Privatização da Eletrobras deve gerar 450 demissões só na Usina de Furnas



Privatização da Eletrobras deve gerar 450 demissões só na Usina de Furnas

Os parlamentares do Senado Federal aprovaram na última quinta-feira (17) o texto da medida provisória para a privatização da Eletrobrás. A empresa de energia, hoje estatal, é a maior da América Latina e apresentou lucros bilionários nos últimos anos, conforme apresentaram alguns dos senadores. A MP foi aprovada com 42 votos a favor e 37 contrários. O texto voltará ainda para a Câmara dos Deputados antes de ser sancionado pelo presidente da república.

O estado de Minas Gerais é um dos que podem sentir mais fortemente o impacto dessa privatização. A Usina Hidrelétrica de Furnas, localizada no curso rio Grande, entre os municípios de São José da Barra (MG) e São João Batista do Glória (MG), é controlada pela Eletrobrás e tem grande influência na economia das cidades de seu entorno.

Segundo Ricardo Fernandes, dirigente do Sindicato dos Eletricitários de Furnas (Sindifurnas), é provável que a venda resulte em uma demissão em massa na Usina de Furnas, de cerca de 450 pessoas. “Demissão em massa é certeza que vai ter. Isso vai atrapalhar bastante a economia da região, que não tem indústria”, reforça.

Turismo depende da relação com a represa

O lago da represa de Furnas é conhecido como “Mar de Minas” e banha 35 cidades. No final da década de 1950, quando a usina foi construída, o imenso lago causou o desaparecimento da cidade de Guapé, que ficou submersa e teve todos os seus moradores transferidos para uma parte mais alta do município. Hoje, a represa possui uma extensão de 220 quilômetros.

As cidades do entorno se reinventaram, como é o caso da famosa Capitólio. Porém, níveis baixos de água atrapalham e até inviabilizam o turismo, segundo denunciou nesta semana a Associação dos Empresários de Turismo de Capitólio (Ascatur) à imprensa. A baixa seria parte de uma estratégia para priorizar a geração de energia, mas resulta em maiores riscos para a navegação de lancha, principal atrativo da cidade.

O dirigente sindical Ricardo Fernandes explica que essa situação pode ser mais comum com uma privatização, pois a preocupação com a geração de energia, e portanto com o lucro, é o foco das empresas privadas. A perda do que ele chama de “uso múltiplo da água” pode prejudicar também a agricultura da região.

Conta de energia nas alturas

Outro esperável resultado é o aumento da conta de luz em todo país. As usinas da Eletrobrás geram energia para todo o Brasil e têm o compromisso de passa-la às empresas distribuidoras brasileiras por um preço fixo, atualmente no valor de R$ 62 o megawatt/hora. Com a sua venda, o novo proprietário poderá vender a energia gerada no mercado livre, atualmente no preço de R$ 250 a R$ 290 o megawatt/hora, e leva quem paga.

O processo é parecido com a “dolarização” da gasolina, política implantada pelo governo federal e que acabou tornando o combustível no Brasil tão caro, devido ao preço “internacional” cobrado aqui.

Em Minas Gerais, quem distribui a energia é a Cemig, e para isso ela compra energia de quase todas as empresas de geração, inclusive do sistema Eletrobrás, como explica Emerson Andrada, coordenador-geral do Sindicato dos Eletricitários de Minas Gerais (Sindieletro).

“A gente tem que se apegar aos exemplos do passado para projetar o futuro”, argumenta Emerson, “a privatização das usinas do Triângulo Mineiro que pertenciam à Cemig, principalmente a Usina de São Simão, mudou o preço de venda da faixa de R$ 40 o megawatt/hora para quase R$ 150”. Ou seja, quase quatro vezes mais. “Se houver o encarecimento da energia da Eletrobrás, vai impactar nas contas de luz de toda a população brasileira”, descreve.

Greve da Usina de Furnas contra a privatização

Cerca de 450 trabalhadores da Usina Hidrelétrica de Furnas realizaram uma greve de 72 horas contra a privatização da Eletrobrás. A paralisação começou na terça (15) e envolveu cerca de 12 mil trabalhadores em todo o país, que também se manifestaram contrários à venda empresa.

Segundo Ricardo Fernandes, somente as atividades de operação foram mantidas, para não haver desligamento do sistema elétrico. Trabalhadores da manutenção só atenderam serviços de urgência e emergência.

Brasil de Fato

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