Em encontro com o pontífice, a presidente afirma que as manifestações traduziram o desejo do povo de que a política atenda ao interesse público, e não crie privilégios; do lado de fora do Palácio Guanabara, aos gritos de "Queima Cabral, governador do capital", boneco com a imagem do governador, que se tornou símbolo dos privilégios, com seu voo das babás, é queimado; segurança foi reforçada e todos os acessos ao palácio estão bloqueados
"É uma honra recebê-lo, redobrada por se tratar do primeiro papa latino-americano", discursou a presidente Dilma Rousseff ao receber o papa Francisco no Palácio Guanabara, sede do governo do Rio de Janeiro. "Lutamos contra um inimigo comum: a desigualdade, em todas as suas formas", disse a presidente, que propôs uma aliança contra a fome e a injustiça no mundo, simbolizada pela pobreza.
Ao comentar as manifestações que tomaram as ruas do país no mês passado, Dilma disse que os jovens querem uma política que atenda aos interesses do povo e que não seja um território de privilégios. Enquanto isso, do lado de fora do Palácio, manifestantes queimavam um boneco que simbolizava o governador Sérgio Cabral, que se tornou símbolo dos privilégios, com seu voo das babás. "Queima Cabral, governador do capital", gritavam.
Em sua mensagem, Franciso evitou polêmica , ao contrário do que se esperava, não falou sobre corrupção. "Aprendi que para ter acesso ao povo brasileiro é preciso ingressar pelo portal de seu imenso coração, por isso permita-me bater delicadamente a essa porta. Peço licença para entrar e transcorrer esta semana com vocês. Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo", discursou o papa. "Cristo bota fé nos jovens e confia-lhes o futuro de sua própria causa", destacou.
Destacando a expressão brasileira "menina dos olhos", Francisco perguntou: "O que vai ser de nós se não tomarmos conta dos nossos olhos?". "Que nesta semana cada um de nós se deixe interpelar por essa pergunta", comentou, pedindo atenção para dizer que "a juventudade é a janela pela qual o futuro entra no mundo". O pontífice destacou a importância de garantir segurança e educação aos jovens. "Os braços do papa se alargam para abraçar a nação brasileira", disse, pedindo que ninguém se sinta excluído da atenção do papa.
Após os discursos, Dilma e o papa seguiram para um encontro reservado.
Protesto
Enquanto isso, manifestantes concentrados no Largo do Machado, a cerca de 1 quilômetro do Palácio Guanabara, iniciavam uma marcha em direção à sede do governo fluminense, onde o papa Francisco é recepcionado pela presidenta Dilma Rousseff e o governador Sérgio Cabral em minutos.
Eles gritam palavras de ordem contra o governador Cabral e pregam uma greve geral. Também seguram cartazes com frases contra a corrupção e pedindo mais verbas para a saúde e a educação. Em folhetos distribuídos à população, protestam contra a destinação de R$ 118 milhões - segundo eles - para a visita do papa, sendo R$ 111,5 milhões em verbas federais.