Porque os trabalhadores e trabalhadoras não suportam mais uma gestão que degrada os processos de trabalho e a saúde da categoria eletricitária. Essa é a melhor resposta para o programa proposto pela gestão Zema na Cemig.
Nunca antes na história da Cemig tivemos tantos afastamentos relacionados à saúde mental de trabalhadores e trabalhadoras. A própria gestão reconhece esse cenário, mas insiste em negar que o modelo de administração implementado é o principal motivo para a situação. De acordo com denúncias, o adoecimento mental ocupa o 1° lugar no ranking dos afastamentos de trabalhadores e trabalhadoras na Cemig. Em 2019, ocupava o 5° lugar.
Não coincidentemente, a partir de 2019, ano em que Romeu Zema assume o governo e indica seu time privatista para conduzir a nossa estatal, as estatísticas sobre saúde mental pioram. Sim, estamos trazendo esta informação para reafirmar que esse modelo de gestão é um erro e que a responsabilidade é de Zema e sua gestão pelos adoecimentos e acidentes de trabalho.
O diretor de Gestão de Pessoas e Serviços Corporativos, Hudson Félix, anunciou, em vídeo intitulado “Direto da Fonte”, que neste 13 de maio será lançado o programa “Energia Mental”. Segundo Félix, “é um novo programa de cuidado de saúde mental da Cemig que foi pensado para atender às nossas características e às nossas necessidades”.
Será mesmo que vão atender às nossas características e necessidades? Algumas delas estavam previstas na pauta de reivindicações da categoria para renovação do Acordo Coletivo de Trabalho 2023 – por exemplo, a garantia do regime híbrido, pauta motivada por uma série de argumentações relacionadas à questão de saúde mental. Aliás, várias reivindicações estavam ligadas à saúde e segurança e foram negadas por essa gestão.
Na sequência, o diretor menciona que o objetivo do programa “não é só prevenir o adoecimento mental, mas também criar um ambiente de segurança psicológica para todos nós”. Acrescenta que irá disponibilizar ajuda aos trabalhadores e trabalhadoras por meio do celular, em contato direto com uma equipe multidisciplinar, com acesso a psicólogos, enfermeiras e médicos, para acolhimento, diagnóstico e tratamento imediato.
Félix afirma ainda que o benefício é gratuito e estará disponível para todos os trabalhadores. Menciona que os transtornos mentais estão cada vez mais comuns em toda a sociedade e que espera que o programa possa melhorar a qualidade de vida e bem-estar para todos os trabalhadores. “Respeito com a vida. Nosso objetivo principal é prevenir acidentes”, fala.
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Com esse modelo de gestão, não tem médico que dê conta!
Como construir um ambiente de segurança psicológica na empresa com tanto assédio moral por parte dos gestores? Vários assédios foram denunciados no canal de denúncia e não foram tratados. Houve denúncias de assédio coletivo feito por diretor da empresa que ficou sem tratamento. E a solução que vocês oferecem para essa grave situação é disponibilizar psicólogo e médico para “tratar” o trabalhador?
Os profissionais da saúde são fundamentais para o acompanhamento e preservação da saúde. Porém, se não mudarmos essa gestão, não tem médico, enfermeira ou psicóloga que dará conta de melhorar esse contexto. Só faltou pedir para a categoria agradecer o serviço gratuito!
Hudson Félix, ouça os trabalhadores e trabalhadoras da Cemig! Não há ser humano que consiga manter a saúde mental com uma gestão tão agressiva e violenta como essa. A sobrecarga no trabalho, com extensão da jornada, desrespeito ao descanso semanal remunerado e exigência incoerente de aumento da produtividade são as maiores demandas advindas da categoria. O impasse sobre o home office, os ataques à Cemig Saúde e o problema gerado para quem migrou para o plano premium também são questões que adoecem a categoria.
E não precisamos nem citar o horror que é o tratamento da pauta trabalhista nas negociações coletivas. Está tudo judicializado, PLR’s e ACT, por intransigência dessa gestão. Quem é que consegue conviver com isso?
Ofertem profissionais da saúde, sim. Mas também paguem as PLR’s julgadas pelo Tribunal e acatem a proposta de ACT realizada durante mediação pela Superintendência Regional do Trabalho. Resolvam os demais problemas trabalhistas e parem de discriminar técnicos e outros profissionais da representação do Sindieletro.
Tratem a causa antes que a consequência se torne adoecimento e morte
Não poderíamos encerrar essa matéria sem discorrer sobre o cenário macabro neste contexto: as mortes de trabalhadores decorrentes do descaso dessa gestão com a saúde e a segurança da categoria. Os dois óbitos mais emblemáticos ocorreram no mês de julho de 2023. Vimerson tirou a própria vida e colegas de trabalho relataram pressões e assédios sofridos no ambiente de trabalho.
No dia 4 de junho, falece Gabriel Luciano, com apenas 27 anos de idade, vítima de choque elétrico. E o que a gestão Zema na Cemig faz? Mantém a política de pressão por produtividade e fecha o Laboratório de Ensaios de Alta Tensão e Equipamentos de Proteção (LEATEP), responsável por monitorar e controlar as condições de isolamento dos equipamentos individuais, coletivos e equipamentos instalados na frota de veículos (os testes e ensaios desses equipamentos são fundamentais para garantir segurança aos trabalhadores em atividades no setor elétrico). Além disso, a gestão adota outras medidas que vão na contramão da garantia da saúde e segurança.
A morte do nosso companheiro Gabriel Luciano aparentemente não serviu de exemplo para o presidente Reynaldo Passanezi e sua turma repensarem a gestão de saúde e segurança na Cemig, seja com quadro próprio ou terceirizado.
Será que disponibilizar apoio psicológico posterior resolve questões estruturais? Será que não é melhor trabalhar no cerne dos problemas da Cemig em vez de tentar maquiar as consequências depois? Não somos contra o suporte psicológico para os trabalhadores; somos a favor de escolhas conscienciosas e eficazes para prevenir o adoecimento dos trabalhadores, em primeiro lugar. Essa, sim, seria uma decisão verdadeira em prol da saúde mental dos eletricitários.