Reuters e MoneyTimes