Privatizações: só nos restarão bananas?



Privatizações: só nos restarão bananas?

Apesar de tropical, a banana não é uma fruta nacional, veio da Ásia. Chegou ao Brasil trazida pelos portugueses. Yes, nós temos bananas, e muitas! A composição de Braguinha, que virou sucesso na voz de Carmem Miranda, retratava um país essencialmente agrícola. Hoje, graças aos investimentos das empresas estatais, temos uma indústria de ponta, exportamos máquinas, equipamentos e tecnologia. Temos pesquisadores respeitados no mundo inteiro e possuímos uma matriz
energética invejável, cobiçada por vários países.

Até pouco tempo atrás éramos considerados a quinta economia mundial. Mas, a depender do presidente Jair Bolsonaro,
do governador de Minas, Romeu Zema, e dos programas de privatização em curso, voltaremos ao submisso posto de produtores
de commodities. A Cemig foi, e continua sendo, essencial para o desenvolvimento econômico de Minas Gerais, apesar dos constantes ataques do governador e do presidente da empresa, Cledorvino Belini.

Romeu Zema deve encaminhar em breve o projeto de privatização da Cemig para a Assembleia Legislativa. Na semana
passada, Cledorvino afirmou, na Bolsa de Valores de Nova York, que, em no máximo seis meses, o governo conseguirá  convencer os deputados sobre a necessidade de privatizar a empresa.

Enquanto isso não acontece, Belini e o governador agem nos bastidores para tornar a empresa atrativa para os potenciais
compradores e promovem uma campanha difamatória contra a Cemig, tentando convencer a população de que a estatal é um
entrave ao desenvolvimento do Estado e deve ser privatizada.

A estratégia de convencimento envolve o fechamento de bases como a do São Gabriel e outras bases operacionais, precarizando
o atendimento aos consumidores.

No dia 12, a direção da Cemig apresentou ao mercado a sua nova estrutura operacional. Conforme noticiado, a reestruturação foi desenvolvida por uma das maiores consultorias empresariais internacionais. Não foi revelado o nome da consultoria e nem o valor do contrato, que prevê a redução de 25% dos cargos de superintendência e gerência, além da dispensa de outros 602 empregados que aderiram ao Programa de Desligamento Voluntário Programado (PDVP) e a demissão sumária de trabalhadores com mais de 55 anos de idade que não aderiram a nenhum programa de desligamento.

O Canal Energia, portal especializado no setor elétrico, divulgou, no dia 16, que a Cemig está negociando com o governo
federal a renovação das outorgas das usinas de Emborcação, Nova Ponte e Sá Carvalho. Porém, Belini disse que a ideia seria privatizar essas usinas nos mesmos moldes do que aconteceu com a CESP e a usina de Porto Primavera.

Apesar de vários estudiosos e economistas afirmarem que a venda da Cemig não resolverá os problemas das contas do Estado, uma vez que o dinheiro que ficará com o governo é suficiente apenas para a quitação de uma folha de pagamento do funcionalismo público, para o governador, privatizar a empresa se tornou uma questão de honra; mesmo que isso prejudique
a milhares de consumidores e toda a economia de Minas. 

Se privatizada, deixaremos de ter uma empresa mineira, os consumidores sofrerão com altas nas tarifas e queda na qualidade dos serviços, poderá haver uma forte desindustrialização e perderemos a nossa soberania sobre os recursos hídricos. Todo o lucro será enviado para o exterior e os prejuízos serão repassados para a população. 

Como no caso da banana, que não é genuinamente brasileira, a Cemig poderá ser norte americana, europeia ou, mais provavelmente, asiática, uma vez que dificilmente alguma empresa brasileira terá capital suficiente para adquirir o controle da elétrica.

 

item-0
item-1
item-2
item-3