Por Nilson Azevedo
Sinal de alarme no Brasil. Depois do golpe contra a presidente Dilma, alguns fatos têm assustado os brasileiros que viveram o golpe de 1964 e a Ditadura Militar que aquele golpe criou. O ministro da Justiça, Osmar Serraglio, atacando o direito dos índios à terra, declarou que: “terra não enche barriga”. Ao mesmo tempo em que planeja alterar a lei para que estrangeiros comprem terras no Brasil, índios e sem terra voltam a ser assassinados, inclusive pela polícia.
Voltaram também os atentados à sede do Instituto Lula e às sedes do PT em vários estados. Duas semanas atrás, até a sede do PSDB em Curitiba sofreu atentado, que continua sem apuração. Promessas e pedidos de censura ao currículo escolar ocorrem toda hora.
Gays e mulheres são assassinadas todos os dias. Em manifestações coxinho-aecistas, núcleos Bolsonaro-coxinhas exibem cartazes pedindo a volta dos militares. Artistas como Lobão e Amado Batista dão entrevistas dizendo que a Ditadura foi boa para o Brasil. E todo dia na televisão, a economista Zeina Latif...
É claro que o cidadão começa a se perguntar: Será que a elite branca do Sul Maravilha está querendo voltar com a Ditadura depois do golpe de 2016?
Mas eu pergunto: dá para fazer uma ditadura sem os militares? Dá para fazer uma ditadura com os militares? Porque os militares de hoje - soldados e oficiais - não têm a mesma cabeça dos de 64. O Soldado de hoje não tem a cabeça feita pela ideologia da Guerra Fria e dos cursos da Escola Superior de Guerra. Ele não tem a ideologia espartana e maniqueísta de antes. Ele tem a internet, ouve e até toca rock ou música sertaneja, pratica surf e ele quer viver a vida, não uma vida de paranóia.
Mas o governo Temer não mandou o exército reprimir as manifestações em Brasília? Sim! Mas o soldado de hoje sabe que foi usado pela elite branca em 1964 para dar o golpe e que quem ficou com o filme queimado foram eles, os militares. Os chefes civis do golpe estão aí, até hoje impunes, tipo Delfim Neto.
Para instalar uma nova ditadura a elite branca teria que contar mais com a imprensa do que com o exército. Isso não seria difícil, já que a imprensa brasileira, principalmente a “Rede Globo” e a Revista “Veja”, trocaram o jornalismo por um projeto de poder e atuaram como parte essencial no golpe contra a presidente Dilma.
Se a censura era feita na Ditadura pela Polícia Federal, hoje ela é feita pelos próprios donos da imprensa, que assassina reputações e lincha impunemente o nome de quem quiser. Por isso, todo dia na televisão tem a economista Zeina Latif...
Para fazer uma nova ditadura, o golpista Temer teria que fazer uma ditadura dentro da lei. Para isso teria que ter a ajuda do judiciário, muito mais do que já tem... A ajuda do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já está garantida, mas terá que enfrentar a oposição do Papa Francisco, da CNBB, de setores evangélicos e da imprensa estrangeira, já que a Rede Globo não domina lá fora.
Ele teria a seu lado, suponho, um time formado por Romero Jucá, Moreira Franco, Geddel Vieira Lima, Alexandre Frota, Eunício de Oliveira, Onyx Lorenzoni, o Padilha, o Lobão, o Magno Malta, o Agripino Maia, o Raul Jungmann e milhares de adeptos do Bolsonaro-coxismo.
Nós, que seríamos contra uma eventual ditadura, só teríamos no nosso time as feministas, os negros, os índios, os Sem Terra, os sem aposentadoria, os sem CLT, o Papa Francisco, o Chico Buarque, o Leonardo Boff, o Lula, o Molon, o Randolfe Rodrigues, o MTST, o Lindberg Farias, a Erica Kokay, o PCdoB, o Psol e até a Rede.
Só teríamos você, que lê este artigo, nossos sindicatos e organizações e até setores do coxismo-democrático, todos que não engolem ditadura, velha nem nova.
Nilson Azevedo é cartunista do Sindieletro