Pureza Lopes Loiola, maranhense de Bacabal, saiu de sua cidade, em 1993, à procura do filho Abel. O jovem havia saído de casa para trabalhar no garimpo e nunca mais tinha enviado notícias. Ele foi aliciado para trabalhar em uma fazenda da região e virou mais uma dentre tantas vítimas do trabalho escravo contemporâneo. Pureza, filme que estreia nesta quinta-feira (19), conta a busca dessa mãe por seu filho, em uma saga em que ela precisou provar a existência do trabalho escravo, desafiando autoridades e poderosos fazendeiros da região norte do Brasil.
Em entrevista ao Brasil de Fato, a atriz Dira Paes, que interpreta Dona Pureza no longa-metragem dirigido por Renato Barbieri, destacou a relevância da personagem da vida real.
“A gente sabe que a base da sociedade brasileira está nessa figura feminina, a gente sabe do poder da mulher na sociedade brasileira. E o filme fala sobre a trajetória de uma mulher abolicionista, um nome que parece que ficou no passado, mas que a gente precisa resgatar, porque o filme mostra a necessidade de nós todos sermos abolicionistas”.
Com gravações na cidade paraense de Marabá e no Congresso Nacional, em Brasília, o filme também conta com a participação do ator Matheus Abreu, no papel de Abel, o filho escravizado.
O Brasil foi o maior território escravocrata do hemisfério ocidental e o último país do mundo a abolir oficialmente a prática. A escravidão teve um impacto profundo na formação da nossa sociedade, na cultura e no sistema político-econômico brasileiro. Até hoje as consequências são extremamente visíveis.
De 1995 até o final de 2021, mais de 58 mil pessoas foram resgatadas da situação de escravidão no Brasil. Só no ano passado foram 1.937 pessoas resgatadas, de acordo com o Ministério do Trabalho e Previdência.
Para o diretor Renato Barbieri, “o cinema tem um papel social. E ao assumir esse papel social, ele não tem que ser um cinema precário, ele pode ser um cinema potente, com todas as potências que o deuses e deusas do cinema nos oferecem. É importante o cinema estar engajado com a questão do conteúdo. É um cinema de impacto, é um cinema de conteúdo. Eu tenho dito que estou me preparando para o Pureza há 39 anos”.
Dona Pureza registrou e divulgou as violações testemunhadas e se tornou protagonista do combate ao trabalho escravo no Brasil. As denúncias ao poder público, que tiveram apoio da Comissão Pastoral da Terra (CPT), geraram grande repercussão nacional e internacional na época e a atuação dela precedeu o reconhecimento, por parte do Estado brasileiro, da existência do trabalho escravo no país perante a Organização das Nações Unidas em 1995.
“Isso é muito bom de ver, uma pessoa que fazia tijolos para sobreviver, conseguir chegar a um prêmio internacional de direitos humanos, como se fosse o Nobel dos direitos humanos, que é o AntiSlavery Award”, destaca Dira Paes.
Fonte: Brasil de Fato (SP), por Mariana Lemos