Presidente da Cemig se diz preocupadíssimo com Santo Antônio



Presidente da Cemig se diz preocupadíssimo com Santo Antônio

No último dia 12, o jornal Valor Econômico veiculou a notícia que a Cemig está questionando o pedido de mais recursos que empresa responsável pelas obras da Usina de SNato Antônio fez na semana passada. Há uma semana, os acionistas já haviam feito um aporte emergencial de R$ 860 milhões para que a Santo Antônio Energia (Saesa) saldasse uma dívida junto à Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). A Saesa informou que pediu um novo aporte de R$ 1,14 bilhão aos acionistas para conseguir honrar suas obrigações.

Em entrevista ao Valor, Djalma Bastos de Morais, presidente da Cemig, disse que levanta uma dúvida não em relação ao valor do aporte. “O grande problema é que ainda não temos uma delimitação, que ainda não estamos conseguindo visualizar, de quem é a responsabilidade. Se são é do construtor ou se é dos sócios”, disse ele, que agora diz estar preocupado com a situação da usina.

Há uma semana, 440 dos cerca de 9 mil trabalhadores haviam sido demitidos. Além disso, o consórcio sustenta que greves nos canteiros de obras já provocaram um atraso de 63 dias no cronograma de entrega da energia às distribuidoras. A concessionária defende que não pode ser responsabilizada por esses atrasos e solicitou à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) um novo cronograma para a entrada em operação da usina. Djalma Morais prevê novas paralisações nas obras da usina localizada no Rio Madeira. “O que nos deixa preocupadíssimos, é o risco de as obras pararem”, disse.

A Forluz que, por intervenção da Cemig adquiriu 83% das ações da Andrade Gutierrez (12,4%) na Usina, também pode ser afetada pelo ‘colapso’ na Usina Santo Antônio.

Crise se aprofunda

A crise na Usina Santo Antônio, inadimplente e sob ameaça de não poder vender energia, se agravou nos últimos dias. No último dia 1º, o consórcio paralisou a obra de construção do empreendimento e começou a demitir trabalhadores. Em entrevista ao Portal Exame, o presidente da Santo Antônio Energia, Eduardo de Melo Pinto, disse que as medidas são uma consequência "obrigatória e inevitável" do colapso do projeto.

A Saesa tem ainda dívidas que giram de torno de R$ 700 milhões. A dívida vem, principalmente, da produção de energia abaixo do planejado. A usina teve sua operação comercial antecipada parcialmente em 2012, antes da conclusão das obras, a pedido da própria empresa. Com a permissão, a usina vendeu todo o excedente de energia a clientes do chamado mercado livre, onde fatura mais alto por atender grandes empresas e indústrias. Mas, alegando problemas em suas turbinas, a usina não tem conseguido cumprir os contratos, o que a obriga a comprar energia no mercado de curto prazo, por valor elevado. Multas pesadas por não manter as turbinas funcionando em 95% do tempo aumentaram o rombo.

No final de agosto, a concessionária apresentou uma garantia de cerca de R$ 120 milhões (10% do valor devido pela compra de energia no curto prazo) à Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Mas no último dia 3, a Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ) rejeitou pedido da concessionária para adiar a liquidação da dívida de R$ 594 milhões com a Câmara. Considerada inadimplente, a usina está sob ameaça de desligamento do mercado.

Calvário

O presidente da Santo Antônio disse à Agência Estado que a direção da usina está “vivendo um calvário”, pois não tem dinheiro para assumir a dívida. Para ele, o processo de desligamento do mercado levará o projeto à ruína se não for interrompido. “O nosso orçamento não contempla esse valor. Vamos precisar de aporte dos sócios", disse. Se os executivos vivem um calvário por causa da dívida de Santo Antônio, imagine os eletricitários, que viram o dinheiro da sua aposentadoria ser usado numa aventura de alto risco, sem consulta prévia aos trabalhadores, e agora temem ter que ajudara pagar dívida altíssima.

Risco era evidente
Desde o início do ano, o Sindieletro alerta para os riscos envolvidos na compra de ações da usina, que já enfrentava conflitos ambientais e judiciais. Mas a direção da Cemig, que já detinha 10% das ações da Santo Antônio, usou o voto de minerva para fazer com que a Forluz comprasse, em julho passado, 83% da participação da Andrade Gutierrez em Santo Antônio, passando pro cima do voto contrário dos representantes dos participantes. O Jornal Hoje em Dia destacou, em matéria veiculada na semana passada, que a Cemig ampliou a participação em usina que dá prejuízo, levando “a reboque o fundo de pensão dos empregados da estatal”.

Por tudo isso, representantes dos participantes vão questionar, na próxima reunião do Conselho Deliberativo da Forluz, o negócio pode sair caro para os trabalhadores. Para o coordenador geral do Sindieletro, Jairo Nogueira Filho, o uso de recurso da Forluz para a compra de ações em Santo Antônio foi uma negociação nebulosa, em fim de mandato da diretoria da Cemig. “Prevaleceu a pressão exercida pela Andrade Gutierrez e Cemig que não mediram prejuízos para os trabalhadores”.

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