Assistimos na segunda, dia 23, a um pronunciamento do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, por meio de uma live divulgada em suas redes sociais. O chefe do executivo faz referências às medidas tomadas pela Cemig e Copasa: aqueles que tem cadastro social terão garantia da não suspensão de fornecimento de energia e terão as contas parceladas em 6 vezes sem juros! Oi?! É saldão das lojas Zema? O mesmo critério se aplica às microempresas, mas não há esclarecimento de como o procedimento será feito, como o governo se responsabiliza em possibilitar recursos mínimos para uma medida que, em seu princípio, já é absurda e polêmica.
Muitos estão sendo castigadas pela crise que estamos vivendo. Crise financeira, sanitária e, acima de tudo, humanitária. A Copasa vai adiar seus vencimentos para 20 de maio. Oi?! Compre agora e pague só daqui dois meses? Mais uma oferta para o povo mineiro. Ou seria do próprio povo mineiro, que sacrifica-se dia a dia para manter seus compromissos financeiros em dia?
Sobre a situação da pandemia em si, vemos um pronunciamento afrouxado, sem diretrizes, sem condução certa. Com pedidos e mais pedidos a profissionais de saúde dos sistemas públicos e da rede privada.
Nesse momento, as políticas precisam ser racionais, assertivas e diretivas, principalmente. Pedir notificação de casos de COVID-19 antes do tempo é uma covardia, uma vez que assistimos ao início da sobrecarga dos sistemas de saúde de todo o país e até do mundo. Se querem assim, reorganize o sistema, possibilite recursos! Fica parecendo que os profissionais não fazem por vontade própria, ou melhor, por pura falta de vontade.
Há pedidos para os profissionais de saúde de diversas especialidades da rede privada lerem o protocolo de ação para a COVID-19, pois, a depender da situação, eles podem ser acionados. Mais uma vez, um pedido frouxo. O que o governo fará para possibilitar e garantir isso? Há também o questionamento sobre o fechamento de alguns serviços à beira de estrada, o que prejudica os caminhoneiros, que nesse momento garantem o funcionamento do país e o fornecimento de suprimentos de diversas naturezas para o enfrentamento ao vírus. Mas e aí? Não dá pra pedir o seu Zé da borracharia, que tem problema cardíaco, asma e 65 anos para simplesmente abrir suas portas, sem o mínimo de orientação e proteção. Completo absurdo.
Coloque postos de atendimento aos serviços essenciais, faça uma organização coordenada com os municípios. Houve, ainda, relativização das investigações de óbitos. Outro absurdo: Não fica claro se o governo se interessa pela investigação dos óbitos. Como estão as testagens? Como estão as investigações? Falam com naturalidade e certa neutralidade: "No momento são investigados 20 óbitos". Fora os 43 da notícia, que o governo afirma ser fake, sem investigação efetiva. Falta coordenação, seriedade, assertividade e direção. Reflexo de uma política macro falida.
Julie Amaral – Psicóloga Social – UFMG, assessora da Secretaria de Saúde do Trabalhador(a) do Sindieletro
Mestra em Saúde Coletiva – Fiocruz Minas