Presidente da Enel Brasil, concessionária privada que administra a rede elétrica em São Paulo, o italiano Nicola Cotugno, apresentou uma desculpa inacreditável para justificar o apagão.
Cinco dias após o temporal que derrubou árvores e causou a interrupção no fornecimento em muitas regiões do Estado, ao menos 200 mil imóveis seguiam sem energia na região metropolitana de São Paulo até às 8h da terça-feira (7).
Em entrevista à Folha de S.Paulo, Cotugno afirma que a empresa foi informada antecipadamente de que "alguma chuva pode vir, e objetivamente, veio um evento extraordinário".
"O vento foi absurdo", justificou o executivo. "As medições dão valores diferentes pela cidade, mas foram perto de 104 km/h (quilômetros por hora). Na escala Saffir-Simpson, ventos de 120 km/h são furacões", emendou.
Cotugno ainda contou que os técnicos da empresa ficaram duas horas "fazendo um passo a passo para entender o que tinha acontecido em toda a cidade", em relação à capital paulista, até concluir "a situação era dramática".
"Tivemos muita dificuldade para o deslocamento, e o problema maior foram as árvores. Normalmente, num evento crítico, caem de 20 a 30 árvores. Nos piores, 50. Nesse, foram cerca de 1.400 árvores", afirmou, ressaltando que dessas, cerca de mil árvores caíram sobre a rede elétrica.
O executivo disse ainda que dos 8 milhões de cliente da Enel, 2,1 milhões tiveram problemas, sendo que para 960 mil clientes os reparos foram feitos em 24 horas.
Cotugno ainda afirmou que a empresa melhorou "o serviço geral na normalidade do dia a dia", mesmo com o corte de 35% dos funcionários desde 2019.
"O número que foi citado [de demissões] é um número geral, onde estão administrativos, todas as pessoas que temos na empresa. Não são pessoas de campo, especialistas. Essa parte da empresa ficou praticamente igual", disse ele, culpando a AES Eletropaulo, antigo nome da empresa, pelo pouco investimento.
Por fim, o executivo diz que a Enel foi "clara e transparente" com os milhões de consumidores que não conseguiram atendimento pelos canais divulgados pela empresa.
"Nas primeiras horas, o call center congestionou. A gente restabeleceu. Ontem e hoje, tudo começou a funcionar melhor. Usamos muito o aplicativo da Enel. Às vezes, o cliente não conseguia se comunicar, mas a gente, por aplicativo, recebia e registrava as reclamações. A gente foi honesto e transparente quando, no sábado [4], na hora do almoço, admitimos que estávamos com problema, mas que iríamos recuperar [até terça-feira]. A previsão foi humilde, consciente e responsável. O pior é dar uma previsão e não atender aquela previsão", afirmou.
Agora, a empresa terá que prestar esclarecimentos à Secretaria Nacional do Consumidor, do Ministério da Justiça, que deu prazo de 24 horas para a Enel apresentar as justificativas do apagão.
Já o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o prefeito Ricardo Nunes (MDB) estudam uma taxa para enterrar os fios e um possível ressarcimento aos consumidores afetados.
Fonte: Revista Fórum, por Plinio Teodoro