Próteses para mutilados: o extremamente necessário



Próteses para mutilados: o extremamente necessário

Os acidentes por choque elétrico, cada vez mais comuns entre os eletricistas, principalmente os terceirizados, acarretam muitas vezes amputações de membros devido às necroses causadas pelas queimaduras. A perda de membros gera significativos prejuízos na qualidade de vida desses trabalhadores. Como exemplos: a perda da autonomia própria e de familiares, estigma social devido às deformidades do corpo que geram o constante olhar perplexo, abalos na autoestima e na identidade social, síndrome do membro fantasma, cerceamento da vida social e laboral, interrupções de projeção para o futuro, doenças psíquicas,como depressão, dentre outros avassaladores impactos psicossociais.

Apesar de irreversíveis, as mutilações podem ser significativamente amenizadas pela aquisição de próteses com terminações nervosas que substituem artificialmente os membros, não apenas a nível estético como também funcional. As próteses são essenciais para a assistência ao ajustamento físico e emocional da perda dos membros, contribuindo para o resgate da independência, autonomia e para manter a força muscular que previne o desenvolvimento de contraturas articulares no membro residual (coto). Mas, para o sucesso da reabilitação e prevenção dos impactos psicossociais associados, a colocação da prótese deve ocorrer no intervalo de tempo mais curto possível desde a amputação.

Atualmente,a Secretaria de Saúde do Trabalhador do Sindieletro tem conhecimento de oito trabalhadores que aguardam as próteses em decorrência de acidente de trabalho terceirizado para a Cemig. Na última Campanha Salarial, a categoria reivindicou que a empresa se responsabilizasse pelas consequências nefastas do processo de terceirização e garantisse as próteses para os trabalhadores. Contudo, a empresa permanece silenciosa sobre essa questão.
Pelo fato das próteses serem o mínimo a ser feito pela Cemig e pelas empreiteiras no reparo aos danos desses trabalhadores, essa reivindicação tornou-se, então, parte importante da agenda de lutas do Sindieletro.

A experiência de Lucio Nery

A história do eletricista Lúcio Nery, protagonista do documentário “Dublê de Eletricista”, mostra o drama dos eletricitários mutilados abandonados pela Cemig e pelas empreiteiras. O trabalhador da Eletro Santa Clara teve seus dois antebraços e parte da perna esquerda (panturrilha e pé) amputados em decorrência da descarga elétrica sofrida em
acidente de trabalho ocorrido em 2013.

As profundas e irreversíveis mudanças em sua imagem corporal impuseram severas restrições à vida de Lúcio, que, em seus depoimentos,relata que há mais de um ano seu mundo se resume à sua casa para evitar o olhar perplexo das pessoas: “Vou daqui para a igreja porque o pessoal da rua já me conhece e já não tem mais curiosidade. Mas, dependendo do lugar que eu vou, quando entro, mesmo que no lugar tenha uma TV de 60 polegadas, todo mundo tira o olho da tela e olha pra mim... Aquilo é terrível”.

Ao pensar no futuro, ele não consegue traçar muitos planos e teme que as suas limitações se tornem ainda piores na velhice, aumentando significativamente a sua dependência. Lúcio explicita que, diante de tantas restrições e medos, a possibilidade de ter próteses mecânicas para as mãos é o que o sustenta na esperança que lhe resta, mantendo, por um fio, sua saúde psíquica: “O que me deixa de pé é a possibilidade de ter as mãos. Eu penso: hoje eu tô assim, mas tem essa possibilidade de ser melhor. Agora, pensa na possibilidade de não ter ela: vou viver, mas vou viver um cara derrotado, limitado.”

Por Laís Di Bella e Julie Amaral, psicólogas do Trabalho e assessoras na Secretaria de Saúde do Trabalhador do Sindieletro

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