O químico José Mauro Ferreira Coelho renunciou nesta segunda-feira (20) à presidência da Petrobras. A estatal comunicou a decisão de Ferreira nesta manhã e informou que o diretor executivo de Exploração e Produção, Fernando Borges, comandará a empresa interinamente.
A saída de Ferreira da estatal ocorre dois dias depois de novo aumento no preço dos combustíveis pela Petrobras. No sábado (18), a gasolina vendida pela estatal a distribuidores subiu 5,1%; já o diesel, 14,2%.
O reajuste foi anunciado na sexta (17). Um dia antes, na quinta-feira (16), o conselho da Petrobras – composto, em sua maioria, por integrantes indicados pelo governo – discutiu o assunto em reunião extraordinária e deu seu aval para o reajuste.
O conselho tem 11 membros. Desses, seis foram nomeados pela gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL). Segundo o colunista do jornal O Globo, Lauro Jardim, os seis se posicionaram a favor do reajuste dos combustíveis.
Apesar disso, Bolsonaro usou o aumento como justificativa para atacar a Petrobras e o então presidente da empresa, indicado por ele ao cargo em abril – ou seja, há apenas dois meses. Os sucessivos aumentos nos preços dos combustíveis atrapalham a campanha de Bolsonaro à reeleição.
Ainda na sexta-feira, Bolsonaro afirmou que articularia a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre Ferreira e a cúpula da Petrobras. “A ideia nossa é propor uma CPI para investigar o presidente da Petrobras, os seus diretores e também o conselho administrativo e fiscal”, afirmou o presidente. “Nós queremos saber se tem algo errado nessa conduta deles.”
Essa articulação, segundo o próprio Bolsonaro, contaria com a colaboração do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), aliado do presidente. Lira, aliás, também passou a criticar o então presidente da Petrobras após o reajuste dos combustíveis.
“O presidente da Petrobras tem que renunciar imediatamente”, escreveu ele, no twitter, na sexta. “Saia!!! Pois sua gestão é um ato de terrorismo corporativo.”
Gestão relâmpago
José Mauro Ferreira foi indicado à presidência da Petrobras pelo próprio governo depois da demissão do general da reserva Joaquim da Silva e Luna. Ferreira foi a segunda opção do governo. Antes dele, o governo indicou o consultor Adriano Pires ao cargo, mas ele desistiu, já que presta serviços a concorrentes da Petrobras.
Em seu discurso de posse, Ferreira agradeceu a Bolsonaro. Prometeu manter na Petrobras a atual política de preços de combustíveis, que atrela o valor da gasolina e diesel vendidos no país aos custos do petróleo no exterior.
Essa política foi definida durante o governo do presidente Michel Temer (MDB), em 2016, e mantida durante o governo Bolsonaro. Gerou lucros recordes à Petrobras. Os números sempre foram anunciados pelo governo como positivos para o país.
Nos últimos meses, porém, Bolsonaro passou a criticar a política. Apesar de nunca ter agido para alterá-la, ele começou a criticar os lucros e as consequências dela para a economia do país. Só em 2022, a gasolina vendida pela Petrobras acumula alta de 31%. Já o diesel, 68% de aumento.
Em maio, Bolsonaro anunciou que queria tirar Ferreira da presidência da estatal e colocar em seu lugar Caio Mário Paes de Andrade, atual secretário especial Desburocratização do Ministério da Economia, comandado por Paulo Guedes. O currículo de Andrade está em análise pela Petrobras para saber se ele tem a experiência necessária para presidir a companhia. Petroleiros já denunciaram que ele não tem.
Confusão pela privatização
Em meio a críticas e trocas na sua presidência, cresce a pressão política pela privatização da Petrobras. Rosangela Buzanelli, funcionária e integrante do conselho de administração da empresa, denunciou esse movimento em entrevista ao Brasil de Fato.
Segundo ela, Bolsonaro e Lira atuam para enfraquecer a estatal e justificar a venda de seu controle. “Isso está orquestrado. Toda essa campanha que o Bolsonaro faz contra a Petrobras é no sentido de culpá-la pelo preço alto, de cooptar a opinião popular para apoiar essa privatização”, explicou ela, ainda neste mês.
Lira já afirmou a líderes partidários que quer votar um projeto de lei para venda de parte da participação da União na estatal, a privatizando como ocorreu com a Eletrobras. Para Lira, o projeto deve ser enviado pelo governo federal ao Congresso para que tenha maior força política.
Fonte: Brasil de Fato | Curitiba (PR), por Vinicius Konchinski