Após relatório que pede que a empresa retome controle do setor estratégico e da reivindicação do Sindieletro, Cemig anuncia a formação do grupo de técnicos que acompanhará a reformulação da TI.
Em reuniões setoriais organizadas pelo Sindieletro, os trabalhadores da Superintendência de Telecomunicações e Informática (TI) elaboraram um diagnóstico mostrando que o setor passou, nos últimos anos, por um processo preocupante de desmonte. O Sindieletro enviou, na semana passada, ofício para a Diretoria de Gestão Empresarial (DGE) solicitando uma reunião entre o diretor Márcio Serrano e os representantes dos trabalhadores para apresentação do documento. O diagnóstico mostra o relacionamento conflituoso da estatal com as outras empresas do grupo, como a Axxiom, Ativas e a Cemig Telecom e aponta sugestões para recuperar o controle da TI pela estatal.
Os trabalhadores ressaltam que, no passado, o setor que é responsável pelas soluções tecnológicas de informática e telecomunicações para a Cemig obteve o reconhecimento no setor elétrico nacional, pelo pioneirismo de seus sistemas e procedimentos nas área comercial e de engenharia. Mas, o uso indevido do domínio tecnológico da TI para favorecer empresas privadas, esvaziou e precarizou a Superintendência, que nos últimos anos reduziu o número de trabalhadores próprios de 481, em 2007, para 289, em 2015.
Os trabalhadores atestam que as atividades de TI da Cemig foram cercadas pelas empresas do grupo em todas as áreas de atuação e os principais projetos passaram a ser deliberados e conduzidos, sem o parecer de técnicos da estatal, acarretando soluções tecnicamente falhas ou financeiramente desvantajosas, ferindo, segundo o diagnóstico, normas internas e controles relacionados à governança de TI e SOX. Com esse desmanche, o grupo Cemig agora tem gastos cada vez maiores com a contratação de especialistas para soluções de TI, se expõe a riscos em assuntos estratégicos e perde a capacidade técnica e sua soberania. Tais negligências, segundo o diagnóstico, têm, ainda, potenciais para gerar conflitos em auditorias e comprometer a posição da empresa no mercado financeiro.
Veja onde se concentram as operações mais conflituosas:
CemigTelecom,
A empresa foi criada em 1999 com o nome de Infovias para oferecer ao mercado serviços de telecomunicações, utilizando da infraestrutura e tecnologia que a Cemig possuía.
Em 2010 a empresa passou a ser chamada de CemigTelecom. A Cemig D e GT deixaram de investir em telecomunicações e passaram a pagar despesas de aluguel para a CemigTelecom, hoje, em torno de R$ 12 milhões ao ano. O contrato de cessão de infraestrutura, assinado em 2000, que não atende aos interesses da Cemig, venceu em março deste ano e está pendente de negociação, foi questionado pela Aneel, por esvaziar a concessão e onerar as tarifas de energia elétrica.
Axxiom
A empresa foi criada em 2007 para transformar os sistemas de gestão da distribuição, desenvolvidos pela TI em um produto comercial. A Cemig tem 49% das ações e os outros 51% foram adquiridas em 2010 pela Light. A AXXIOM passou a prestar serviços, inclusive, de intermediação de mão de obra terceirizada para a TI e, em muitos casos, com dispensa de licitação. Segundo o relatório dos trabalhadores, há analistas de sistemas da AXXIOM trabalhando de maneira exclusiva para a Cemig, dentro das instalações da TI, levantando as necessidades, colocando o preço em serviços que, depois, serão “licitados” e executados pela própria AXXIOM.
Ativas
A Cemig, em 2010 tornou-se sócia da ASAMAR, ao adquirir 49% das ações da Ativas, empresa que construiu um datacenter para atuar no ramo de infra-estruturar de Tecnologia da Informação e Comunicação. Mas a Ativas acumulou prejuízo de R$ 88 milhões nos últimos três anos. Uma auditoria feita em 2014 apontou, “dúvidas quanto à capacidade de continuidade operacional da empresa”.
Projeto ÚN1CO
O projeto deveria promover ganhos de eficiência com a unificação da gestão dos processos comerciais entre a Cemig e a Light, e conta com a participação com dispensa de licitação da Axxiom. Mas é acusado de provocar retrocessos ao adaptar os sistemas a uma versão inferior instalada na Light e por propor desenvolvimentos que afastam o sistema existente do original da SAP (standard). O Ú1nico começou a funcionar em 2013, mas teve o contrato assinado apenas no fiml de 2104, com dispensa de licitação e sem estudo técnico prévio da TI. O investimento aproximado de R$ 40 milhões – valor incluído nas tarifas de energia - não teve estudo de viabilidade econômica e foi conduzido à revelia do processo de software da Cemig. Os analistas da TI recomendam a paralisação do projeto e auditoria para apontar falhas e eventuais responsáveis.
O mal negócio com a Alstom
Em 2011, a Cemig contratou a Kema Consulting, para apoiar a licitação de um sistema para atualizar o sistema de gestão do Centro de Operação do Sistema (COS), que havia sido desenvolvido internamente. No entanto, em 2013, a estatal contratou, sem licitação, o sistema da Alstom, apontado como o menos indicado, tanto pela tecnologia empregada, como pelos aspectos operacionais. A “explicação” dos gestores da Cemig para o mau negócio, intermediado pela Axxiom, foi a mesma usada para o projeto ÚN1CO, ou seja, a Cemig buscava usar a mesma solução que a Light já vinha adotando.
Logo depois, sem licitação e contrariando a opinião dos técnicos do quadro próprio, a direção da Cemig repetiu o erro ao implementar o mal conceituado sistema da Alstom também para o COD. O sistema foi adquirido, sem licitação, através da AXXIOM, por mais de R$34 milhões. Porém, a LIGHT pagou para a Alstom pelos mesmos serviços o valor de R$7,7 milhões, em 2010. A Aneel negou inicialmente a anuência para o projeto e só concordou com a inclusão de várias clausulas que protegem a Cemig. Os trabalhadores da TI sugerem uma auditoria para verificar falhas no investimento que não teve estudo técnico prévio da TI, pesa sobre as tarifas, e pode ser questionado pela agência reguladora.
Datacenter
Ao invés de modernizar as instalações de informática da Sede, ou complementar com datacenter externo, como estava sendo estudado, em 2013, a diretoria da Cemig optou por contratar o datacenter da Ativas, com dispensa de licitação, e recomendou a redução de pessoal, a locação dos servidores e equipamentos e terceirização de toda a operação dos sistemas. A Aneel negou várias vezes a aprovação do projeto, até que em 2015 liberou, mas com dez ressalvas. Esse projeto preocupa os técnicos, pela insegurança que a transferência do conhecimento e tecnologia gera e pela dependência da Cemig de um fornecedor externo, dentre outros fatores. Também há suspeita de superfaturamento, pois estudo mostra que, com investimentos de R$6 milhões, muito abaixo dos R$42 milhões do contrato com a Ativas, a estatal teria as instalações modernizadas, com qualidade e eficiência.
Propostas
Considerando a importância da TI para a sustentabilidade e desenvolvimento da Cemig, os trabalhadores recomendam que a estatal assuma novamente a gestão de informática e telecomunicações, garantindo a soberania da empresa frente às contratadas. Para isso, sugerem que projetos como Ú1nico e Datacenter sejam paralisados e reavaliados com transparência, visando assegurar o interesse público. Também é reivindicado que a empresa constitua um grupo de trabalho, formado por representantes da diretoria e dos trabalhadores da TI para auditar contratos, fazer o planejamento estratégico da TI e rever políticas, normas e contratos de telecomunicações e informática. Leia a íntegra do relatório técnico elaborado pelos profissionais da TI no site www.sindieletromg.org.br.
Leia em anexo a íntegra do relatório.