Chefe de um dos poderes da República, o presidente do Congresso, Renan Calheiros, agiu com rapidez e devolveu os recursos de um voo ao Recife, que não tinha relação com sua atividade parlamentar; enquanto isso, o chefe de outro poder, Joaquim Barbosa, não se sente obrigado a prestar contas à sociedade; embora esteja recebendo 11 diárias durante as férias, ele apenas divulga, alguns dias depois, uma agenda com compromissos de menor relevância; falta de transparência e irredutibilidade não combinam com alguém que posa de paladino da ética e é cogitado como eventual candidato à presidência da República
Quando o presidente do Congresso, Renan Calheiros, voou em uma aeronave da FAB com objetivos que não tinham relação com sua atividade parlamentar – um tratamento de implante capilar –, o pedido de desculpas dele pelo erro se deu na forma da devolução, no final do ano passado, da quantia de R$ 27.390,25 aos cofres da União.
Na ocasião do voo, em 18 de dezembro, a ida a Recife, partindo de Brasília, não constava na agenda de Renan. Nos registros da FAB, a viagem foi justificada como "serviço". A assessoria de imprensa do Senado informou, então, que caso a Força Aérea Brasileira considerasse o uso do jato irregular, o senador arcaria com os gastos correspondentes, com base em cálculo feito pela própria FAB. Foi o que ocorreu.
Na quarta-feira 15, uma denúncia do jornalista Felipe Recondo, de O Estado de S.Paulo, envolvendo o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, ressaltou a diferença de comportamento entre dois chefes de poderes da República.
Para viajar à Europa em seu período de férias, Barbosa terá 11 diárias pagas pelo STF, que somam R$ 14.142,60. Flagrado, nem se desculpou muito menos fez menção de ressarcir os cofres públicos. Apenas divulgou sua agenda, três dias depois, com compromissos que parecem ter sido montados para justificar as diárias obtidas nas férias.
A assessoria de imprensa do Supremo sustenta que Barbosa terá compromissos oficiais, com duas palestras em Paris e em Londres, e encontros com ministros europeus entre os dias das apresentações – marcadas para 24 e 29 de janeiro. Nos outros dias, foram divulgados compromissos de menor relevância, como, por exemplo, a visita a uma biblioteca.
No caso de Renan, o não registro de um compromisso em sua agenda oficial levou todos os principais jornais e portais de notícias brasileiros a apontarem a irregularidade. A verba foi devolvida.
No tour europeu de Barbosa, a falta de transparência, antes, e a persistência no erro, agora, merecem um espaço incomparavelmente menor na mídia tradicional. Mas a atitude de buscar recursos públicos em plenas férias não combina em nada com a pose de paladino da ética que o presidente do STF, potencial presidenciável, gosta de ostentar.