Não tenho a ilusão de ver os meus ideais triunfarem neste mundo de indelicadezas e absurdos. Não tenho ilusões, entretanto luto.
Se não se pode consertar o mundo, pode-se mudá-lo. Se não se pode mudar o mundo, pode-se melhorá-lo. Se não se pode melhorar o mundo, pode-se melhorar a si mesmo. Se nada disso for possível, pode-se ao menos tentar. Tentar já é mais que não tentar, sendo, por si só, uma pequena vitória.
São as pequenas vitórias que têm tornado o mundo possível. Para todos, embora resultem do esforço de poucos. Impedir alguma injustiça é uma pequena vitória. Colaborar para alguma mudança é uma pequena vitória. Evitar um mal maior é uma pequena vitória. Respeitar e fazer‑se respeitar são pequenas vitórias. Agir conforme os valores nos quais se acredita é uma pequena vitória, e pode ser a maior delas.
Minha luta é coletiva. Minha responsabilidade, entretanto, é individual. Meu compromisso maior é comigo mesma: com meus próprios valores.
Meus valores de respeito à vida não me permitem ignorar o fato de que todos os dias indivíduos morrem e se acidentam a serviço da empresa em que confortavelmente trabalho. Meus valores de justiça social não me permitem aceitar que muito dinheiro tem sido dividido entre poucos, que no mundo nada criaram e ao mundo nada legarão. Meus valores de generosidade não me permitem aceitar que um serviço essencial à sobrevivência humana seja prestado com cada vez menos qualidade. Meus valores de respeito à dignidade humana não me permitem ficar indiferente sabendo que há colegas e ex-colegas sendo prejudicados; eu me importo, ainda que não seja comigo. Meus valores de solidariedade não me permitem deixar que poucos lutem, sem a minha colaboração, por uma causa que é de todos.
Por isso eu participo desta e de outras lutas. Participo porque, para mim, não existe outra opção possível que não seja fazer o bem. E fazer o bem é, também e sobretudo, não se omitir.
Para que o mal triunfe, basta que as
pessoas de bem permaneçam inertes.
(Edmund Burke)